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Reflexões sobre o bullying

Nossa nova colunista Amanda Guidorzi escolheu estrear no Potterish com um tema recorrente e polêmico: o bullying. Ele está presente em quase todas as escolas do mundo trouxa, e lamentavelmente, também existe no mundo da magia.

Amanda nos convida a encerrar este domingo com uma reflexão acerca do bullying: será ele levado a sério demais? Ou é tão somente uma “brincadeira de criança”? Não deixe de ler a coluna e nos dizer o que você acha dessa polêmica.

Por Amanda Guidorzi

Particularmente acredito que os trouxas andam levando o bullying de forma tortuosa. Esse conceito, que virou crime, é constantemente distorcido e possui tantas facetas que as pessoas tendem a ter dificuldades para julgar o que é passível de punição e o que é apenas uma brincadeira (às vezes de mau gosto, mas ainda assim brincadeira).

Na adolescência todos temos apelidos e acabamos sendo caçoados de alguma forma, em algum momento, por algum infeliz que cruza nossos caminhos (principalmente os escolares – a não ser que você seja integrante da turma mais pop da escolinha. O que estranhamente existe).

Nossa rainha J.K. Rowling trata do tema antes mesmo dele virar modinha, e é possível mostrar as diferenças entre o real bullying e as brincadeiras infantis e contornáveis. Em Harry Potter e O Cálice de Fogo, o protagonista da série recebe apelidos e é ridicularizado por colegas de Hogwarts ao ser escolhido para o Torneio Tribruxo, porém nesse caso nenhum mal foi feito ao Harry. Apenas brincadeiras de mau gosto que cessaram após a sua brilhante performance no torneio. Outro exemplo são as chacotas de Rony sobre a Murta-Que-Geme, piadas tolas e sem nenhum sentimento de maldade.

Avançando um estágio e entrando na real discriminação, temos como exemplo Malfoy xingando Hermione de sangue-ruim durante a saga. Alguns podem achar isso mais sério e complicado do que outros, mas a realidade é que era um xingamento sem danos físicos, porém nesse estágio essa descriminação já pode ser vista como um assédio moral.

Normalmente em seus livros, JK mostra as brincadeiras de mau gosto, piadas e “zoações” provocadas por todo tipo de personagens (até mesmo por nosso trio preferido), contudo há um caso específico de bullying real que é retratado ao final do quinto livro da série.

Harry acaba de sair de uma conversa com Nick Quase Sem Cabeça, a respeito da morte de Sirius, e depara-se com Luna pregando cartazes no mural da escola. Ao perguntar a ela o que está fazendo, ela diz que está pedindo aos alunos que a descriminam, a chamam de “Di-Lua” e roubam suas coisas para que as devolvam, já que o ano acabou e ela quer levá-las para casa. Harry até mesmo esquece um pouco de sua dor pela recém-morte de seu padrinho, e passa a sentir pena de Luna, sentimento esse que a maioria de nós, leitores, compartilhamos nessa passagem. Essa situação é consequência de um comportamento passível de recriminação e, esse sim, punível, afinal de contas além de caçoar da garota, estavam roubando-a.

A lição apresentada por Rowling, e que pode ser aprendida através da emoção além da razão, é de que aceitar as diferenças dos outros, por mais estranhas que pareçam, nos torna nobres e pode nos possibilitar coisas inimagináveis… Afinal, quem diria que a pessoa a ajudar Harry a encontrar a Horcrux do Diadema de Rowena Ravenclaw, seria nossa querida, “amável e boa”, Luna?

Prefiro sempre partir da premissa de que se o que ocorre é apenas uma brincadeira, então não é bullying e sim uma bobagem de adolescente, porém caso essa brincadeira viole algum outro tipo de direito do ser humano a quem ela diz respeito (como furto, violação corporal, violação de privacidade e assédio moral – crimes já descritos em leis), isso sim é realmente um problema e deve ser tratado com toda a seriedade.

Amanda Guidorzi é contra o bullying – e espera ter escrito essa palavra corretamente