Potterish

O casamento igualitário e a fibra moral da comunidade LGBT

O casamento igualitário e a fibra moral da comunidade LGBT

Nas últimas semanas o povo brasileiro viu o Pastor Marco Feliciano, que já publicou mensagens racistas, homofóbicas e machistas em seu Twitter pessoal, ser eleito presidente da Comissão dos Direitos Humanos e Minorias na Câmara de Deputados. Após assumir o posto, inúmeros protestos de defensores de direitos humanos, artistas, deputados e organizações internacionais foram realizados, todos reividicando a renúncia do pastor.

Enquanto isso, nos Estados Unidos está sendo analisada a possibilidade da modificação de leis afim de permitir o casamento entre pessoas do mesmo sexo. Nesse contexto, nossos amigos da Harry Potter Alliance publicaram recentemente uma bela declaração sobre o assunto, que decidimos traduzir e compartilhar com vocês devido ao momento que estamos passando em nosso país.

“Acho que lá no fundo todos nós sabemos que uma das razões pela qual Harry Potter é tão popular é porque artisticamente ele transmite uma mensagem que é muito necessária nessa era – que as forças do medo, intolerância e ódio vêm e vão, mas elas não são páreas para o poder do amor. Na Harry Potter Alliance temos orgulho por nos colocarmos do lado da inclusão, dos Direitos Civis e do amor. Posicionar-se a favor do casamento igualitário é, portanto, um encaixe perfeito para nós. Acreditamos na construção de uma sociedade que demonstra a esta nação e ao mundo que a conexão humana pode ser baseada nos extensos princípios do amor, ao invés da ilusão contraída do medo. Acreditamos no trabalho de mãos dadas, por um mundo baseado nos direitos humanos, bem como no direito de ser humano.” [Continue lendo…]

Assim como a HPA, o Potterish também é a favor de direitos iguais a todos os seres humanos, independente da cor, etina, crença e orientação sexual. Embora essa notícia não seja necessariamente sobre Harry Potter, os valores passados pela série nos levam à necessidade de nos posicionar e lutar pelo que é justo e certo.

Acreditamos, como J.K. Rowling, que o amor é a única magia que existe de verdade, e este é um tipo de magia que nunca deve ser reprimido, independente da forma como se manifesta ou da condição de quem o propaga.

CASAMENTO IGUALITÁRIO
Declaração

Harry Potter Alliance ~ Andrew Slack
02 de abril de 2013
Tradução: Daniel Mählmann
Revisão: Danilo Chalita

“Aos meus colegas membros da comunidade heterossexual:

Brancos intolerantes sustentavam que estavam certos em manter os negros escravizados, mortos, torturados, impedidos de votar, de entrar em restaurantes, de andar em certas calçadas, lanchonetes, banheiros e pontes e, sim, de se casar com brancos. Mas eles perderam. Há poucos anos, um homem branco fanático se recusou a casar um casal de Louisiana por ser inter-racial. A faísca de indignação foi tão grande que o governador conservador daquele estado do Sul pediu a demissão desse homem.

Alguns fãs de Harry Potter não têm gostado do que a HPA tem a dizer sobre o casamento igualitário. Mas eu acredito que esse direito será garantido às pessoas da comunidade LGBT. Um dia, governadores conservadores dos estados Sulistas vão olhar para aqueles que são contra o casamento igualitário com o mesmo desprezo que o governador conservador da Louisiana olhou para aqueles que se opunham ao casamento inter-racial em 2009.

E enquanto muitos fãs de Harry Potter contra o casamento igualitário nos pediram para olhar para “os dois lados” do argumento, como se um argumento só tivesse dois lados e pronto, eu preferiria que você e eu, juntos, pudéssemos olhar para os nossos privilégios em sermos heterossexuais nessa sociedade.

Nós nunca tivemos que lidar com o isolamento de manter um segredo sobre a nossa sexualidade ou identidade de gênero. Nunca precisamos ter a coragem de sair do armário e enfrentar qualquer isolamento como consequência disso, e dizer, ‘Mamãe e papai, eu sou heterossexual ou sou exatamente do gênero que vocês pensaram que eu fosse.’

