Na primeira Seção Granger do mês de junho, temos um novo resenhista no pedaço. Kaio Rodrigues, estudante de Letras da UERJ e também colunista do Potterish, faz sua estreia com a resenha crítica de “A menina que roubava livros”, o clássico do australiano Markus Zusak, publicado no Brasil pela Editora Intrínseca.
“Definindo-se apenas como “amável, agradável e afável”, nossa narradora não se prende a apresentações. Afinal, um dia todos nós a conheceremos de perto. Com uma linguagem simples, que abusa de adjetivos e é pontual em seus diálogos, a narradora constrói uma história sutil e delicada sobre um mundo em guerra, e sobre as pessoas desse mundo.”
Quando Kaio escreve uma resenha, você deve parar para lê-la. Leia o texto na íntegra na extensão do post.
Resenha crítica por Kaio Rodrigues
“Quando a Morte conta uma história, você deve parar para ler.”
A frase de capa de “A menina que roubava livros” convida o leitor a descobrir mais sobre a pequena Liesel Meminger e como sua vida mudou devido à Segunda Guerra Mundial. Isso porque, para escapar de Adolf Hitler, seus pais a levam – e ao irmão, que morre no trajeto – a um lar adotivo no subúrbio alemão. Liesel traz consigo “O Manual do Coveiro”, o primeiro dos muitos títulos que tomaria para si nos anos seguintes. O furto chamou a atenção da Morte – com M maiúsculo –, que, fascinada pela história da menina, decidiu contá-la em uma narrativa.
Com Hans, seu pai adotivo, Liesel aprende a ler para escapar dos pesadelos que tem sobre o seu irmãozinho. Já com a mãe, Rosa, aprende que severidade nem sempre significa desamor. Além deles, a trama é marcada por Rudy Steiner, melhor amigo e paixão de Liesel, e por Max Vandenburg, o judeu do porão, que inspira a menina em suas próprias histórias, mostrando que mesmo os horrores da Guerra não eram suficientes para corromper corações puros.
“A Menina que Roubava Livros” é a sexta obra do australiano Markus Zusak, que, desafiando-se a escrever um livro completamente diferente dos seus anteriores, foi buscar inspiração na Alemanha, país natal de sua mãe. A ideia, brilhantemente trabalhada na obra, era mostrar que o povo alemão não compactuava com os horrores nazistas.
Além da morte do irmão, Liesel Meminger teria, ao longo de sua vida, mais dois encontros com a Ceifadora de Almas. Definindo-se apenas como “amável, agradável e afável”, nossa narradora não se prende a apresentações. Afinal, um dia todos nós a conheceremos de perto. Com uma linguagem simples, que abusa de adjetivos e é pontual em seus diálogos, a narradora constrói uma história sutil e delicada sobre um mundo em guerra, e sobre as pessoas desse mundo.
Ainda que sua empolgação por contar a história possa cansar o leitor ávido por uma narrativa enxuta, volto a afirmar que quando a Morte conta uma história, você deve parar para ouvi-la. Quando Markus Zusak conta, também!
Kaio Rodrigues é estudante de Letras da Universidade Estadual do Rio de Janeiro e colunista do Potterish.
478 páginas, Editora Intrínseca, publicado em 2007.
Título original: “The Book Thief”.
Tradução: Vera Ribeiro.