J. K. Rowling

J.K. Rowling escreve “Sobre Monstros, Vilões e o Referendo da União Europeia”

O Reino Unido decidirá em um referendo público nesta quinta-feira, 23, se a região será ou não mantida na União Europeia. Em meio a um cenário de ataques políticos vindos dos blocos defensores tanto da saída quanto da permanência, a autora J.K. Rowling publicou hoje, 20, um texto opinando sobre o assunto em seu site oficial.

Ainda que a favor da permanência do Reino Unido no bloco, na opinião da autora britânica ambos os lados da campanha têm focado na criação de “monstros” para assustar a população: “Eu não sou especialista em muita coisa, mas sei como criar um monstro”, inicia Rowling.

Durante o texto, ela defende que o país entrou na campanha mais divisória e amarga de sua história política. Para a criadora de “Harry Potter”, os envolvidos com o Brexit (junção dos termos “Britain” e “exit”, ou “Grã-Bretanha” e “saída’, em português) estão apelando desde o início para o exagero e o desespero, contando para o povo “estórias” que não refletem a realidade, apenas os seus interesses individuais.

“Todas as campanhas políticas trabalham com contos de fadas”, diz Rowling.

“Isso não é novidade, é claro. […] Lançam-se como nossos heróis, vendem-nos as ideias do que poderíamos alcançar e traçam assustadoras projeções do que pode acontecer se escolhermos as pessoas erradas. No entanto, as estórias contadas durante este referendo são as piores que eu já vi em toda a minha vida.”

Para Rowling, a principal fraqueza utilizada contra a permanência da Grã-Bretanha na UE é a crise de 2008. As consequências trazidas para a Inglaterra pela instabilidade econômica de alguns vizinhos membros da união têm cegado muitos britânicos quanto às vantagens que o bloco já trouxe para o país.

Por outro lado, a campanha dos a favor da permanência também vem se mostrando pouco otimista e baseada na ideia de apenas evitar mais problemas ao invés de defender melhorias. “Tenha medo, dizem eles, dê um passo atrás enquanto ainda há tempo”, escreve Rowling em repúdio ao teor utilizado por alguns dos políticos e especialistas favoráveis à permanência.

Ainda assim, segundo a autora da saga, o lado que defende a saída mostra-se ainda mais apelativo. O movimento baseia-se principalmente na ignorância dos fatos em favor dos sentimentos e do cinismo: “Para a favor da saída, a UE não é apenas imperfeita ou precisa de melhorias: é uma vilã”.

Rowling também citou os polêmicos Donald Trump, candidato republicano à presidência dos EUA, e Vladimir Putin, chefe de Estado russo, como exemplos dos defensores do movimento Brexit.

“Donald Trump apoia o desmembramento da União Europeia. Herdeiro de uma fortuna familiar, ele nunca precisou colaborar ou cooperar com os outros e parece não compreender a complexidade disto. Unem-se a ele na causa como líderes ou aspirantes a líderes estrangeiros apenas Vladimir Putin e Marine Le Pen.”

A questão da imigração é outro ponto extremamente mal abordado na campanha, de acordo com o artigo. Ao seu olhar, o nacionalismo exagerado promovido pelo Brexit inibiu qualquer discussão racional sobre o assunto: “É desonroso sugerir, como muitos têm feito, que os defensores da saída são todos racistas e intolerantes: eles não são. […] Contudo, é igualmente sem sentido fingir que racistas e intolerantes não estão migrando para a causa e, em alguns casos, até dirigindo-a”.

Rowling conclui o texto abordando a importância pessoal que a internacionalidade representou na sua vida e na sua construção. Ela também defende, nos últimos parágrafos, que não acredita em uma suposta perfeição da União Europeia e que, como qualquer outra associação humana, é impossível que o bloco alcance esse status, mas que o povo britânico não deve se esquecer das realizações que ele permitiu para o país na hora de decidir o futuro da nação.

“No momento em que votamos, deixamos de ser leitores e nos tornamo autores. O final dessa história, seja ela feliz ou não, será escrito por nós.”