J. K. Rowling

Transcrição completa :: Richard & Judy

JK Rowling esteve no dia 26/06 ao vivo no programa inglês Richard & Judy. Foi um bate papo descontraído entre eles o que resultou em uma enorme tradução. Para ler todo a conversa traduzida, clique aqui.

Vídeo da entrevista postado no dia 26/06.
Obrigado a Helena (Bere), Samantha (Sammy) e Patrícia pela tradução.

Quem quiser fazer parte da equipe de Tradutores Potterish, clique aqui. Lembrando que precisa de tempo disponível, inglês fluente para leitura e escrita.Nota da tradução: essa entrevista aconteceu num clima de bate-papo super descontraído, por isso em diversos momentos parece confusa. Eles falam juntos e se interrompem diversas vezes e fazem muitos gestos, mas acho que a idéia geral ficou bem clara. Esperamos que gostem!

JK Rowling com Richard & Judy – Transcrição

Richard (R): Agora, em algum momento nos últimos dez anos mais ou menos, JK Rowling tornou-se sorrateiramente – ao que tudo indica – mais rica do que a rainha. Será que a mulher que criou Harry Potter agora está na posição de dizer, “acabem com a cabeça dele”? E como se tornar uma das pessoas mais ricas do mundo afetou alguém que há dez anos atrás era apenas uma mãe que recebia só £70 (70 libras) por semana em benefícios? Bem, nós vamos descobrir isso agora porque JK Rowling, ou Jô como gosta de ser chamada, nos dará uma de suas incríveis e raras entrevistas, e ao vivo! Mas primeiro: os frutos de sua extraordinária imaginação.

[Passa o trailer de “Cálice de Fogo”]

Richard: E Jo está conosco agora. Eu amo esse trailer porque resume para mim o que é realmente bom sobre a natureza de seus livros. Eu quero dizer que nós [Richard & Judy] acabamos de deixar isso tudo, este vale da dor e aflição que acontece com os adolescentes…
JK Rowling (JK): [Risos] Oh, certo…
R: Você está para chegar lá, não é?
JK: Sim, é algo que está por vir.
R: É tão ruim quanto você pensa que será. Erm, mas o que é encantador sobre a seqüência dos livros é que você vê Harry se tornar um adolescente nervoso e ao redor dele acontecem essas coisas todas de adolescentes. Você redigiu perfeitamente isso tudo, e você não tem filhos adolescentes. Quero dizer, isso é baseado apenas em amigos ou em conversas com amigos que os têm?
JK: Bem, eu ensinei jovens por um tempo…
Richard: Claro, claro que sim.
JK: Era o grupo de idade que eu mais gostava de ensinar, de fato. Assim eu penso que eu peguei um pouco disso, e eu me lembro de como todos éramos nervosos quando éramos jovens. Nós não éramos…
Judy (J): Absolutamente.
JK: Minha irmã vai ver isso, mas ela era, ela era muito nervosa e eu tirei isso dela também.
J: É mais velha do que você ou mais nova?
JK: Não, é mais nova, dois anos mais nova do que eu.
J: Certo. Eu quero dizer, o que eu quero pro final – para acontecer no fim dessa trama toda de Harry Potter. Eu quero que Harry se case com Gina, (Gina Weasley) e eu quero que Rony se case com Hermione. Tudo isso e também…não, não quero. Sim, eu quero. Eu quero Rony com Hermione, isso é bom. E eu vou ficar decepcionada se não acontecer no último capítulo, que neste momento naturalmente, deve estar no seu cofre. Estou certa?
JK: O último, o capítulo final está bem escondido embora esteja sofrendo ligeiras mudanças agora…
J: Está?
JK: Sim, e dei uma aliviada em um personagem.
R: Oh, sério?
JK: Sim.
J: Quero dizer que você é, eu apenas…
J.K: Mas eu tenho que dizer que dois morrem e eu não pretendia matá-los.
J: Oh não, duas pessoas muito amadas?
J.K: Bem você sabe, tem que se pagar um preço.
R: Grande?
J.K: Nós estamos lidando com o mal puro! Assim ele não quer os coadjuvantes, certo? Vai direto às pessoas que importam… Ou eu vou.
R: Nós não ligamos para os coadjuvantes. Você contou para seu marido, obviamente. Você confia nele para tudo, você disse isso.
JK: Bem, não tudo. Isso seria imprudente.
R: Bem, sim, vamos ser honestos: isso seria estúpido. Mas você disse para ele os que serão mortos . Aparentemente ele disse “Não. Oh, esse não”.
JK: É, ele disse sobre um deles.
