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Até o fim

Alguns personagens em Harry Potter são polêmicos, outros, são meramente muito odiados. Mas entre as centenas de pessoas e criaturas fantásticas criadas por J.K. Rowling, Dobby é um dos poucos que consegue ser quase uma unanimidade entre os fãs: seu caráter e sua bondade são simplesmente fascinantes.

Na coluna de hoje, Bruno Contesini aborda um pouco mais sobre o sentimento que permeou toda a passagem de Dobby por Harry Potter: a rebeldia e o inconformismo, a certeza de que uma mudança era necessária para que ele próprio e seus semelhantes pudessem atingir algo melhor. Leia e deixe seu comentário!

Por Bruno Contesini

Certamente, um dos mais marcantes personagens da série Harry Potter é uma pequena criaturinha, de orelhas pontudas, refiro-me a Dobby! O elfo, conquistou o coração de milhões de pessoas ao redor do mundo, com uma personalidade absolutamente singular, mesmo para o mundo da magia!

No decorrer deste texto, pretendo discutir não apenas a personalidade de Dobby, mas ainda, a sua importância para a libertação de seus semelhantes, assim como as importantes lições que permanecem em nossos corações.

Os elfos domésticos eram vistos de início como criaturas absolutamente oprimidas, sendo maltratadas de maneira covarde, e sem qualquer possibilidade de encontrarem um futuro mais cristalino, obedecendo a constantes e infindáveis ordens de bruxos, com as mais diversas necessidades.

A primeira questão a ser levantada é sobre a inércia de atitude de tais criaturas, que em sua maioria, demoram para aceitar uma melhor condição de vida, mesmo quando esta, começa a parecer possível, a libertação através de roupas, é vista como uma ofensa, um sinal de fracasso na missão de servir.

Minha mente, particularmente, jamais conseguiu abandonar a imagem de Dobby vestindo dezenas das, tão cuidadosamente feitas por Hermione, vestimentas. Na ocasião, a garota acreditava estar atingindo um contingente realmente grande de elfos, sem saber, entretanto, que somente Dobby era o responsável pela torre da Grifinória, já que os demais, viam as atividades do F. A. L. E. (Fundo de Apoio à Libertação dos Elfos-Domésticos) como ofensivas.

Mas será que esses servidores do capricho dos bruxos eram leais, no real sentido da palavra? Sim, eles seguiam ordens, faziam tudo o que lhes fosse mandado, mas isso, sempre se deveu a uma obrigação, ou a uma falta de consciência de igualdade! A isso podemos dar o nome de LEALDADE? Acredito que a verdadeira lealdade é aquela que vai além das nossas obrigações ou de imposições sociais, ela deve ser gratuita, e prazerosa, do contrário, se torna opressão escravista.

A lealdade é mascarada por um sentimento de posse, mas mesmo diante disso, sempre esteve claro que estes elfos eram detentores de sentimentos, tal qual todos nós humanos, eles têm alegrias, frustrações, tristezas e questionamentos, mas durante anos, foram engolidos pela estrutura de poder que existia em seu mundo!

Eu pergunto a cada um dos meus leitores: não está claro uma relativa semelhança com o nosso mundo de hoje? Será que somos verdadeiramente independentes da nossa estrutura de poder? Ou a nossa independência, datada de 1822, só existe de fato nos livros de história? Será que não nos mantemos escravos de tantas desigualdades, impostas pelo sistema que nos governa? Somos os elfos do mundo real?

Percebemos em Harry Potter que o primeiro passo para a mudança foi representado na coragem de Dobby, servidor da mansão dos Malfoy, ele procurou Harry Potter para mostrar que uma consciência de igualdade começava a nascer, mostrou ser digno de uma coragem extraordinariamente grande, mas fez muito mais do que isso, iniciou um caminho que foi capaz de mudar seu mundo.

Porque aqueles que são verdadeiramente grandes não mudam, eles mudam o mundo que está a sua volta! Com a amizade de um dos primeiros bruxos descentes que conheceu, a pequena criaturinha começou a nos mostrar o sentido da lealdade, praticada, a partir daquele momento, em favor de um amigo.

Porque leal é aquele que protege, que se preocupa, mesmo que a proteção gere ossos fraturados por um incansável balaço, Dobby foi ali, tão grande quanto o maior dos sentimentos dos dois mundos: o amor! E eis que, páginas mais tarde, escuta de Harry aquele que considero o pior erro do jovem bruxo: “Nunca mais tente salvar minha vida”!

Por sorte e bondade, o elfo não deu ouvidos a este pedido, manteve-se ao lado de Harry em todos os momentos em que o bruxo necessitou, gratuitamente o ajudou sempre que pôde, demonstrando que a verdadeira obediência, vinha do coração.

Não posso deixar de citar a humildade do pequeno Dobby, que nunca teve o ganho financeiro como prioridade, trabalhava em Hogwarts simplesmente porque sabia que estava deixando um importante legado para o mundo, que caminhava, finalmente, no sentido de uma revolução de pensamento. Pouco importava quantos galeões semanais receberia, ele estava recebendo algo muito mais valioso, o amor, que tanto lhe fora recusado nos tempos de servidão.

A nós trouxas, que fazemos questão de manter um certo tempero mágico nas páginas da nossa vida, talvez falte alguém como Dobby, que não tenha medo da mudança, justamente porque a enxerga como pré-requisito de um progresso, que faça o bem por lealdade, sem que isso se deva a qualquer interesse secundário!

Entre tantas outras coisas, Dobby nos ensina que, apesar de vivermos em um mundo cercado de ambições, é possível se libertar da maioria delas, e viver buscando a felicidade e a construção de um lugar melhor e mais bonito, afinal, este é o único modo para um dia podermos dizer: “Que lugar bonito pra estar com um amigo”, neste dia, estaremos, de alguma forma, felizes por saber que Dobby foi, é e sempre será nosso amigo até o fim!

Bruno Contesini mandou avisar: Hermione confiou a ele a filial do F.A.L.E. no Brasil.