J. K. Rowling ︎◆ Livros ︎◆ O Enigma do Príncipe

J.K.Rowling na TIME

A revista TIME publicou uma matéria com J.K. Rowling que saiu na época do lançamento do sexto livro. Na entrevista, que contém mínimos spoilers do novo livro, a escritora falou abertamente sobre alguns assuntos.

Certamente Rowling não teme o sexo, como foi demonstrado na Ordem da Fênix–que tinha Harry saindo com a bela e lutuosa Cho Chang. Harry e seus amigos têm 16 anos agora, e seria estranho se ele só pensasse em varinhas e pomos. “Por causa das exigências da aventura que Harry está seguindo, ele tem menos experiência sexual do que os outros garotos de sua idade,” Rowling esclarece. “Mas eu realmente queria que meus heróis crescessem. Os hormônios do Rony fazem resultado no livro seis.” Exemplo da risada alta e rouca. “Basicamente Ron percebe que Hermione já teve algo, Harry já teve algo e ele nunca chegou perto!”

Ela também criticou a série de C.S. Lewis, As Crônicas de Nárnia, cujo primeiro filme será lançado no final do ano.

Rowling nunca concluiu O Senhor dos Anéis. Ela nunca leu todos os romances de Nárnia de C.S. Lewis, aos quais seus livros são bem comparados. Há algo sobre a sentimentalidade de Lewis sobre crianças que a irrita. “Chega a parte onde Susan, que era a garota mais velha, se perde em Nárnia porque fica interessada em batom. Ela se torna anti-religiosa porque descobriu o sexo,” diz Rowling. “Eu tenho um grande problema com aquilo.”

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A Hogwarts de J.K Rowling e tudo mais
Enquanto o tão esperado Harry Potter and the Half-Blood Prince chega às livrarias, J.K. Rowling fala francamente com Lev Grossman sobre fantasia, pais e como a magia está quase no fim.

Aqui está uma J.K. Rowling que mora nos corações e mentes de crianças por todas as partes. Ela tem uma varinha de fada e cabelos douradas, e quando ela dá sua risada badalada, pequenas bolhas prateadas saem de sua boca.

A J.K. Rowling acima, no entanto, não existe. Esta é uma parte da Jo Rowling de verdade trabalhando há cinco anos atrás em Harry Potter e o Cálice de Fogo: “Cálice–oh, meu Deus. Era a época em que eu mastigava Nicorette. E depois eu comecei a fumar novamente, but mas não parei com o Nicorette. E eu juro pela vida dos meus filhos, eu ia dormir à noite e tinha tremedeiras e tinha que me levantar para beber vinho para eu poder me acalmar.”

As crianças deveriam ficar agradecidas pela verdadeira Jo Rowling. Porque se os livros fossem escritos pela imaginária Rowling, imaginem como eles seriam entediantes.

O cabelo da verdadeira Rowling é tipo um dourado, embora no momento esteja escuro nas raízes. O que se pode entender, já que nos últimos seis meses ela deu a luz à sua terceira filha–Mackenzie–e finalizou o sexto livro da série. Aos 39, Rowling é uma mulher alta e bonita com um rosto longo, um nariz levemente torto e olhos contraídos. Sentada numa mesa de conferência num bangalô acrescentado em sua majestosa casa em Edimburgo (não sua única e nem mais majestosa casa), ele fala rapidamente, até um pouco nervosamente. Ela usa as palavras de forma clara mais do que uma pessoa comum usa, e ela gosta de dizer coisas exorbitantes, e depois cair numa risada alta para mostrar que ela só estava brincando. Rowling está vestido de preto–um suéter preto frouxo, calças pretas. Uma olhada embaixo da mesa revela botas brilhantes pretas de couro com saltos.

Ela recebe dos fãs muitas varinhas e penas, mas admite que, um pouco envergonhada, ela nunca as usa e que as varinhas vão direto para a filha mais velha, Jessica. A escritora viva de fantasia mais popular do mundo nem gosta especialmente de romances de fantasia. Só após a publicação da Pedra Filosofal é que lhe ocorreu que ela havia escrito um. “Esta é a verdade,” diz ela. “Os unicórnios estavam lá. Havia o castelo. Mas eu realmente não havia pensado que era aquilo que eu estava fazendo. E eu acho que talvez a razão que eu nunca percebi isso é que eu não sou uma grande fã de fantasia.” Rowling nunca concluiu O Senhor dos Anéis. Ela nunca leu todos os romances de Nárnia de C.S. Lewis, aos quais seus livros são bem comparados. Há algo sobre a sentimentalidade de Lewis sobre crianças que a irrita. “Chega a parte onde Susan, que era a garota mais velha, se perde em Nárnia porque fica interessada em batom. Ela se torna anti-religiosa porque descobriu o sexo,” diz Rowling. “Eu tenho um grande problema com aquilo.”

