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A maior lição de Harry Potter

Neste primeiro domingo de fevereiro, o Potterish tem o prazer de apresentar sua nova colunista: Giovanna Florence!

Em seu texto Giovanna aborda a forma como, por vezes, temos a mania de levar opiniões e ideologias de um extremo a outro, sem considerar suas nuances e seus meio-termos. E isso, é claro, tem tudo a ver com Harry Potter. Quer saber como? Não deixe de ler a coluna deste domingo!

“Harry Potter toca em tantos assuntos políticos, humanitários, tanta coisa tão real que às vezes é possível esquecer a premissa mais importante do livro: o irreal”.

Por Giovanna Florence

Se alguém me pedisse para escolher uma única frasezinha da saga de Potter – um pedido descabido, com certeza – eu escolheria essa aqui do Sirius:

– É, mas o mundo não está dividido entre as pessoas boas e os Comensais da Morte […]

Para mim, essa frase, mais do que as de Dumbledore sobre amor, ou as de Hermione sobre amizade, mais do que qualquer outra, mostra a infinita sabedoria das coisas que tem a nossa musa Joanne Rowling.

Por quê?

Porque essa é a humanidade descrita sem tirar nem pôr. Harry Potter toca em tantos assuntos políticos, humanitários, tanta coisa tão real que às vezes é possível esquecer a premissa mais importante do livro: o irreal. Afinal de contas, somos todos iguais mesmo, trouxas e bruxos. Claro que eu não me incomodaria de saber um feitiço que desse um jeito de limpar a pia (quando você mora sozinho, sim, esse feitiço se torna prioritário), mas, vê, a humanidade é exatamente a mesma. Porque alguma figura influente, e de poder, falou alguma coisa, as pessoas se apressam na hora de julgar e condenar. Um dia Cornélio Fudge falou que Harry Potter era um menino perturbado que só queria atenção, e o mundo bruxo se curvou no ato a essa ideia. Sem pensar, sem refletir, sem conhecê-lo. Assim somos nós. Vamos com tal sede ao pote que podemos acabar cometendo erros graves, muitas vezes por melhor que sejam nossas intenções. E de boas intenções o inferno tá cheio.

Muitas vezes agimos como se o mundo fosse 8 ou 80. Se não está conosco está contra nós. Só que somos humanos e não somos A ou B, necessariamente. Não podemos ser divididos entre os bons e os Comensais da Morte. Entre eles, temos Fudges, Mundungos, Firenzes, até Narcisas Malfoys, que tacou o **da-se pra guerra bruxa mais importante do século porque achou que era mais importante, naquele momento, saber como estava o filho. Existem pessoas, sim, que podem ser melhor encaixadas em algum dos lados, verdade. Mas isso não as condena a ser boas ou más. J.K. Rowling deixaria Machado de Assis satisfeito, não tenho dúvidas. E seus leitores com certeza são pessoas certas na vida.

Se bem que a frase poderia ser também: “Percy não reconheceria uma piada nem que ela dançasse pelada na frente dele, usando só o abafador de chá de Dobby na cabeça”. Mas, quanto a isso, tia Jo já disse o suficiente.

Giovanna Florence mandou avisar que lerá todos os comentários e considerará cada mínimo aspecto deles.