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Tendo o folclore como guia…

Durante o período escolar, festejamos o folclore nacional e estudamos suas mais diversas peças e concepções, para relembrá-los como um traço importantíssimo da cultura brasileira. Ao redor do mundo, cada sociedade possui o seu próprio folclore conforme cada cultura.

Em Harry Potter, esses detalhes da cultura britânica são também lembrados, como você poderá conferir ao ler a coluna de hoje, brilhantemente escrita por Natallie Alcantara. Leia, reflita e não deixe de registrar seu comentário!

Por Natallie Alcantara

J.K. Rowling criou um mundo fantástico completo com locais, história e nuances culturais. Ela deu aos seus personagens questionamentos com os quais as pessoas, hoje em dia, lidam. Ela até mesmo criou lendas e mitos e fez os personagens interagirem com eles. O que é mais interessante é que os leitores sabem mais sobre o folclore presente na série do que sobre a história da magia: a autora coloca os personagens para lidar com descobertas sobre artefatos mágicos antigos e descobrir velhas lendas, ao invés de colocá-los a par dos eventos históricos da magia.

Uma das razões para Rowling fazer isso se deve ao fato de que os mitos, em essência, são verdades universais. Pois mitos e folclore são histórias figuradas sobre como as pessoas de diferentes culturas lidam com certas questões universais da vida; todas as culturas têm seu folclore e é através de sua influência que a sociedade molda sua visão de mundo e entende sua tradição cultural.

Um exemplo de que a autora enfatiza a moral encontrada nos seus contos de fadas é como ela escreveu os contos de Beedle, o bardo: ao invés de simplesmente fazer uma coleção de contos de fadas para mera apreciação, ela inclui notas e análises feitas pelo seu personagem mais sábio, Dumbledore. Assim, ela mostra que prefere explorar o valor dos contos de fadas mais do que das próprias histórias em si.

Outro motivo que pode justificar o fato de que Rowling quer, através do uso de mitos, transmitir uma mensagem tem a ver com o modo que a sociedade britânica em geral vê seus folclore e mitologia. Como um povo que têm inúmeros exemplos de líderes imorais e tirânicos, é mais fácil apontar para uma criança as lições de vida das lendas britânicas do que tentar encontrar feitos heróicos de governantes do passado. É muito melhor se inspirar nos feitos do mítico Rei Arthur, porque ele é um símbolo do que os britânicos querem que seja sua herança cultural, ao invés de encorajar a violência como meio de controle típica do reinado real de Henrique VIII.

Ao fazer um paralelo entre as histórias britânica e bruxa, percebe-se o pouco esforço da autora em fazer seus personagens gostarem de história da magia. Rony odeia essa matéria, mas conhece e gosta dos contos narrados no livro Contos de Beedle, o bardo. Como exemplificado em Relíquias da Morte, Rowling muitas vezes usa o folclore para guiar seus personagens (o conto dos três irmãos é a chave para o sucesso/ derrota, dependendo da escolha, de Harry).

Outro fato que merece nota: Rowling toma uma licença artística de si própria e transforma mitos bruxos em histórias bruxas reais. A Câmara Secreta é só uma lenda, que se transforma em realidade a partir do momento em que ela a posiciona em um local (o tempo-espaço é importante). Assim como as Relíquias da Morte finalmente se tornam palpáveis e reais, objetos vitais para destruir Voldemort. Através disso, vemos a importância de perceber as mensagens que a série quer repassar aos leitores: os contos de fadas e mitos são a base do que o passado tem para oferecer ao presente.

Historicamente, a literatura infantil tem sido uma ferramenta de ensino. Com seus livros, Rowling encoraja a futura geração a não esquecer que a sociedade só prevalecerá se aprender as lições que a nossa cultura tem nos ensinado através das lendas que deixamos para trás.

Natallie Alcantara vem elaborando um estudo para saber qual seria o impacto da presença de uma mula sem-cabeça na Floresta Proibida de Hogwarts.