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Hogwarts Mystery tem tudo para cair no esquecimento; entenda

Desde quando os jogos de Harry Potter para Playstation, Xbox e PC eram lançados, simultaneamente aos filmes, os fãs já estavam cansados de pedir por um RPG do Mundo Bruxo. Tamanha era a vontade que não demorou a surgir diversas versões não oficiais na internet. Não eram dos mais elaborados, mas eram a única opção para quem quisesse ser um estudante de Hogwarts. Mais de uma década depois, a Warner Bros. decidiu atender o desejo dos fãs. Lançado nesta quarta-feira (25) para iOS e Android, Hogwarts Mystery é o primeiro RPG oficial de Harry Potter, mas tem tudo para cair no esquecimento. Leia a crítica seguir!

Por Pedro Martins e Vinícius Bellemo

Depois de criar um avatar com poucas opções de customização, o jogador inicia a jornada no Beco Diagonal, onde compra sua varinha e os materiais escolares. Logo surge a primeira frustração: os cenários não são feitos em 3D, mas em uma espécie de 2D com leve profundidade que restringe as possibilidades de exploração. O usuário consegue apenas deslizar o cenário para os lados, e seu avatar, apesar de estar em tela, não caminha pelo ambiente; serve apenas para representar sua presença no local. Desta forma, para quem sempre quis explorar o castelo – o que é parte fundamental da experiência de estudar em Hogwarts –, o jogo é decepcionante. Os cenários, sobretudo as salas comunais e o salão principal, são bastante charmosos, mas de que adianta se o jogador não pode interagir? Falta, ainda, criatividade: os corredores são idênticos uns aos outros e existem erros geográficos na planta – desde quando a sala comunal da Lufa-Lufa fica ao lado da sala da Sonserina?

A jogabilidade é entediante, pois os desafios propostos são ridiculamente fáceis. Preparar poções e lançar feitiços não exigem habilidade alguma: basta apertar os botões conforme o próprio jogo orienta e ter energia suficiente. Desta forma, se livrar de um ataque de Visgo do Diabo é tão fácil quanto dormir na aula do Professor Binns.

O sistema de energia é desmotivador, pois grande parte dos desafios são meros recursos para que o jogador gaste toda sua energia. Acaba tão rápido que é difícil se manter no jogo por mais de cinco minutos sem precisar comprar energia em dinheiro. Até existem algumas atividades para as quais não precisa de energia, mas são irrelevantes e ainda mais entediantes do que as tarefas. Com poucos minutos de jogo, não há mais o que fazer. Essa lógica de jogabilidade, somada às possibilidades limitadas de exploração, desencoraja o usuário a continuar a jornada.

Hogwarts Mystery tampouco é interativo. O sistema não oferece a possibilidade de adicionar outros jogadores como amigos, o que torna a experiência solitária. Em uma época em que estamos cada vez mais conectados com nossos amigos por meio da internet, optar por um RPG que não oferece integração entre os jogadores não é uma escolha inteligente. A interatividade fica a cargo dos personagens, que, apesar de serem divertidos e trazerem familiaridade à experiência, não são suficientes.

A maior aposta – e acerto – do jogo é a narrativa. Logo no Beco Diagonal, o jogador descobre que seu irmão foi expulso de Hogwarts e, pouco depois, desapareceu. O usuário sabe que o irmão fez algo grave, mas não tem ideia do quê; a todo momento, os professores e os colegas mencionam o caso, sugerindo, inclusive, relação com Aquele-Que-Não-Deve-Ser-Nomeado. Isso impulsiona a curiosidade do jogador não apenas para avançar de nível, mas também para avançar na história.

Hogwarts Mystery não é um jogo que permite ser maratonado. É difícil traçar um veredito tendo jogado apenas por algumas horas, mas é possível afirmar que, devido à jogabilidade desmotivadora, Hogwarts Mystery não é, nem de longe, o RPG que os fãs de Harry Potter sempre quiseram. Se não houver uma atualização com mudanças significativas na estrutura – o que é improvável que aconteça –, o aplicativo tem tudo para cair no esquecimento em poucas semanas.