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As escolhas e a vida

É comum justificar atitudes cruéis e mesquinhas com circunstâncias do passado. Às vezes, bem sabemos, o meio e as condições sociais justificam mesmo certas coisas, contudo, nem sempre isso é real, e em Harry Potter temos um exemplo claro disso.

Arthur de Lima traz neste domingo um ensaio, abordando a forma semelhante como Harry Potter e Lord Voldemort iniciaram suas vidas e como, em determinado momento, ambos escolheram seguir por caminhos tão diferentes. Leia, reflita e deixe o seu comentário!

Por Arthur de Lima

Desde os primórdios, sabe-se da existência de vários costumes, sejam eles para benefício geral ou prejuízo de poucos que prosseguem até os dias atuais! Um dos grandes costumes que foram adquiridos com o tempo e hoje vivenciamos isto de forma real ou virtual, dentro de nossas próprias vidas ou em obras de ficção.

Tal costume se resume no ato de tentarmos justificar os nossos erros ou erros alheios à nossa vida, seja de vizinhos, amigos, parentes, e outros tantos vínculos sociais que possuímos. Esta justificativa, por mais mal intencionada que seja, reflete nossa grande necessidade de termos respostas para tudo o que acontece ao nosso redor. Sendo assim, depois de pensar muito sobre o que escrever nesta coluna, decidi abordar este assunto dentro do mundo que mais amamos.

Porém, antes desta viagem ser iniciada, cabe aqui um questionamento que será o foco de nossa análise: fatos ocorridos no passado podem servir de justificativas plausíveis para atos de crueldade tomados na maturidade do ser?

Bom, basta fazermos uma breve análise dos nossos personagens centrais de toda a saga: Harry Potter e Tom Riddle. Pode-se observar, como todo o enredo mostra claramente, uma extrema semelhança nos primórdios da vida de ambos.

Antes de se tornar Lord Voldemort, Tom Riddle teve uma infância atribulada. Um pai que jamais o procurou, a mãe que morreu no parto, o crescimento isolado de sua história e de sua realidade num orfanato que pertencia a mundo que não era o seu. Sendo taxado de estranho, sofrendo o preconceito que remete ao maior medo do ser humano: o desconhecido.

Ao se descobrir bruxo e pertencente a mundo em que seria aceito como igual e (como no caso) respeitado como superior, Riddle descobriu todas as deliciosas tentações que o poder pode pregar na alma. Suas escolhas, após sua maturidade o definiram como o bruxo das trevas mais poderoso de todos os tempos. Ele escolheu negar suas origens e ser temido ao invés de amado. Ficar gravado na mente das pessoas de uma forma tão dolorosa que jamais o esqueceriam, o que também pode justificar sua busca pela imortalidade, cada vez mais afundado no medo de a morte trazer ao mundo que o temia o esquecimento de ser.

E o que falar de Harry Potter? Podemos tecer a mesma teia, todavia contendo nuances diferentes. Harry perdeu os pais quando bebê, criado e rejeitado num mundo ao qual também não era pertencente. Privado de ter amigos e sequer podia entender o que acontecia com seu corpo e tudo o que estava além de seu controle.

Ao ser enviado ao berço de onde nunca deveria ter saído, Harry descobre sua trágica história, se encanta pelo mundo novo ao qual sempre pertenceu, faz verdadeiros amigos, forma uma nova família e escolhe lutar por tudo de bom em que acredita. Prova não ter medo da morte, nem de enfrentar os perigos que formam com ela uma linha tênue com a vida e não se preocupa em ser amado ou conhecido, afinal, ele mal consegue aceitar o fato de que é famoso e adorado, e tudo o que queria era ser normal.

Histórias parecidas, infâncias trágicas, sofridas e solitárias, mas, como disse o maior bruxo do mundo e o melhor diretor que a Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts poderia ter tido: “Não são as semelhanças entre vocês, são as escolhas!”.

Harry escolheu ser bom, servir a um propósito não ganancioso e a um verdadeiro bem maior. Com todo o sofrimento que preencheu sua criação, ele escolheu por um caminho de amor. Voldemort teve escolha. Até o último momento teve escolha, e a escolha que teve o levou a destruição até de sua própria alma.

Na opinião deste humilde colunista, nossa história não intervém nas nossas escolhas, mas nossas escolhas podem mudar toda a nossa vida, para sempre!

Arthur de Lima escolheu ser colunista do Ish para encantar com seus textos.