Na Seção Granger deste domingo, 22, nosso editor Kaio Rodrigues traz a crítica de E não sobrou nenhum, de Agatha Christie, relançada pela Globo Livros depois de quase setenta anos.
“De forma genuína, a Dama do Crime cria personagens críveis e cheios de medos, dúvidas e anseios. Estariam seus passados relacionados a todas as atrocidades cometidas na ilha? Eles não sabem, mas temem que sim.”
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Crítica por Kaio Rodrigues
Dez pessoas encerradas em uma mansão. Entre elas, um assassino de identidade desconhecida, que escolhe suas vítimas seguindo a letra de um poema infantil. Seria um clichê, não fosse esse o mais famoso romance de Agatha Christie, responsável por ter iniciado uma nova era da ficção policial.
Em E não sobrou nenhum, publicado pela primeira vez como O Caso dos Dez Negrinhos – nome que foi alterado anos após a morte da autora devido a acusações de racismo –, dez desconhecidos são levados a uma mansão na misteriosa Ilha do Soldado, a convite do misterioso Mr. Owen. Mas o milionário não está na casa, não há comunicação com o continente, e uma forte chuva impede qualquer tentativa de fuga do local. Para piorar a situação, há um assassino entre eles, e, um a um, os dez convidados começam a ser assassinados.
Com precisão, Agatha Christie usa sua escrita precisa para guiar o leitor através de um universo de possibilidades, onde, a cada ponto de virada, o leitor é convencido de uma nova identidade do assassino. Isso torna surpreendente. De forma genuína, a Dama do Crime cria personagens críveis e cheios de medos, dúvidas e anseios. Estariam seus passados relacionados a todas as atrocidades cometidas na ilha? Eles não sabem, mas temem que sim.
Os diálogos trazem ainda mais verossimilhança à história. São rápidos, mas cheios de significado, corroborando com o mistério. A sensação é claustrofóbica, de forma que, como os protagonistas, o leitor anseia por sair da ilha. Ele sabe, porém, que é um erro se apaixonar por qualquer personagem: como o título deixa claro, não sobra nenhum neste que é o mais misterioso e surpreendente romance da mais famosa autora policial do mundo.
400 páginas, Editora Globo Livros, publicado em 2009.
Título original: “Ten Little Niggers”.
Tradução: Renato Marques de Oliveira.
Kaio Rodrigues é estudante de Letras da UERJ, colunista do Potterish e editor da Seção Granger.