Nós nunca tivemos que, de novo e de novo e de novo, quando encontramos pessoas pela primeira vez, nos perguntar se eles não vão gostar de nós quando descobrirem que somos heterossexuais. Nunca tivemos de ouvir sobre assassinatos de heterossexuais por serem heterossexuais e temer por nossas vidas por causa da nossa sexualidade. Nunca tivemos que temer por nossos trabalhos com base na nossa sexualidade. Nunca ouvimos histórias comoventes de inúmeros homens que a sociedade dominante deixou morrer de AIDS sem tentar fazer nada para ajudar – porque eles eram heterossexuais.

Nunca tivemos de ser informados de que não tínhamos o direito de casar com a pessoa que amamos. Que se ela está morrendo no hospital, nós não podemos visitá-la, e que nossos filhos que temos criado juntos podem ser retirados de nós e dados a outra pessoa. Nunca nos foi dito que não estamos autorizados a adotar pelo motivo da heterossexualidade.

Tais privilégios poderiam nos levar a fazer uma pausa. Poderiam nos fazer compreender que quando depreciamos pessoas que estão na comunidade LGBT, quando lhes negamos seus direitos, estamos negando pessoas que não fizeram nada além de agir com coragem, porque nós tivemos o privilégio de não precisar chegar à questão da nossa sexualidade. Estamos discriminando pessoas que, por sua própria existência às injustiças cometidas sobre elas, têm mostrado verdadeira coragem, bravura e, sim, FIBRA MORAL.

Estamos discriminando nossos médicos, soldados, artistas, policiais, professores, ministros, rabinos, vizinhos, irmãs, irmãos, parentes, e qualquer pessoa que sabemos que é LGBT, incluindo potencialmente nossos próprios filhos e netos. Não vamos mais pregar aqueles que são LGBT em uma cruz de crucificação social. Em vez disso, vamos olhar um para o outro como iguais, aprender uns com os outros e usar as lições que aprendemos em Harry Potter sobre o poder do amor, para o coração.

Os 11 anos que Harry Potter viveu em um armário sob a escada pela sua identidade como um bruxo lembra-nos que ninguém deveria ter que viver dentro de um armário por sua identidade. Dumbledore, e nós, como leitores, entendemos com muita simpatia aqueles como Hagrid, um meio-gigante, e Lupin, um lobisomem, lutando para viver no armário por causa de sua identidade. Dumbledore permite que eles venham para Hogwarts, apesar das objeções daqueles que sabem de suas identidades – na HPA nós temos passado anos trabalhando para criar um ambiente onde aqueles que ainda vivem dentro e os que já saíram do armário devido à sua orientação sexual não sejam legalmente submetidos à intolerância existencial e preconceito irracional.

Na página 490 de ‘Enigma do Príncipe’, quando no meio da discussão sobre perspectiva de um casamento que iria desafiar o status quo da definição de casamento “perfeitamente normal, muito obrigado”, McGonagall diz, “Dumbledore teria se sentido o mais feliz dos homens em pensar que havia um pouco mais de amor no mundo”.

Acho que lá no fundo todos nós sabemos que uma das razões pela qual Harry Potter é tão popular é porque artisticamente ele transmite uma mensagem que é muito necessária nessa era – que as forças do medo, intolerância e ódio vêm e vão, mas elas não são páreas para o poder do amor. Na Harry Potter Alliance temos orgulho por nos colocarmos do lado da inclusão, dos Direitos Civis e do amor. Posicionar-se a favor do casamento igualitário é, portanto, um encaixe perfeito para nós. Acreditamos na construção de uma sociedade que demonstra a esta nação e ao mundo que a conexão humana pode ser baseada nos extensos princípios do amor, ao invés da ilusão contraída do medo. Acreditamos no trabalho de mãos dadas, por um mundo baseado nos direitos humanos, bem como no direito de ser humano.

Que esta seja uma verdade que possa ser ecoada no Congresso dos Estados Unidos, na Suprema Corte, no Salão Oval, e na mesa de cada jornalista, político e pregador. Que seja uma verdade que ecoe muito além das fronteiras dos Estados Unidos, em cada canto do nosso mundo.

Nas palavras do maior bruxo do mundo, “As diferenças de costumes e língua não significam nada se os nossos objetivos forem os mesmos e os nossos corações forem receptivos.” Que os nossos corações permaneçam receptivos e nossos objetivos sejam um mundo onde todos nós tenhamos o direito básico de ser humano.

E nas palavras da banda Harry and the Potters e da Harry Potter Alliance, ‘A arma que temos é o amor’.

Andrew Slack
Harry Potter Alliance, Diretor Executivo”