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A magia das estreias

Os filmes da série “Harry Potter” são alvo de inúmeras paixões. Alguns fãs os idolatram, outros apenas os toleram devido às inúmeras adaptações e modificações no enredo, necessárias para que a história pudesse ser encaixada ao modelo cinematográfico.

Neste 2016 que se inicia, novidades são prometidas, entre elas a estreia de “Animais Fantásticos e Onde Habitam” em 17 de novembro. Aproveitando a deixa, nosso colunista Stefano Sant´Anna nos fala hoje sobre a experiência de participar das estreias ao longo da série, numa coluna repleta de nostalgia que você vai adorar ler e comentar.

“E mesmo já conhecendo algumas cenas por spoilers, quando o filme começava, aquele determinado figurino, tomada ou diálogo parecia novo outra vez, enchendo os nossos olhos de paixão enquanto nos divertíamos por meio do roteiro que o mundo, por conta dos livros, sabia como iria acabar.”

Por Stefano Sant´Anna

Não apenas filas abarrotadas de jovens para assistir a duas horas e pouco de aventura e emoção. Sim, filas quase infinitas compostas por gente de todo estilo e idade, punks e nerds, esquisitos e muito esquisitos, garotos e garotas, filhos e pais, gente tímida e cosplayers, apaixonados pela série ou não. É impossível esquecer o efeito que as estreias de uma das maiores franquias de todos os tempos causavam em todos. Nos fãs, nos acompanhantes (fãs que se disfarçavam de acompanhantes), nos funcionários dos cinemas que ficavam enlouquecidos de trabalho e no restante da cadeia para cima, quero dizer, os donos dos bolsos para onde nossos centavos iam parar.

Assisti à maior parte dos filmes na pré-estreia. E não era o “ver antes de todo o mundo” que me fazia comprar um ingresso antecipado. Era algo mais parecido com “assistir logo, o mais rápido possível”. Esperar por um próximo filme era uma tortura para os fãs que acompanhavam cada migalha do que a produção liberava, ou do que vazava na web, num longo processo que levava meses.

E mesmo já conhecendo algumas cenas por spoilers, quando o filme começava, aquele determinado figurino, tomada ou diálogo parecia novo outra vez, enchendo os nossos olhos de paixão enquanto nos divertíamos por meio do roteiro que o mundo, por conta dos livros, sabia como iria acabar.

As filas das estreias e pré-estreias eram bem mais divertidas do que nos outros dias. Jovens enlouquecidos, alguns caracterizados viviam seus momentos de fama enquanto desfilavam pelos corredores sendo alvo de flashes e ovação. Garotas com olhos vermelhos em momentos de crise antes de sequer entrarem nas salas. Muita gente falando alto e, na maioria das vezes, comentando momentos dos outros volumes da história. Ou expondo suas teorias sobre mistérios como “Que diabos é R.A.B.?”, “Será que Harry é uma horcrux?” ou “Dumbledore morreu ou não?”.

Outro fator incrível era que, independente da classe social ou da região onde o filme estava sendo rodado, estreias precisavam ser acompanhadas com barulho. Sim, durante o filme. Gritos de emoção quando a vinheta da Warner Bros. entrava em cena (e choro quando apareceu pela última vez). Comentários engraçadinhos (e em som alto) durante as tomadas mais cômicas, revolta geral durante atrocidades, aplausos e algazarra em pontos de virada e, ah, quase esqueci dos suspiros nas primeiras sequências em que Harry ou Rony ou Hermione apareciam.

Às vezes me pergunto como é que dedicamos tanto tempo juntando o que a Warner liberava e esperando ansiosamente pelo próximo episódio? O que era essa coisa que nos movia a aguardar, degustar, guardar e esperar mais? Assistir a todas as entrevistas possíveis, manter fóruns no Orkut, criar comunidades e ler da forma mais ávida possível…

Acho que a maioria de nós não fazia muita coisa além de estudar. Não sei responder direito. Sei do que senti quando assisti a última cena no último filme entendendo que aquele era um ponto final para uma incrível fase da minha adolescência. Lembro de como fui pra casa e fiquei parado por longos instantes pensando no quanto tudo aquilo tinha mexido com minha cabeça. Sei que, independente de uma ou outra adaptação ser boa ou não, ter trazido prêmios ou não, foram estreias que entraram pra nossa história de uma forma inesquecível. E vão ficar guardadas em nossa memória num cantinho especial. “Harry Potter” nos cinemas atraiu gente de todo o tipo, proporcionou novas amizades, sorrisos e lágrimas. Ah, as pré-estreias! O único dia do ano em que nos sentíamos os verdadeiros donos do shopping center. Os donos do cinema! Donos do mundo. Aproveitando todos os minutos possíveis.

E, meu caro potterhead, trate de descobrir como viver momentos ainda melhores porque, na verdade, você nunca irá encontrar uma forma de fazer com que aqueles momentos voltem acontecer. Nem pense em dizer “Accio”.

Eu mesmo usei um chapéu cônico chiquérrimo na pré-estreia do último filme. Recomendo para “Animais Fantásticos”.