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Poemas potterianos

Fiquei surpresa quando chegou em minha casa um pacote do Canadá. Porém, logo lembrei que se tratava do livro “Half-Blood Poems” (Poemas Mestiços) de Christine Lowther. Esperava uma obra que mostrasse uma visão de fã sobre os livros de Rowling, como o “Harry e seus fãs”, que vocês conferiram na semana passada.

Porém, os poemas de Lowther têm algo especial: a história de Harry Potter tem várias semelhanças com a da autora, começando pelo fato dela ter sido privada do contato com seus pais desde pequena. Os porquês e o conteúdo dos poemas você encontra na resenha deste domingo.

“Half-Blood Poems”, de Christine Lowther

Poemas potterianos Tempo: para ler de um tiro só no fim de semana
Poemas potterianos Finalidade: para se emocionar
Poemas potterianos Restrição: para quem não gosta de melodrama
Poemas potterianos Princípios ativos: poesia, Harry Potter, traumas, maturidade, morte.

Poemas potterianos

Christine adquiriu uma cicatriz quando criança por causa de uma pedra que um colega atirou em seu rosto. Por pouco, não a matou. Uma outra pedra foi o lugar em que sua mãe foi atirada por seu pai, ambos poetas. Ele não suportou o sucesso e o talento da companheira e acabou com sua vida. Foi preso, deixando a pequena Christine com seus parentes, suas dúvidas e sua busca pelo sentido da vida.

Poemas potterianos

A autora consegue ligar a sua história com a de Harry Potter de forma muito sutil, emocionante e verdadeira. Os poemas são divididos em sete partes, uma para cada livro de Rowling, versando sobre os elementos-chave da narrativa: a sensação de estar em casa na escola, o trem, o banco, o Beco Diagonal, a fênix, Azkaban, o Cálice, o dragão, o assassinato, numa mistura de análise, reflexão e identificação.

A figura de Voldemort, que Lowther relaciona algumas vezes ao seu pai, também é vista pela poeta em si mesma, como em “Proof”, sobre a natureza do mal (tradução de poemas é algo complexo, que deve ser feito por linguistas, por isso, prefiro transcrever em inglês):

[…]
Like Voldemort, I’m trying
to make up for being here by accident:
powerful is purposeful.
Invisible or invincible? No hesitation.
From our place of fear
we’ll do anything
to make ripples,
force an impact on the lives around us,
demanding tattos, leaving scars.
A wave of enmity is, after all,
proof.

Também é interessante quando Lowther se coloca na mente dos personagens de Harry Potter, como em “Ginevra of the Journal”, sobre Gina Weasley e sua experiência na Câmera Secreta, e o próprio Harry, quando vê sua mãe no Espelho de Ojesed e a escuta assim que um dementador se aproxima.

O sacrifício de Lily, fator central de “Harry Potter”, como a própria Rowling já disse, é relacionado ao sacrifício da mãe de Lowther, que permaneceu num casamento perigoso por sua filha e, ao falecer, a protegeu de um homem mau, mas deixou um trauma que nunca será totalmente superado.

[…]
I’m in a lot of trouble
with my teachers, who are everyone,
a world full of wiser-than-I,
expecting me to outwit a dragon,
come up holding the golden egg.

Outro poema de destaque é “Legilimency”, uma reação a uma fala de Snape para Harry em “Ordem da Fênix”. O professor diz ao aluno que ele não deve se sentir triste e injustiçado pelos traumas de seu passado, afinal, “a vida não é justa”.

Oh Severus, skilled Occlumens,
control me, know my mind;
sever me, expertly unhinge me:
unleash my worst memories,
be severe upon me;
lash me with your desert-dry voice
scorn me
and, despite your desdain
or because of it,
restore me.

Assim como Harry, Lowther vai amadurecendo e se encontrando aos poucos dentro de sua jornada pela vida e usa suas experiências para tentar fazer coisas boas. Autora de outros livros de poesia e professora de workshops de escrita no Canadá, Lowther compartilha boa parte de seus trabalhos neste blog. Infelizmente, seus livros ainda não têm publicação no Brasil.

Resenhado por Sheila Vieira

113 páginas, Editora Zossima Press, 2011.