R: Escute, todos os jornais que proporcionaram esta entrevista hoje querem claramente lhe perguntar, “você matará Harry Potter?” É uma pergunta ridícula porque você vai dizer sim ou não? Eu penso que obviamente não. Você não pode responder isso mas já tentou fazer um pouco mais dano do que o que ele já sofreu – quero dizer da mesma forma que…
JK: É, ele já sofreu bastante, isto significa que…
J: Ele sofreu, ele tem sido bem transtornado…
J.K: Como eu poderia? Todos os anos da adolescência e da infância ele salvou o mundo bruxo. E ninguém acredita nele… Ele gasta a vida dele inteira salvando o mundo, e então no período letivo seguinte a escola o satiriza.
J: Ele é Harry Potter, salvou há pouco a escola inteira.
JK: E todo o mundo pensa que ele só está um pouco chateado.
R: Você sabe como Doyle [Sir Arthur Conan Doyle, criador do personagem] há pouco se aborreceu com Sherlock Holmes e o empurrou do precipício?
JK: Sim.
R: Eu não estou perguntando se você fez o mesmo, obviamente, mas você ficou tentada a assassiná-lo por causa do enorme…
JK: Não, eu nunca fiquei tentada a exterminá-lo antes do final do Livro 7 porque eu sempre planejei sete livros; isso é o que eu quero – quero terminar em sete livros.
J: Sim.
JK: Mas eu entendo que um autor pense “eu vou exterminá-lo completamente porque então não poderão haver seqüências escritas por outras pessoas. Assim, terminará comigo”.
R: Nunca pensei nisso…
J.K: Bem eu quero dizer, Agatha Christie fez isso com Poirot, não fez? Ela quis acabar com ele ela mesma.
J: Então, você diz que entende isso completamente, mas você não vai fazer a mesma coisa?
J.K: Não, eu não vou fazer… Eu não quero a correspondência de ódio, mais do que qualquer outra coisa.
J: Absolutamente. Quando você começou, quando teve a primeira idéia sobre Harry, o que começou exatamente? Era a idéia da magia ou o personagem ou o internato? Quando você era jovem, você era uma leitora ávida de grandes histórias de internato?
J.K: Eu li alguns quando eu era mais jovem…
J: Angela do Brasil?
J.K: Eu nunca li a Angela do Brasil. Eu li Torres de Mallory e eles realmente não prendem a leitura, não é?
J: Não.
J.K: Quando eu tinha seis anos que eu realmente gostava deles. Mas, eu penso que o Harry e magia vieram juntos, então a idéia essencial era um menino que era um bruxo mas não sabia – essa era a premissa original. Então eu trabalhei a partir disso e foi daí que veio toda a história do seu passado. E existe MUITA história do seu passado. De fato, agora que eu estou no livro 7, eu percebo QUANTA coisa do passado existe porque tem muito que explicar e muito que descobrir.
R: Mas você deve ter tido que inventar a história de trás pra frente porque você não poderia ter pensado em tudo isso… De uma vez…
J.K: Oh, não, você não pode. Eu tenho, eu não sei quantos personagens eu tenho em jogo. Algo ridículo… Algo em torno de 200.
R: Mas você alguma vez pensou “Oh, por que eu escrevi aquilo no livro 2? Isso me ferrou agora. Eu não posso escrever isso e isso agora” enquanto escrevia os livros seguintes?
JK: Sim. Eu não acho que eu já fiz isso em alguma coisa importante. Mas, certamente, algumas vezes eu bati em um obstáculo e pensei “Oh, eu me enclausurei agora. Se eu pelo tivesse deixado uma ponta antes, eu seria capaz de passar mais facilmente por esse buraco”. E eu sempre achei um jeito… É uma trama complicada.
R: O último livro está terminado agora; o último capítulo, como você disse, está sob sua tutela?
JK: Não, o último livro não está pronto. Mas estou trabalhando nele agora.
R: Mas você já está no final?
JK: Eu escrevi o último capítulo em mais ou menos 1990 – não, espera… Eu escrevi o último capitulo em torno de 1990.
J: Sério? Então você sabia exatamente o que ia acontecer com a série?
JK: Bem, sim. Praticamente.
J: Nossa!
JK: Sim, eu fui ralhada por causa disso por algumas pessoas – creio que elas me acharam arrogante escrever o final da minha série de sete livros quando eu não tinha uma editora e ninguém ouvira falar de mim. Mas eu quero dizer que quando você não tem nada e ninguém te conhece, você pode fazer o que quiser… Quem se importa?
