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Harry Potter em dobro na Folha

Saíram na Folha Ilustrada duas matérias entituladas Quarto Harry Potter capta dificuldade em discernir “o mal” e Filme dá impulso a vendas de sexto livro sobre Potter. A primeira fala da incerteza sobre quem está realmente do nosso lado:

Mas o filme de Mike Newell vai além dos três primeiros longa-metragens estrelados pelos heróis bruxos. Ele capta o que talvez seja a característica mais marcante da série: a dificuldade de discernir quem é do mal -um mal fundamentalista que vai se adensando no correr de tempos cada vez mais sombrios.

E quem já leu o Enigma do Príncipe, sabe que este assunto é explorado ao extremo no final. A segunda matéria fala do impulso que as vendagens do livro tiveram devido ao lançamento simultâneo com o filme.

Só a Saraiva vendeu 18 mil exemplares em quatro dias. E espera vender 50 mil até o Natal. A Siciliano, que encomendou 60 mil livros à Rocco, viu um terço deles sumirem de suas prateleiras no mesmo período. E a Cultura, cujas expectativas já haviam sido superadas com a edição em inglês, vendeu 2.319 livros só no fim de semana, o que pôs o volume em primeiro lugar entre os infanto-juvenis.

Os dois textos completos encontram-se nos links respectivos acima. É necessário ser assinante do UOL ou da Folha de São Paulo. Mas, quem não for, basta ler os dois, clicando aqui.

Quarto Harry Potter capta dificuldade em discernir “o mal”ESTHER HAMBURGER
ESPECIAL PARA A FOLHA

A repercussão do lançamento simultâneo do quarto filme e da tradução do sexto livro da série Harry Potter demonstra que o fenômeno continua a mobilizar milhares de leitores e espectadores ao redor do mundo.
As aventuras de Harry Potter se estruturam a partir das oposições básicas do melodrama. Mas a fórmula não explica tudo. A graça está no que justamente escapa ao esquema.
Os filmes vieram depois dos livros e são duramente julgados pelos fãs mirins da turma de Hogwarts, implacáveis observadores da superioridade da linguagem escrita sobre o cinema. “O Cálice de Fogo” perde em sutileza. Não traduziu em imagens a fantástica peleja mundial de quadribol, o esporte local; abreviou as tensões colegiais que isolaram Harry ao longo da aventura; poupou a imprensa da ácida crítica proferida por J.K. Rowling no livro etc.
Mas o filme de Mike Newell vai além dos três primeiros longa-metragens estrelados pelos heróis bruxos. Ele capta o que talvez seja a característica mais marcante da série: a dificuldade de discernir quem é do mal -um mal fundamentalista que vai se adensando no correr de tempos cada vez mais sombrios.
A entidade maléfica cresce e ganha corpo, ao longo dos anos, às custas de literalmente sugar a energia vital de seus inimigos, especialmente Harry. Nesse quarto filme ganha plena forma humana.
Harry está longe de ser um herói bem comportado. É teimoso, frágil, nem sempre diz a verdade. Como seus amigos, muitas vezes infringe as normas. Em torno desse pólo do bem, gravitam personagens com funções essenciais de apoio, mas cuja posição pode ocultar surpresas.
O disfarce, a identidade trocada, é um artifício clássico do gênero. Aqui a dificuldade de discernimento aparece como elemento recorrente. Harry, Ron e Hermione, os três jovens heróis, colegas de classe, convivem com vários professores e funcionários da escola, que, como eles, temem e se opõem aos “Death Eaters”, grupo de apoiadores do inominável “você sabe quem”. Convivem também com militantes confessos das artes da magia negra. Mas é justamente na zona cinzenta que envolve os dois núcleos que as coisas acontecem.
Em uma seqüência emblemática de revelação no fim de “O Cálice de Fogo”, literalmente caem sucessivas máscaras, de alguém que parecia apoiar, quando empurrava o herói para a armadilha que poderia ser fatal.
Também o sexto livro, “Harry Potter e o Enigma do Príncipe”, recém-lançado com as conhecidas opções questionáveis de tradução, contém histórias sobre falsos apoiadores. Não vamos dar nome aos bois para não estragar a eventual surpresa de quem não leu o livro ou viu o filme.
Em tempos de insegurança geral, como discernir? Às vezes a dúvida perpassa vários episódios. Conclusões de um livro podem se mostrar provisórias em histórias futuras. Os pólos da oposição maniqueísta são menos importantes. Talvez a popularidade do bruxo aprendiz tenha a ver com a sensação de insegurança permanentemente renovada que essas indefinições provocam.

