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Com quantos animais se faz uma revolução?

Uma história sobre animais que decidem fazer uma revolução. Parece um conto infantil, porém, como tudo que é escrito por George Orwell, há um enorme subtexto. Em uma de suas obras mais marcantes, ao lado de “1984”, o autor constrói uma grande análise política.

Estamos falando de “A Revolução dos Bichos”, livro lançado em 1945 que traz o ponto de vista do escritor sobre a Revolução Russa e como ela acabou distorcendo o socialismo, bem como ameaçou o capitalismo que imperava no mundo ocidental. Saiba como uma obra protagonizada por bichos se tornou um dos clássicos da ciência política na resenha de Gabriela Alkmin!

“A Revolução dos Bichos: um conto de fadas”, de George Orwell

Com quantos animais se faz uma revolução? Tempo: para ler de um tiro só no final de semana
Com quantos animais se faz uma revolução? Finalidade: para pensar
Com quantos animais se faz uma revolução? Restrição: para quem tem dificuldade com pontos de vista alternativos
Com quantos animais se faz uma revolução? Princípios ativos: animais, sátira, política, socialismo, Revolução de 1917.

Com quantos animais se faz uma revolução?

Reunidos na Granja do Solar, os animais escutam o discurso do velho porco Major. Antes de partir, ele ensina aos bichos a canção “Bichos da Inglaterra”, explicando que eles deveriam lutar contra a exploração praticada pelos homens. Após sua morte, os porcos, os bichos mais inteligentes da granja, lideram a revolução que estabeleceria o “animalismo”.

Com quantos animais se faz uma revolução?

O dono, Sr. Jones, é expulso, novas regras são estabelecidas, bem como uma divisão do trabalho, e um novo nome é criado: Granja dos Bichos. Entretanto, com o passar do tempo, novas práticas são adotadas, desvirtuando o sentido original da revolução. O antigo lema, “Quatro pernas bom, duas pernas ruim”, é, aos poucos, substituído por um novo: “Todos os bichos são iguais, mas alguns bichos são mais iguais do que os outros”.

“A Revolução dos Bichos” foi escrito, ousadamente, pelo inglês George Orwell em 1945, numa época em que a Inglaterra precisava da ajuda da União Soviética na Segunda Guerra Mundial. Curiosamente, a história, muito utilizada durante a Guerra Fria como propaganda capitalista, não tinha essa intenção: Orwell não queria criticar o socialismo, mas sim denunciar a experiência soviética que, ao distanciar-se dos ideais da Revolução de 1917, seria, para ele, prejudicial ao desenvolvimento do socialismo no Ocidente.

Em uma linguagem simples, a sátira desenvolvida pelo inglês nos convida a não apenas revisitar como também repensar a História. A revolução dos bichos da Granja do Solar pode ser facilmente comparada à história soviética: dos fundamentos do animalismo, doutrina que almeja acabar com a exploração dos bichos, ao choque entre dois dos seus líderes, Bola-de-Neve e Napoleão, figuras que representam, claramente, Trótsky e Stálin.

Muito mais do que uma crítica muito bem elaborada aos rumos da Revolução de 1917, a história, definida pelo autor no subtítulo como um “conto de fadas”, traz uma discussão muito importante sobre o poder, seu impacto nas pessoas e suas conseqüências. Trata-se de uma ótima leitura para aqueles que se interessam por história e política.

Resenhado por Gabriela Alkmin

147 páginas, Editora Companhia das Letras, publicado em 2007.
*Título Original: Animal Farm: a Fairy Story. Publicado originalmente em 1945.

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