J: Certamente, e a outra coisa antes de perguntarmos como você começou a escrever é o que nos assombra a todos, especialmente nosso filho, que é um mega fã de Harry Potter, sobre quando as coisas começaram a ficar mais sombrias nos livros. Eu acho que começou no segundo, com os Sangue-ruim… Mas ficou realmente sombrio no livro 3 com os Dementadores e tudo o mais. Isso foi algo que você planejou ou apenas se desenvolveu assim?
JK: Foi algo que eu planejei, porque conforme o Harry foi crescendo, essas coisas aconteciam paralelamente – ele está ficando mais velho e mais habilidoso como um bruxo e simultaneamente Voldemort está ficando mais poderoso e retornando para uma forma física porque, claro, no primeiro livro ele não é nem ao menos uma entidade física. Mas eu sempre digo quando as pessoas me perguntam isso, e eu concordo que os livros ficaram mais sombrios, a cena onde o Voldemort aparece na traseira da cabeça do Quirrell, eu ainda acho que essa é uma das coisas mais arrepiantes que eu já escrevi. Eu realmente acho. E também a imagem da figura encapuzada bebendo o sangue do unicórnio e rastejando pelo chão, que foi feita muito bem no filme – “A Pedra Filosofal” – eu acho que essas são imagens muito macabras. Então eu não acho que você pode dizer que no primeiro livro eu não estendi minha barraca, na verdade. Eu estava dizendo que este é um mundo onde coisas muito desagradáveis podem acontecer.
J: Sim. Mas o que eu quero dizer é que eu vi alguns paralelos desde o livro 2 com o racismo, apartheid e genocídio e todo esse tipo de coisa.
JK: Sim, claro, isso é muito consciente. Harry está entrando nesse mundo, que muitos de nós podem imaginar como maravilhoso – eu tenho uma varinha mágica e tudo será fabuloso. O ponto é que natureza humana é natureza humana, não importa que poderes especiais você tenha, então você atravessa – você pode dizer através do vidro. Então ele entra nesse mundo incrível e ele é incrível. Mas ele imediatamente encontra os mesmos problemas que ele pensa que deixou para trás, mas de uma forma mais extravagante.
R: Você pode correr, mas não pode se esconder.
JK: É, isso.
R: Você disse que tinha um plano para sete livros desde a palavra “Ir” antes de você sequer ter uma editora. E você deve ter gritado de prazer quando A Pedra Filosofal foi publicado. Você sabe…
JK: Sim, inacreditável.
R: Que prazer e otimismo.
JK: Você praticamente pode dizer que nada se compara, na verdade. É um testamento da quantidade de euforia que foi.
R: Bem, quando a euforia veio de algo…
JK: Puro terror.
R: Em que ponto dos livros você pensou “Espere ai, isso não é apenas um ‘mais vendido’, isso não é apenas uma série legal que eu estou gostando e os leitores também – isso não tem precedente”. É dito que se você colocar todos os livros [já impressos do Harry Potter] em uma grande linha, eles dariam a volta ao mundo, sobre a linha do Equador, quase uma vez e meia, e nós ainda não terminamos. Quando foi que você acordou e pensou “isso é histórico”? Porque isso é histórico, quero dizer, você entrará na história da editoria pelos próximos séculos.
JK: Eu sinceramente não penso nisso nesses termos. Eu diria que os primeiros três livros eu estava em um estado real de negação. Eu realmente vivia em estado de negação.
J: Sobre a fama?
JK: …por um longo tempo. É, totalmente. E eu acho que é daí que vem minha reputação de ser algo como…
R: Reclusa.
[JK coloca a mão na frente do rosto e faz uma expressão facial de metida]
JK: …veio porque eu era como um coelho apanhado por faróis. E a única forma que eu poderia lidar com isso era “Ah, não foi realmente tão importante”, mas as coisas continuavam acontecendo, eles começam a pisar em você e você pega um papel e há referências casuais a Harry Potter. Essa é a coisa mais bizarra e ela permeia toda a história e se torna – esse é o maior indicativo pra mim do quão grande ela se tornou, mais do que qualquer outra coisa. Eu me lembro de que teve uma fase onde eu não podia comprar jornal porque estava se tornando um pouco estranho para mim. E normalmente eu devoro jornais e depois teve Wimbledon – só alguns anos atrás – e eu pensei “É seguro ler Wimbledon, deixe de ser tão, você sabe, supere-se”. Então eu peguei esse jornal e eu viro para uma matéria sobre a partida da Venus Williams e eles disseram “eu vi uma foto de Harry Potter me olhando” e eles estavam falando sobre balaços, você sabe, as bolas de Quadribol. , você sabe, as bolas de Quadribol. Eles estavam dizendo que o saque dela é tão poderoso que compara-lo aos balaços não é exagero. Mas isso foi bem legal – coisas desse gênero são maravilhosas.