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Filme dá impulso a vendas de sexto livro sobre Potter

LUCIANA COELHO
DA REPORTAGEM LOCAL

“Incansáveis” é uma palavra que pode definir bem os fãs do bruxo adolescente Harry Potter, criado pela escritora britânica J.K. Rowling em 1997. Em sua sexta aventura literária e na quarta empreitada cinematográfica, o personagem continua a enfeitiçar os fãs -e as caixas registradoras, que marcam números mais e mais altos a cada lançamento.
De sua estréia nos cinemas, sexta passada, até a noite da última quarta (dado mais recente disponível), “Harry Potter e o Cálice de Fogo” vendeu 1,615 milhão de ingressos, estima a Warner, distribuidora do filme no Brasil. É um aumento de 30% em relação aos dois episódios anteriores, “O Prisioneiro de Azkaban” e “A Câmara Secreta”, e de 45% sobre a estréia da série, “A Pedra Filosofal”.
A editora Rocco também tem motivos para comemorar. O sexto livro da saga, “Harry Potter e o Enigma do Príncipe”, lançado há seis dias, já teve os 350 mil exemplares impressos na primeira tiragem vendidos para as livrarias.
Essas, por sua vez, acreditam que o lançamento simultâneo com o filme catapultou as vendas de forma inédita. Só a Saraiva vendeu 18 mil exemplares em quatro dias. E espera vender 50 mil até o Natal. A Siciliano, que encomendou 60 mil livros à Rocco, viu um terço deles sumirem de suas prateleiras no mesmo período. E a Cultura, cujas expectativas já haviam sido superadas com a edição em inglês, vendeu 2.319 livros só no fim de semana, o que pôs o volume em primeiro lugar entre os infanto-juvenis.
Nada, claro, comparável com os números nos EUA, onde a editora Scholastic diz ter vendido 6,9 milhões de cópias só nas primeiras 24 horas após o lançamento, em 16 de julho. Ou no Reino Unido, onde 2 milhões de exemplares de “O Príncipe Mestiço” foram comprados em um dia, de acordo com a editora Bloomsbury. Mas são números superlativos para o mercado brasileiro, onde uma primeira tiragem gira em torno de 3.000 exemplares, segundo a Rocco. Com 20 mil cópias vendidas, o autor já é considerado best-seller.

Diagramação e tradução
A reportagem da Folha mergulhou nos últimos dias em uma análise minuciosa das alterações feitas na versão em português de “O Enigma do Príncipe”, que das 652 páginas na edição americana e de 607 na versão britânica passou para 510 em português -redução em 22% das páginas no primeiro caso e em 16% no segundo.
De fato, como afirmam a editora Rocco e a tradutora da série, Lia Wyler, a história não sofreu nenhum corte -mesmo porque eles são proibidos por contrato. A versão mais enxuta que foi parar na mão dos leitores brasileiros se deve a dois outros fatores.
O primeiro a editora já havia explicado -a diagramação do livro (tipo de letra, número de linhas por página) foi alterada. Na versão brasileira há mais texto em cada página do que nas duas em inglês. E somem os pequenos desenhos no início de cada capítulo que ilustram a americana.
O segundo motivo, constatou a Folha, é que na tradução para o português o texto sofreu uma série de ajustes, embora esses não tragam prejuízo à história. É como se tivesse sido feita a opção pela versão mais direta, já que a prosa de Rowling é prolixa.
Em cerca de 20 trechos analisados pela reportagem, somem alguns adjetivos e advérbios, e são eliminadas redundâncias.
Frases como “What can he do about it?”, literalmente “O que ele pode fazer a esse respeito?” viram um mais simples “O que ele pode fazer” (pág. 104). Ou, como na primeira página, “unpleasant memories” (lembranças desagradáveis) é vertido apenas como “lembranças”. E palavras como “muito” e “pouco”, que reforçam o estilo rebuscado de Rowling, freqüentemente são suprimidas no português.
De qualquer forma, esses ajustes não comprometem a descrição de nenhuma cena, ação ou diálogo, tampouco do universo mágico criado pela autora.
Resta agora esperar pelo próximo livro da série, cuja data de lançamento é uma incógnita. Pela quantidade de perguntas que Rowling ainda tem a responder, ele não deve ser nada pequeno.