Potterish

Lia Wyler no Estadão

A tradutora dos livros de Harry Potter aqui no Brasil, Lia Wyler, falou com Beatriz Coelho Silva do Estadão numa matéria que cita os outros trabalhos de Lia e, é claro, o Enigma do Príncipe. (Possíveis spoilers a seguir.)

Geralmente, a escolha do nome dos personagens é uma dificuldade que ela encara com um prazer lúdico, pois é preciso respeitar a intenção da autora, não distanciar-se muito da sonoridade original e obedecer a orientações prévias. Em Harry Potter e o Enigma do Príncipe aconteceu com o personagem Rupert “Axebanger” Brookston.

Leia na íntegra aqui.
PS1: Ignorem os erros que foram cometidos na matéria, como o nome da autora, o nome do vilão… 🙂
PS2: Erros corrigidos.

Obrigado, Andréia.

Potter mudou, mas mantém tradutora
Lia Wyler, no ofício há mais de 30 anos e escolha da autora J.K. Rowling, fala sobre seu trabalho e repele críticas levianas à profissão
Terça-feira, 29 de Novembro de 2005
Beatriz Coelho Silva

Em seu sexto livro, que acaba de chegar às lojas, o bruxinho Harry Potter cresceu, amadureceu e até arrumou namorada. Só não abriu mão de sua tradutora brasileira, Lia Wyler, escolhida pela própria autora, J.K. Rowling, que lê em português e acompanha a publicação de seus livros em outras línguas.
O título em português, Harry Potter e o Enigma do Príncipe, para o que em inglês é Harry Potter and the Half-Blood Prince, por exemplo, foi indicado por ela. Segundo Lia, a tradução literal não daria conta da ambigüidade do original e Rowling pediu três sugestões. “Mandei o misterioso príncipe, o príncipe-mestiço e o enigma do príncipe. Ela escolheu o último”, conta Lia.

Esta não foi a única nem a maior dificuldade de Lia, tradutora há mais 30 anos, com autores consagrados no currículo (Tom Wolfe, John Updike e Margareth Atwood por exemplo) e que dá cursos de pós-graduação sobre o ofício na Pontifícia Universidade Católica do Rio, onde se formou em Letras.

A maior, provavelmente, é o prazo apertado. Para verter para o português as 608 páginas do livro, ela trabalhou de 15 de julho a 31 de outubro. “Foram jornadas de dez horas, durante 78 dias”, contabiliza. Para quem se liga nos números, ela avisa, nada foi suprimido na edição brasileira. “A tradução é integral, embora a formatação adotada pela Editora Rocco tenha reduzido o número de páginas.”

Essa rapidez não lhe tira o prazer de acompanhar as aventuras do bruxinho, de quem ela parece uma parente, com seu jeito de vovó esperta, mas nada fácil de ser enganada. Ela acompanha o personagem desde a infância (dele) e conta como Harry Potter chega à adolescência. “Ele está mais rebelde e Dumbledore (o diretor da Escola de Magia), mais paciente.

É muito bonito o relacionamento que se estabelece entre os dois, pois o menino aprende a aceitar limitações suas e dos outros e a relatividade das questões da vida”, adianta a tradutora. “Do lado mais leve, há o namoro dele e de Rony (seu melhor amigo), com meninas que não são nem a Hermione nem a Cho (também aprendizes de bruxinhas).”

Nesse sentido, é fácil trazer para o Brasil a situação vivida pelo bruxinho inglês. “São questões universais, inteligíveis aos leitores de todos os continentes. E o meu trabalho é apenas traduzir o texto, pois as situações narradas não exigem tradução”, ensina Lia. Mesmo assim ela segue um método para contar na língua de Machado de Assis as peripécias escritas na dos Beatles: entre ler em inglês e escrever em português, ela visualiza a situação contada. “Não é um feito extraordinário nem um processo inventado por mim. É apenas traduzir.”

Um trabalho do qual ela fala com evidente prazer e que aprecia tanto que já escreveu teses, artigos e livros sobre, inclusive uma rara história do tema no País, intitulada Línguas, Poetas e Bacharéis – Uma Crônica das Traduções no Brasil.

Geralmente, a escolha do nome dos personagens é uma dificuldade que ela encara com um prazer lúdico, pois é preciso respeitar a intenção da autora, não distanciar-se muito da sonoridade original e obedecer a orientações prévias. Em Harry Potter e o Enigma do Príncipe aconteceu com o personagem Rupert “Axebanger” Brookston.

A melhor tradução seria Roberto Machadada, mas ela devia respeitar as iniciais R.A.B. “Para não perder a graça, chamei-o de Roberto “Axebanger” Brookston, o Machadada”, adianta. Lia só fica brava de verdade, de assustar até no vilão Voldemort, quando ouve ou lê críticas levianas ao trabalho do tradutor. Ela repele o dito italiano, tradutore/traditore (tradutor/traidor) porque acredita que, embora não exista tradução literal, o essencial da idéia do autor permanece.

“As pessoas não sabem em que condições trabalhamos. Dizer que há uma palavra errada em um livro de 200 páginas é falta do que fazer”, argumenta. As muitas coisasa que fez entre o segundo semestre de 2003, quando traduziu o quinto Harry Potter, e o primeiro semestre deste ano, quando começou o que chega às lojas agora, a autorizam a falar assim.

Ela verteu para o português os livros da série Edgar e Ellen, de Charles Ogden, outros da série Angel, de Cherry Whytock, o mais recente de Margareth Atwood, Negociando com os Mortos, contos dos irmãos Grimm e ainda escreveu um artigo sobre a tradução no Brasil na última década pela uma revista especializada canadense, a Meta.

Por fim, ainda organizou oficinas de tradução. “Pretendo retomá-las no início de 2006”, adianta Lia, com um pique de dar inveja até em bruxinhos aprendizes.

PS: A Lia não revela quem é o R.A.B.! Na primeira vez que li eu até pensei assim, mas na verdade ela não está revelando, só está contando um trecho do livro.