R: São coisas da fama e esse é o tipo de coisa que está se incorporando aos diálogos normais e tal e ao que se chama de conversa moderna e bacana. E isso não tem só a ver com a leitura do último livro, é algo continuo com você agora. E a riqueza? Agora eu não quero ser puritano sobre isso porque é apenas o que é. Mas você está inacreditavelmente rica além dos sonhos de atores, realmente. Como isso mudou a vida pra você?
JK: Hmm, bem, é ótimo, francamente.
[R & JK riem]
R: Obrigado por dizer isso.
JK: Quero dizer, não é para quebrar os violinos ou qualquer coisa, mas se você passou alguns anos onde as coisas foram bem duras, e elas foram bem duras, e não há muito que romantizar, mas é colocado em meia sentença: “Oh ela começou num sótão”. E ocasionalmente eu pensava “Bem, tente isso, amiga. Você vai lá e vê.” Não era um golpe de marketing, era a minha vida. E naquele momento eu não entendia que haveria uma solução incrível. Eu pensei que seria a vida daqui a vinte anos.
R: Mas alguma vez você se sentiu culpada por causa da quantidade de dinheiro que você recebeu enquanto…
JK: Eu senti! Eu senti completamente porque chegou ao ponto onde… Porque inicialmente as pessoas estavam fazendo reportagens, e eles ainda as fazem freqüentemente dizendo muito mais do eu realmente ganhei e eu não estou fingindo que não fiquei muito rica porque eu fiquei. (todos riem) Mas às vezes eles mostram quantias que certamente a minha conta não reconhece. Mas, nos últimos anos, eles diziam que eu virei milionária, mas eu não estava nem perto de ser uma milionária. Então é estranho e fascinante quando você está acostumado a contar cada centavo.
R: Você ganhava 70 merréis por semana.
JK: Sim, era isso mesmo.
J: Então o que acontecia com você era que você estava lá sendo a mesma pessoa que sempre foi. Escrevendo esse livro que você pensava em criar por anos. E de repente ele apareceu, esse mesmo livro. E de repente o próximo livro, e depois você de repente percebeu que essa pessoa – você, na verdade – estava tendo uma vida própria, que não era nem um pouco nova. E você estava completamente…
JK: Acho que é exatamente isso e acho que você senta e pensa “mas eu ainda sou a mesma idiota que eu era ontem”, e de repente as pessoas têm interesse no que eu tenho a dizer. E minha resposta para isso é que eu me calei também porque de repente eu sentia essa luz brilhando em mim, e foi um tempo de real tumulto dentro de mim, quando eu fiquei sujeita a esse tipo de exame porque eu me sentia leal à pessoa que eu era ontem. E eu não quero dizer “Oh, foi tão terrível” porque realmente não é terrível. Nós estaríamos bem e eu estaria ensinando e minha filha ainda diria, e ela me disse ontem, de fato, você sabe, “nós somos felizes”. Então eu não queria sentar e dizer “Oh isso é terrível. Oh agora é fabuloso, querida, agora nós temos algum dinheiro”.
R: É.
J: E a sua filha – seus dois mais novos ainda são muito pequenos – mas Jessica que esteve com você desde o começo, realmente. Ela se adaptou bem?
JK: Ela é fenomenal. E não foi sempre fácil pra ela porque, bem, você pode imaginar, com a mãe dela sendo JK Rowling. Em certo ponto eu lembro que ela ficava, metaforicamente falando, contra a grade da escola: [mostra os punhos] “Nos diga o título do próximo livro”!
R: Mesmo?
JK: Sim, não é terrivelmente fácil.
J: Prensada nas grades da escola?
JK: Por outras crianças, você sabe, tentando arrancar os títulos dela. Então ela foi maravilhosa, ela foi muito legal.
R: Mas sobre, isso não tem muito a ver com o dinheiro. Bem, pode ter sido na verdade, mas certamente sobre a fama. Antes de você conhecer seu amável marido…
JK: Ele é um marido amável.
R: Ele é um tipo confiável, e com um tipo de aparência de cantor pop ou de rock. [risadas]
[Aparece uma foto de Jô e de seu marido, Neil.]
JK: Ai está ele!
R: Antes disso – entre o relacionamento que conduziu à sua filha encantadora e ele, teve esse período onde você descobriu essa imensa riqueza e sucesso e você disse que namorar era muito complicado, muito difícil. Era por que você esperava que os homens te procurassem por ser quem você era?
