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As muitas cicatrizes de Harry

Ah, as cicatrizes… Nós nunca paramos de acumulá-las. Elas estão espalhadas pelos nossos corpos, lembrando de pequenos acidentes pelos quais passamos ao longo das nossas vidas. Algumas delas são até queridas, outras, muito odiadas, porém a não ser com métodos muito inovadores da medicina trouxa, as cicatrizes nos acompanharão pelo resto das nossas vidas.

E é fato que, em Harry Potter, esses pequenos cortes do passado têm um papel fundamental, e não apenas na testa do nosso protagonista. Bruno Barros lembra na coluna de hoje alguns fatos curiosos quanto às cicatrizes físicas e também quanto às psicológicas que são, em muitos casos, bem mais terríveis do que aquelas que aparecem.

Por Bruno Barros

“Você nunca se perguntou como arranjou essa marca na testa? Isso não foi um corte normal. Isso é o que se ganha quando um feitiço poderoso e maligno atinge a gente.” (Hagrid, PF cap. 4).

Uma das primeiras imagens que temos do bebê Harry, pelos filmes da Warner, é um grande close em sua lendária cicatriz, bem fina com a forma de raio em sua testa. Cicatriz esta que recebeu por meio de um poderoso feitiço que foi lançado contra ele e que, por sinal, não deu certo. Um pouco mais tarde em sua primeira viagem no Expresso de Hogwarts, seu pré-amigo Rony Weasley fica impressionado quando aponta para a testa de Harry, não acreditando mesmo que ele tenha a cicatriz.

E não paramos por aí. Teorias, desde as mais absurdas até aquelas semelhantes ao enredo original cercavam a cicatriz. Ela foi alvo de especulações durante toda a série e sabemos que é um item importantíssimo no enredo, ou não seria colocada nas últimas frases do último livro para marcar um final feliz.

Quem passa uma vida inteira sem coletar algumas cicatrizes? E elas não são necessariamente físicas. As piores são as morais. Que nos diga Alastor Moody, que coleciona suas cicatrizes físicas lembrando-se de cada bruxo das trevas que levou à Azkaban, sem contar a loucura moral e vigilância constante. Para Harry, o raio em sua testa queimava quando pressentia que algum mal se aproximava, como seu bisbilhoscópio particular. Muito maior que a marca na testa, falo das marcas na personalidade do menino que sobreviveu.

Órfão, que cresceu com os tios tendo uma visão deturpada dos próprios pais. Qual o tamanho da cicatriz deixada pelos eventos da infância do jovem Harry? Bem, um raio não seria suficiente para ilustrar.

Até que uma luz se acende ao fim do túnel e um gigante derruba a porta da sua casa e informa que uma grande aventura o espera. Por mais difícil que tenha sido a sua história, Rowling escreveu a sensibilidade natural de Harry como um jovem pacífico. Ele poderia ter aceitado a proposta de Voldemort em seu primeiro ano na escola, de entregar a pedra e se juntar a ele, mas a coragem o fez lutar contra o mal e não fazer parte dele.

O menino Potter possuía todos os motivos para se tornar um rebelde e percebemos que em seus anos em Hogwarts, cumprir as regras nunca foi muito legal para ele, mas a propósito, para que servem as regras se não para serem quebradas? Vale a pena ressaltar que ele sempre fazia o que achava que era correto, sem se preocupar com as consequências.

De uma coisa não temos dúvidas: cicatrizes podem ser úteis. Elas não são todas exclusivamente bonitas, como um raio fininho na testa, às vezes elas apenas servem como um mapa do metrô de Londres. A de Harry não o incomodara nos últimos dezenove anos. E até onde sabemos, tudo está bem.

Bruno Barros me contou que, embora nunca tenha cortado a própria testa, carrega Harry Potter como uma linda cicatriz interior