Certamente Rowling não teme o sexo, como foi demonstrado na Ordem da Fênix–que tinha Harry saindo com a bela e lutuosa Cho Chang. Harry e seus amigos têm 16 anos agora, e seria estranho se ele só pensasse em varinhas e pomos. “Por causa das exigências da aventura que Harry está seguindo, ele tem menos experiência sexual do que os outros garotos de sua idade,” Rowling esclarece. “Mas eu realmente queria que meus heróis crescessem. Os hormônios do Rony fazem resultado no livro seis.” Exemplo da risada alta e rouca. “Basicamente Ron percebe que Hermione já teve algo, Harry já teve algo e ele nunca chegou perto!”

É precisamente a ausência de sentimentalidade de Rowling, sua realidade afiada e física, sua recusa aos clichês básicos da fantasia, que faz dela uma grande escritora. O gênero tende a ser profundamente conservador–politicamente, culturalmente, psicologicamente. É olhar para o passado de um mundo idealizado, romantizado, pseudo-feudal, onde cavaleiros e damas dançam morris. Os livros de Rowling não são deste jeito. Eles acontecem nos anos 90’s–não em nenhuma Nárnia utópica mas nos dias modernos dos trouxas Ingleses, com carros, telefones e Playstations. Rowling adapta um gênero de natureza conservadora para seus próprios objetivos progressivos. Sua Hogwarts é secular e sexual e multicultural e multiracial e até um tipo de multimídia, com todos aqueles fantasmas que falam. Se Lewis aparecesse lá, ele provavelmente se tornaria um Comensal da Morte.

Aceitando que os livros de Rowling sejam como convites para um escapismo muito ordinário: Ooh, Harry não é um órfão pobrezinho; ele é, na verdade, um bruxo rico que toma um trem secreto para um castelo, e por aí vai. Mas como eles prosseguem, você percebe que enquanto a coisa cômica é puro algodão doce, os problemas são bem reais–embaraço, preconceito, depressão, raiva, pobreza, morte. “Eu estava tentando subverter o gênero,” Rowling explica com simplicidade. “Harry vai para este mundo mágico, e ele é melhor do que o mundo que ele deixou? Só porque ele conhece pessoas mais legais. Mágica não faz com que seu mundo seja melhor de forma significativa. Os relacionamentos fazem seu mundo melhor. Mágica complica sua vida de muitas formas.”

E diferente de Lewis, cujos livros são mergulhados em teologia, Rowling não se vê como uma moralista para as milhões de crianças que lêem seus livros. “Eu não acho que seja saudável para o trabalho pensar nestes termos. Eu nunca penso em termos de ‘o que eu vou ensiná-los’? Ou ‘o que seria bom para eles descobrir aqui?'”

“Embora,” ela acrescenta, “não há como negar, lições morais são descritas.” Mas ela deixa fácil. No Cálice, o bondoso Cedrico Diggory morre sem nenhuma razão. Na Fênix, vimos que o pai de Harry, a quem ele idealizava, era um arrogante que ameaçava as pessoas. As pessoas não são boas e más por natureza; eles mudam e se transforam e lutam. Como Dumbledore diz ao Harry, “São nossas escolhas, Harry, que mostram quem somos de verdade, e não nossas habilidades.” Nós sabemos que Harry não irá sucumbir pela raiva e pelo mal. Mas nunca paramos de pensar que ele poderia. (De forma interessante, embora Rowling seja um dos membros da Igreja Escocesa, os livros são cheios de referências a Deus. Neste ponto, Rowling é cautelosa. “Hum, não acho que eles sejam tão seculares. Mas, é claro, Dumbledore não é Jesus.”)

Há limites para a sofistificação de Harry Potter. Desde que Harry Potter e a Pedra Filosofal foi publicado em 1998, os eventos mundiais se moveram para o ponto onde eles ameaçam perguntar mais dos livros do que eles têm a oferecer. Na Fênix, o quinto livro da série, Harry está envolvido numa guerra semi-civil, sem fronteiras, com um líder oculto e tenebroso cuja existência o governo ignorou até que o desastre reforçou o problema e que é apoiado por uma rede secreta de agentes espiões que desejam recorrer à táticas de crueldade chocante. As crianças que cresceram em Harry Potter–você pode chamá-las de Geração Azaração–são as crianças que cresceram com a ameaça de terrorismo, e é inevitável que em algum momento eles farão uma conexão entre os dois.

Isso não é uma coisa ruim necessariamente. Mas a maior deficiência da série até agora é a monotonia do antagonista de Harry, Voldemort (cujo nome Rowling pronuncia com um T mudo). Em livros passados, Voldemort conseguiu adquirir um corpo, mas ainda lhe falta qualquer tipo de motivação realística. Você não tem idéia de onde vem seu entusiasmo sem limites em ser mau. “Vocês terão,” diz Rowling. “Há, sem dúvida, uma grande lacuna aí, e no livro seis Harry descobre muito sobre a história de Voldemort. Embora ele nunca tenha sido tão legal.” Ela ri.