JK: Não era tanto isso. Para ser completamente honesta com você, namorar é complicado se você é uma mãe solteira. É isso. E o resto era um fator que complicava vagamente. Mas a partir do momento que você arruma uma babá fica melhor – é a realidade da vida. Eu não tive uma babá por um bom tempo. Eu não tinha organizado bem os cuidados do bebê porque eu acho que eu era apenas, de novo, em negação quando eu precisei disso. E depois veio uma fase onde eu claramente precisava de ajuda – eu não podia cobrir todas as minhas obrigações profissionais mesmo que eu tentasse mantê-las no mínimo possível.
R: Você queria dizer “Eu consigo, eu posso lidar com isso”.
JK: É, eu fiz, é exatamente da minha personalidade fingir que eu posso lidar com tudo e não pedir ajuda – até que eu me quebre um pouco.
J: Então olhando para onde você está agora, eu quero dizer pessoalmente, profissionalmente e todo o resto, você está em um bom momento, batendo na madeira [para isolar]; se é que há alguma madeira para se bater. Por que você está bem feliz – você tem uma família encantadora.
JK: Eu sou realmente sortuda. E eu penso nisso todo dia, eu juro. Todo dia eu penso no quão sortuda eu sou.
R: Voltando ao tema constante – nós vamos para um intervalo em alguns minutos, mas você estará de volta e nós temos algumas crianças com perguntas a fazer – mas, como você disse, o tema dos livros é a morte, certo?
JK: Sim, principalmente.
R: Principalmente. É um tema incrivelmente poderoso. E você escreveu o primeiro 45 dias depois da morte da sua mãe, e vocês eram muito próximas. Você percebeu que a morte era um tema poderoso antes da morte dela ou isso te deu a noção da perda?
JK: Definitivamente isso me mudou. Inicialmente, no primeiro rascunho, eu estava escrevendo o Harry seis meses antes de ela morrer. E, uhm, no primeiro rascunho eu realmente matei os pais dele de uma forma irreverente. E então mamãe morreu. E eu apenas não podia, não conseguia acabar com os pais dele de uma forma irreverente – eu não conseguia. Não agora que eu sabia a dor de perder uma mãe.
J: Então é por isso que os pais do Harry mantêm essa presença…
JK: Eles realmente se mantêm presentes.
J: Nos… Nas… Nas fotografias.
R: E no espelho, é claro.
JK: E no espelho… Sim.

R: E quando você escreveu isso, eu não ficaria surpreso se você dissesse que derramou algumas lágrimas quando escreveu algumas seqüências onde o Harry senta no espelho e vê o reflexo dos seus pais.
JK: Esse é o meu capítulo favorito no primeiro livro.
R: É um capítulo encantador. Realmente encantador.
JK: É um dos meus capítulos favoritos na série.
J: O que tem de tão calmante nos livros porque eles são, quero dizer, você sabe, eles mexem diretamente com o mal e a morte. Você sempre parece deixar uma armadilha em algum lugar mesmo que eles estejam dentro. Eu adoro os monitores e os antigos monitores e os professores e seus amiguinhos. Eu quero dizer, só para terminar essa passagem, mas eu sempre amei – qual o nome dele? Quem era aquele que estava sempre ajeitando os cachos do seu cabelo?
JK: Gilderoy?
R: Exatamente.
J: Eu adoro aquilo, a idéia dele durante a noite pegando seus bobs [aquelas rodinhas de fazer cachos no cabelo] e os colocando e tudo o mais. Então há uma grande parcela de humor no livro também. Presumivelmente, isso é parte da sua personalidade. Quer dizer…
JK: É, acho que sim, você pode não imaginar exatamente como eu descrevi. Mas sim, eu acho que sim.
R: Certo. Bem, hmm, como você disse, o último capítulo está em um cofre. Você está amarrando o resto do manuscrito, mas este é o último dos livros… Certo? Sete livros, isso é tudo.
JK: Sim, bem eu sempre disse que eu posso fazer um tipo de enciclopédia do mundo para a caridade.
R: OK, mas isso não é a mesma coisa…
JK: Não, absolutamente não. Não é a mesma coisa que a história.
R: Você conseguirá viver sem o Harry?
JK: Bem, eu vou ter que aprender. Será bem difícil.
R: Porque não estender para 9 então? Quero dizer, realmente, porque se prender aos sete? É muita coisa para se pedir de você?
JK: Porque eu acho que você deve acabar quando você…
R: … acabou.
JK: Sim. Você tem. Eu admiro as pessoas que saem de cena quando os outros querem mais. Você sabe, é isso o que você deve fazer.
R: Também me contaram… Bem, eu na verdade li isso na Tattler. Talvez tenha sido um comentário descuidado que você fez, mas você escreveu, já terminou de escrever um outro livro infantil, para crianças mais novas.
