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Revista Veja entrevista J.K. Rowling em Edimburgo

A edição da primeira semana de dezembro da maior revista do Brasil, a Veja, que chega hoje às bancas de todo o país, no mesmo dia do lançamento de “Morte Súbita, conta com uma entrevista de J.K. Rowling ao repórter Bruno Meier.

A breve entrevista foi concedida na cidade onde a autora vive atualmente, em Edimburgo, a capital escocesa, e é acompanhada de um texto feito por Isabela Boscov, que analisa e resume, com spoilers, rapidamente o novo romance de Jo.

A senhora foi traduzida para 73 línguas e vendeu 450 milhões de livros a, na maioria, crianças e adolescentes. Como esse público a aborda hoje?
A abordagem mais recente é “você foi minha infância”. Essa me faz chorar.

Uma cópia do artigo contendo a entrevista foi enviada pela editora Nova Fronteira a todos os cadastrados no site de “Morte Súbita” e você pode vê-la clicando neste link.

Ou confira em notícia completa toda a matéria em forma de texto.

J.K. Rowling
O estado do mal-estar

Veja – Isabela Boscov
05 de dezembro de 2012

O estado do mal-estar

Na estreia adulta de J.K. Rowling, o pior da natureza humana vem à tona na Inglaterra assediada pela crise.

Barry Fairbrother, conselheiro da paróquia de Pagford, cai morto aos 40 e poucos anos. Inicia-se assim uma guerra entre as facções do conselho pela chance de ocupar sua vaga e, assim, fazer pender para um lado ou para o outro a decisão sobre uma questão que há décadas mobiliza a minúscula, charmosa e pastoral Pagford. Anos antes, o vilarejo ganhara um vizinho indesejável: o conjunto Fields, um apinhado de casas feias e malfeitas que abriga a camada mais desprivilegiada da cidade adjacente de Yarvil. Pagford não só tem de destinar receita a Fields, como é obrigada a aceitar os filhos desses drogados e desocupados (é como alguns generalizam) em suas clínicas e escolas. Mas, com cortes no orçamento à vista – a crise, sempre ela -, o arranjo está para ser reestudado. Barry, um egresso de Fields que superara suas desvantagens graças à educação recebida em Pagford, advogava com carisma em favor de manter a ligação com o conjunto habitacional. Com sua morte, ficará mais fácil à corrente oposta, liderada pelo xenófobo Howard Mollison, impor sua visão – desde que Howard consiga eleger seu filho, e que os ressentimentos e tensões de raça, classe e origem que correm subterraneamente na cidadezinha não aflorem de vez. Se o enredo de Morte Súbita (tradução de Izabel Aleixo e Maria Helena Rouanet; Nova Fronteira; 512 páginas; 49,90 reais) pouco parece ter em comum com a magnum opus da escritora J.K. Rowling – a série Harry Potter – basta reexaminá-lo para desfazer essa impressão. Preconceitos, juízos superficiais e o desejo furioso de poder eram os motores de Harry Potter. E, mais ao ponto ainda, a maneira inconsciente como os mais velhos descartam o poder de seus filhos de alterar o rumo dos acontecimentos será crucial em Morte Súbita, que deve chegar às livrarias nesta quarta-feira.

É tentador descrever os primeiros capítulos de Morte Súbita como um Harry Potter sem magia, em ambos os sentidos: o número de personagens é imenso, e os toques insistentemente pitorescos são quase sempre supérfluos. Pouco a pouco, porém, a autora contém esses vícios em níveis aceitáveis: do primeiro terço para a frente, sua prosa adquire uma qualidade que nunca se manifestara em Harry Potter, e a trama ganha proporcionalmente em interesse. É um avanço expressivo e também necessário, já que aqui não há figuras de que o leitor possa tomar partido sem ressalvas. Venais, fracos, estúpidos, truculentos, vaidosos, manipuladores: os moradores de Pagford, inclusive os jovens, todos ostentam um ou vários desses atributos, e alguns deles nem têm qualidades às quais conjugá-los. Flagrados individualmente, no santuário de seus pensamentos, ou em público, imaginando corresponder à imagem que fazem de si mesmos, eles compõem um estudo agudamente verossímil daquelas características – o egoísmo e a tendência a tomar parte da verdade como a verdade inteira – que afligem a humanidade em geral e as pessoas que se sentem ameaçadas em particular. Adeus, Hogwarts: a Europa assediada por desigualdades étnicas, sociais e econômicas, que e aferra ao ideal do estado de bem-estar social desde que ele não necessariamente tenha de se aplicar ao vizinho, é agora o território de Rowling.

“A liberdade é mais difícil”
Na semana passada, J.K. Rowling, de 47 anos, a primeira autora a ficar bilionária com livros, falou ao repórter Bruno Meier de Edimburgo, na Escócia, onde mora.

Da ideia inicial até o lançamento do sétimo e último livro, As Relíquias da Morte, a senhora esteve envolvida durante dezessete anos com a série Harry Potter. Foi difícil a transação para uma história sem elementos sobrenaturais e direcionada para adultos?
A grande diferença não está tanto na faixa etária dos leitores como no tipo de livro que eu queria escrever. Eu buscava desafios. A fantasia tem suas próprias regras, e certos aspectos do comportamento humano, quando você os aborda num livro de fantasia, devem estar subordinados às demandas do enredo. Essa não é necessariamente uma desvantagem. Eu gostava de trabalhar com restrições de gênero. Com Morte Súbita, tive total liberdade – a qual, ao invés de tornar o trabalho mais fácil, o tornou mais difícil. Em uma história livre de convenções preestabelecidas, cabe ao escritor encontrar a estrutura e a linha moral que vai seguir.

Como a senhora definiria seu novo trabalho?
Ele revela meus sentimentos a respeito de uma certa atitude que brota nos tempos de crise econômica e é alimentado por essa – a noção de que certas vidas, são menos importantes, e contam menos, do que outras. Eu diria que o livro lida com grandes ideias em pequena escala: as decisões banais de um indivíduo podem ter consequências dramáticas sobre outros.

Como foi o processo de escrita?
Entre idas e vindas, Morte Súbita me tomou cinco anos. No começo, escrevi muito livremente: estava travando conhecimento com os personagens e desenvolvendo as histórias por trás da história, mesmo sabendo que muito daquele material preliminar nunca seria usado na versão final. Depois vieram o trabalho pesado, a construção e o desmonte.

A senhora foi traduzida para 73 línguas e vendeu 450 milhões de livros a, na maioria, crianças e adolescentes. Como esse público a aborda hoje?
A abordagem mais recente é “você foi minha infância”. Essa me faz chorar.