Não, ele não era. Half-Blood Prince percorre um longo caminho, finalmente, até percebermos que Rowling está mostrando a psicologia do mal, amplamente através de um tipo de documentário ajudado-pela-Penseira sobre a vida de Voldemort desde o início. Muito do entendimento de Rowling sobre as origens do mal está relacionado ao papel do pai na vida em família. “Quando eu penso sobre os cincos livros já publicados,” ela diz, “Eu percebo que é como uma descrição repetitiva de pais ruins. É onde o mal parecer crescer, em lugares onde as pessoas não recebem uma boa educação paternal.” Com certeza, algo disto deve vir de suas próprias experiências: sua relação com o pai não foi muito boa, e o pai de sua filha mais velha não faz mais parte da vida de Rowling.

Apesar do seu enorme sucesso, que deixou sua fortuna em centenas de milhões, você consegue sentir a enorme e exagerada ambição de Rowling pelo seu trabalho, que parece, no mínimo, ser preenchida em partes por sentimentos prolongados de insegurança e dúvidas de si mesma. Talvez seja sua história bem conhecida de mãe desempregada e divorciada que viveu quase um ano da assistência pública, mas ela ainda constantemente questiona sua escrita, revisando como um lutador assistindo imagens de suas lutas. “Eu acho que o quinto livro poderia ter sido mais curto. Eu sabia disso, e fiquei sem tempo e energia para o fim,” ela diz. Ela ficou preocupada que o Cálice foi muito elogiado. “Em cada livro, há alguma coisa que eu voltaria e reescreveria. Mas eu acho que realmente planejei este muito rápido. Eu levei três meses e ficava lá sentada revisando e revisando para ver se tudo estava correto, muito concentrada nele, analisando por todos os ângulos. Eu aprendi, talvez, com erros passados.”

Esta concentração obsessiva em perfeição pode deixar Rowling um pouco indisponível para aqueles próximos dela. Ela conta a história de uma conversa que teve com sua irmã mais nova–Di, 38–sobre o diretor de Hogwarts Alvo Dumbledore, pelo qual Di sente às vezes uma falta de compaixão por causa de suas atitudes. “Ela disse, ‘Ele é como você.’ E eu disse, ‘O que isso quer dizer?’ E ela disse, ‘Bem, você é meio deslocada.’ Aquilo foi desconfortável, e provavelmente muito esclarecedor. Eu talvez não acharia tão fácil dizer como ela acha, ‘Aquela pessoa é minha melhor amiga no mundo.'”

Rowling está prestes a dizer adeus a um grande amigo: Half-Blood Prince é o sexto livro de sete planejados, e é tudo o que ela escreveu. “Eu ficarei tão triste em pensar que nunca mais escreverei uma sentença com Harry-Ron-Hermione de novo,” diz ela. Mas seus sentimentos estão confusos. “Uma parte de mim estará feliz quando acabar. A vida em família se tornará mais normal. Será a chance de escrever outras coisas.”

Espere aí–outras coisas? É pertubante pensar em Rowling abandonando Harry e sua turma e criando um outro conjunto de personagens. Mas pelo menos podemos dizer que Harry é o último bruxo de Rowling. A partir de agora, será somente sobre Trouxas. “Eu acho que posso dizer
categoricamente que não irei escrever outra fantasia após Harry,” ela diz, deixando a si mesma e seus agentes, que estão por perto, visivelmente nervosos. “Espere, agora estou em pânico. Oh, meu Deus! Sim, tenho certeza que posso dizer isso. Eu acho que terei esgotado as possibilidades disso. Para mim.” Além disso, ela não está dando muitas dicas, mas ela está tratando o projeto com o seu usual cepticismo cruel. “Teremos que ver se é bom o suficiente para ser publicado. Eu quero dizer, isso é uma preocupação real, porque a primeira coisa que escrevo após Harry pode ser absolutamente pavorosa, e as pessoas irão comprar. Então eu fico com essa insegurança.”

Mas as inseguranças futuras podem esperar. Rowling ainda tem o sétimo livro para se preocupar. Ela já começou a escrever. “Será um tipo de livro bem diferente porque eu tipo que deixei pistas no final do sexto, e vocês são deixados com uma idéia bem clara do que Harry irá fazer em seguida.”

“E,” ela acrescenta com um excesso de confiança não característico, “será empolgante!” E depois ela imediatamente se recua em modéstia. “Vocês não sabem! Vocês devem ler o sexto livro e pensar, Ah, eu não vou importar.”

Mas isso, mais uma vez, é pura fantasia. Obviamente.