JK: Oh sim. Não está pronto, mas está bem adiantado.
R: E há quando tempo ele está na sua cabeça?
JK: Não tanto quanto Harry, mas há poucos anos.
R: E você está feliz com ele?
JK: Sim, eu gosto muito dele. É para crianças mais novas, tipo um conto de fadas – é um livro muito menor. Então ele não é… Deve ser provavelmente a melhor coisa para lançar depois de Harry, não uma nova história enorme.
R: Esse é o futuro então? Quero dizer, você pode se ver tendo uma outra idéia genial como Harry Potter e leva-la adiante?
JK: Sim, seu gostasse o bastante da idéia, eu definitivamente a levaria, mas eu não acho que eu serei capaz de fazer nada como Harry de novo. Eu acho que uma pessoa só tem um Harry na vida.
J: Bem, eu acho que a maioria das pessoas esperará que em algum momento da sua vida você retome o Harry de algum jeito, forma ou corpo… Que haverá algo. Porque são gerações.
JK: [rindo] A crise de meia idade de Harry Potter.
J: Sim.
R: Se ele sobreviver para isso.
JK: Certo.
J: Agora um pouco de estatística: mais pessoas do que as populações unidas da Grã-bretanha, França, Alemanha e Itália, mais pessoas, compraram um livro do Harry Potter. É um sucesso esmagador de literatura. Nós estamos extremamente felizes de ter a JK Rowling no nosso programa hoje… A criadora da mais mágica e também certamente – pessoas saudáveis e responsável, por favor, percebam – mais perigosa escola na história da educação britânica, Hogwarts.

[Passa uma cena de “Cálice de fogo” – a cena da doninha]

J: E as crianças estão aqui, a Jô está aqui. Mas antes de nós começarmos, eu quero dizer que é verdade sobre Hogwarts. É assustador – como eles conseguem sobreviver lá?
JK: É fantástico!
J: Qual era a outra coisa que eu ia dizer? Ah sim, Draco! Draco – o rapaz que interpreta o Draco Malfoy é muito admirado pelas…
JK: Por todo mundo.
J: Por todo mundo. Alguma de vocês meninas admira o Draco nos filmes?
JK: Elas não vão nos contar, certamente.
J: Vocês não vão me dizer, vão? Não? OK, certo.
R: Onde o Luke está sentado? Luke? Luke! Quantos anos você tem, Luke?
Luke: Oito.
R: Oito. Você leu todos os livros?
Luke: Hm… Na verdade… Não.
JK: [rindo] “Eu não sei quem é Harry Potter.”
R: Não todos.
J: Então você tem uma boa pergunta para a Jô, qual é ela, Luke?
Luke: Se você fosse um personagem dos seus livros, quem você seria?
JK: Provavelmente a Hermione, porque ela foi um pouco baseada em mim quando eu era jovem. Eu era um pouco irritante como ela, então…
J: Você era uma menina dos livros?
JK: Sim, eu era. E, você sabe, esse tipo de pessoa chata que no fundo é muito insegura. Bem eu – Hermione é uma combinação, eu acho, de minha irmã comigo.
J: Certo.
JK: Certo.
J: Então você era tipo… Aquela pessoa que tende a colocar os outros no lugar deles com citações e coisas que você aprendeu.
JK: Bem eu não sei se eu ia tão longe. Mas eu era esforçada, eu era trabalhadora.
R: E ela os cobriria com um gancho de esquerda.
JK: Ela era mais de proteger os elfos domésticos, ela era mais política, ela era um pouco mais descolada e um pouco mais histérica sobre…
J: Oh, que triste!
R: Você era monitora?
JK: Eu era monitora.
R: Você era monitora.
JK: Isso era como ser escolhida para ir para um reformatório se você estudava na minha escola. Não era algo como um louvor enorme para se alardear a respeito.
J: Desculpe escola, se você estiver assistindo.
JK: Oh sim, desculpa.
J: Agora qual a sua personagem favorita, Luke?
Luke: Harry Potter.
J: Definitivamente Harry, certo?
JK: Oh, isso é interessante, porque não são muitas pessoas que gostam mais do Harry.
J: sério?
JK: Não, de fato é uma porcentagem pequena. Eu lembro de ter visto uma enquête em um site não oficial de fãs, algo como 2% das pessoas prefere o Harry.
J: Eu amo o Harry!
JK: Não, o Rony é muito mais popular.
R: Certo, onde está a Ella? Ella, quantos anos você tem, por favor?
Ella: Tenho treze.
R: Certo, eu não vou perguntar se você leu todos os livros, mas me disseram que você o fez. Você quer perguntar sobre os bichos papões?
Ella: Sim.
