Artigos

O mito da mandrágora

As mandrágoras ficaram famosas em Harry Potter e a Câmara Secreta, graças à poção originária delas, que serviu para trazer de volta à vida os personagens petrificados pelo basilisco. Além disso, a aula da Profª Sprout sobre as mandrágoras é muito lembrada, tanto no livro quanto no filme: seu grito é fatal para todos aqueles que o ouvem.

Nosso colunista Orlando Louzada se aproveita de seus conhecimentos na ciência trouxa da Biologia para nos falar um pouco do mito das mandrágoras inserido em nosso mundo. Leia a coluna e registre você também as suas experiências com as mandrágoras!

Por Orlando Louzada

Um dos assuntos que mais me impressionam no mundo atual é a botânica (devo dizer que uma frase cicatrizada na minha mão arde intensamente nesse momento). Certo, nem todo biólogo é perfeito. Mas um assunto que realmente me instiga, é a herbologia, em especial, as mandrágoras.

Se você pensou em uma planta, cuja raiz assemelha-se a um ser humano, e que o grito pode causar sérios danos a quem a incomoda, pensou certo. Mas se você pensou, o que acho difícil, no vegetal com propriedades alucinógenas, analgésicas, e narcóticas, pertencente à família Solanaceae, também pensou certo. Poucos trouxas sabem de sua existência em seu mundo. Mas sim, ela existe mesmo, e pode confiar quando digo que suas raízes não se parecem em nada com seres humanos: é um vegetal simples, cujos frutos se parecem muito com maçãs e exalam um odor muito desagradável.

Ao longo da história, podem ser percebidos vários relatos sobres estas plantas. Na Bíblia, a mandrágora é objeto de desejo, e usada como pagamento para que Raquel alugue seu marido à Léia, que desejava um filho, e que possuía mandrágoras. Léia obteve o desejado filho, enquanto Raquel morreu estéril e foi punida por Deus, como pode ser lido no texto bíblico de Gênesis.

No decorrer dos séculos, foram atribuídas às mandrágoras estranhas propriedades, que até hoje vem sendo pesquisadas e desmistificadas. Na Grécia antiga, Teófrato, um sábio filósofo, relatou práticas, digamos, estranhas, acerca do cultivo de tais plantas. Segundo ele, aquele que fosse plantar, devia primeiro, inclinar-se na direção do sol, e depois, cavar um buraco com uma espada de prata, onde o broto seria depositado. Sua colheita deveria ocorrer durante a noite apenas, e devia-se tomar muito cuidado, pois, se acordadas, suas raízes emitiam sonoro grito, que poderia matar ou enlouquecer. Não há necessidade de dizer, que tais práticas são mito.

Durante o período de inquisição, onde supostas bruxas eram queimadas vivas, as mandrágoras eram queimadas, e suas cinzas guardadas entre lenços de seda ou linho, pois acreditava-se que isso conferia certa felicidade ou fertilidade ao seu possuinte. Devido a essas crenças, tal planta foi tida como maldita, e severas penas eram aplicadas a todos os que eram encontrados possuindo-as.

Já na literatura e ficção, há quem diga que Julieta, aquela que era apaixonada por Romeu no romance de Shakespeare, tomou algo extraído de uma mandrágora para se fingir de morta.

Bem, mas sabe-se que essas plantas não são nem de longe místicas nem mágicas no mundo real, pelo contrário. Elas possuem lindas flores violetas, e são encontradas em ambientes nórdicos, e, ao passar por uma, talvez você nem percebesse sua presença ali.

Eu gostaria de terminar de escrever esta coluna, mas ouço um grito muito agudo lá fora e devo ir ver o qu…

Orlando Louzada manda avisar que está bem. Suas mandrágoras ainda eram muito jovens.