R: Só nos lembre do que é um bicho-papão.
Ella: Você deve dizer um feitiço para… Um armário, e então sai de lá a coisa que você mais teme.
JK: Certo.
R: Certo. Então no meu caso provavelmente seria um monte de aranhas enormes?
Ella: Sim.
R: Ou no caso da Judy devo ser eu. Certo. Bicho-papão.
[risadas]
J: Então, o que você quer perguntar à Jo?
R: Então, qual é a pergunta?
Ella: Eu estava imaginando, se você parasse em frente a um Bicho-papão, o que ele – o que você veria?
JK: Hm, eu veria o que a Sra. Weasley vê na Ordem da Fênix. Ela vê – isso é um pouco medonho – mas ela vê seus filhos mortos.
R: Ai meu Deus!
JK: Eu sei que é um pouco perturbador.
R: Meu Deus, você é sombria, não é?
JK: Desculpe, bem, eu quero dizer que eu penso como qualquer mãe, provavelmente, essa é a pior coisa que você poderia imaginar e é isso que ela vê, quando a guerra está começando e ela sabe que os filhos dela estarão envolvidos…
J: Certo.
JK: …e ela se preocupa com eles.
R: E, e como, eu esqueci desta, como você contra-ataca um bicho-papão? Qual é o contra-feitiço?
JK: Você tem que aprender a rir dele e é difícil rir nesse caso – quer dizer, talvez você nem possa. Outra pessoa a salva dele já que ela não pode, ela não pode conseguir essa imagem.
J: [Para Ella (membro do auditório)] E você ama demais o Hagrid, não ama?
Ella: Sim.
J: Eu amo o Hagrid.
JK: Sim, Hagrid tem um grande número de fãs.
J: É, eu me pergunto se o Hagrid vai ser morto [Jo ri.] É uma vergonha, não é, ela não nos contará, então não há por que perguntar. Quem mais nós temos, George, George Lynch?
George: Sim!
J: É você, George, aí. O que você quer perguntar à Jô, George?
George: Minha pergunta é, ‘Algum personagem é baseado em pessoas que você conhece?’
JK: Eu errei ao dizer que Lockhart foi baseado em alguém que eu conheci.
J: Sério?
JK: Sim e eu tive um número bem irritante de especulações de jornais, já que eles pensaram que era a pessoa errada, eles foram atrás da pessoa errada.
J: É sobre o super vaidoso que estamos falando?
JK: Sim, e eu quase não exagerei acreditem ou não. [Judy ri] Era alguém que eu conheci há muito tempo.
R: Ele era da televisão?
JK: [Ri] Não, há muitos Lockharts por aí então…
J: Eu o amo.
JK: Sim, então foi a única vez que eu sentei e pensei conscientemente que estava botando “x” como um personagem, e eu botei.
R: E você gostava do “x”?
JK: Não, eu simplesmente odiava o “x”, eu acho que dá pra ver isso pelo que faz o Gilderoy Lockhart.
J: Você acha que o “x” sabe?
JK: Não, eu acho que o egoísmo do “x” é tanto que “x” está provavelmente andando por aí dizendo: ‘Nós éramos assim’. [Cruza os dedos, em sinal de proximidade]
[Risos gerais]
JK: ‘Ela queria casar comigo – eu a recusei, acredite.’
R: Devíamos, você conhece Carly Simon? Ela teve um jantar privado de caridade com a pessoa que mais nomeava, e ela lhe contou quem era o personagem de ‘You’re So Vain’, seu primeiro sucesso na música. Você devia fazer a mesma coisa em alguns anos. Você devia dizer: ‘Eu te conto quem…’
JK: Mas eu não quero arruinar a vida do “x”.
J: Não, não…
R: Mas parece isso… Você sabe.
JK: [Risos] Sim, mas eu não quero arruinar a vida dessa pessoa.
R: Ok, foi uma boa pergunta George, e uma boa resposta.
J: Ele é fã do Rony Weasley, não é?
R: Quem é o próximo, Sian?
Kian: Kian.
R: Kian, desculpe. Eu imploro seu perdão. Quantos anos você tem?
Kian: Dez.
R: Qual é a sua pergunta?
Kian: Depois de Harry Potter, o que você vai escrever em seguida?
JK: Bem, eu meio que respondi essa antes da pausa. Eu acho que vou terminar outro livro infantil, mas pra mais novos, crianças um pouco mais novas do que eu tenho ao meu redor.
R: Então você diz que é um livro mais curto?
JK: Muito, muito, muito mais curto.
J: E você ficará triste quando o último livro do Harry sair?
Kian: Sim.
JK: É, eu vou sentir muita falta.
J: Certo, vamos a Elly, não Ella, mas Elly. Olá, Elly. Você tem 13 anos, certo?
Elly: É.
J: O que você queria perguntar à Jo?
Elly: Pra quem você escreveu Harry Potter? Alguém especial te inspirou ou…?
R: Boa pergunta
JK: É, eu queria poder dizer algo a mais em resposta, mas fui eu [Risos]. Era algo que eu realmente queria escrever, quando eu tive a idéia eu pensei que seria bastante divertido escrever e foi.
R: Foi uma idéia que veio a calhar então?
JK: Eu acredito que sim.
R: Então você acordou uma bela manhã…?
JK: Não, eu estava no trem de Manchester para Londres e foi vindo, e veio mais um pouco.
R: Já veio formado ou, completamente pronto?
JK: Foi formando aos poucos, não tudo de uma vez.
R: Sim, é claro que não.
JK: Sim, a idéia essencial veio, então com o tempo, eu pensei em partes e fui adicionando até que eu adquirisse toda a história que pensei no trem. Eu realmente tive muito lá.
J: Eu amo isso, os trocadilhos são ótimos. Gosto de Beco Diagonal. Você não gosta de Beco Diagonal?
JK: Eu amo Beco Diagonal.
J: Certo, Juliet.
R: Espere que estou pensando em uma pergunta mais rápida que…Oh maldição – saiu da minha cabeça, vai você Juliet enquanto eu penso nela.
J: Está certo, Juliet.
Juliet: Você sempre quis ser uma escritora?
JK: Sempre. Sempre literalmente desde que eu soube, que eu percebi, que os livros não apenas, você sabe, pulam do nada e que pessoas fizeram as histórias. Eu sempre quis fazer isso. Eu lembro de quando era bem jovem, copiando palavras sem saber o que elas significavam, então acho que é apenas minha natureza, eu sempre quis fazer isso.
J: Você ama as palavras.
JK: Sim.
J: Você escrevia, quando tinha aproximadamente cinco ou seis anos, pequenas histórias.
JK: Sim.
R: Eu me lembrei daquela pergunta. Você obviamente, por causa da pobreza que você viveu, naquele período inicial, você estava escrevendo sempre em cafés para se manter aquecida, com o bebê dormindo no carrinho. Você ainda escreve em cafés?
JK: Hum, eu não vou dizer onde estou indo, mas…
R: Não, claro que não, mas você ainda vai, e fica agüentando zumbidos, agitação.
JK: É hábito, é tão profundamente normal que eu escrevo melhor assim…
R: Certo, quem é o próximo?
J: Certo, quem não fez uma pergunta, Nathan, Aaron e George? Certo, Aaron, bem depressa – qual é a sua pergunta?
Aaron: Como você inventou as regras de quadribol?
JK: Eu fiz tudo em cerca de meia hora depois de uma briga com o meu então namorado, e eu acho que é daí que vieram os balaços. [Risos]
R: E Nathan?
Nathan: O que te inspirou a fazer animais tão criativos?
JK: Bem, alguns animais eu inventei, como os Explosivins, mas muitos deles existem no folclore e na mitologia e eu só mexi neles um pouco para se ajustarem aos meus próprios objetivos. Hipogrifos não tem muitos por ai se você procurar; eu inventei o meu próprio… Você sabe.
J: E George, você é o único que sobrou, mas rapidamente diga-nos o seu personagem favorito.
George: Meu personagem favorito é a Hermione.
J: Hermione?
JK: Não! Você é o primeiro garoto que eu conheço que considera Hermione como personagem favorita.
R & J: Sério?
JK: Mas você gostava dela antes de Emma Watson começar a fazer esse personagem?
[George faz com que não com a cabeça]
JK: Imaginei – muitas pessoas gostam de Emma Watson fazendo ela.
R: ‘Harry Potter e o Enigma do Príncipe’ está a venda agora em livro de capa mole. Nós estamos tão alegres porque você veio [para Jo]. Muito Obrigada. Foi ótimo conversar com você.
JK: Muito Obrigada. [Aplausos Agitados]
R: Vejo vocês amanhã pessoal. Tchau Tchau.
J: Tchau Tchau. Obrigada Crianças.

Apartheid significa “vida separada” e não tem tradução no português. Ela é a palavra africânder para designar o regime ditatorial adotado legalmente em 1948 na África do Sul, segundo o qual os brancos detinham o poder e os povos restantes eram obrigados a viver separadamente, de acordo com regras que os impediam de ser verdadeiros cidadãos. (Fonte: Wikipédia)

Traduzido por Helena Alves, Samantha Rodrigues e Patricia Abreu
Revisado por Patricia Abreu