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Seis modos de mudar o mundo

Já se passaram dez anos desse novo milênio e a humanidade avança em ritmo cada vez mais rápido, principalmente após a criação da internet. No meio dessa revolução, ainda existe espaço para o grande objeto do segundo milênio, o livro?[meio-2] Antes de falecer, Italo Calvino preparava uma série de palestras a serem apresentadas em Harvard, que discutiam o futuro da Literatura. Eram seis propostas para o próximo milênio, mas apenas cinco foram terminadas pelo autor. Quer saber quais são? Leia a resenha e descubra. Se você pudesse dar uma sugestão à humanidade, qual seria?

“Seis propostas para o próximo milênio”, de Italo Calvino

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Seis modos de mudar o mundo Princípios ativos: leveza, rapidez, exatidão, visibilidade e multiplicidade.

Seis modos de mudar o mundo

A morte impediu que Italo Calvino completasse a série de conferências que o autor havia preparado para apresentar na Universidade de Harvard. Sua longa reflexão sobre os rumos da Literatura e da humanidade foi condensada em seis palavras: leveza, rapidez, exatidão, visibilidade, multiplicidade e consistência, a única que não chegou a ser escrita.

Seis modos de mudar o mundo

Calvino acreditava que o fim do segundo milênio trazia uma grande incerteza a respeito dos rumos da escrita. Se a era de 1000 a 2000 foi marcada pelos livros, como eles sobreviveriam à era da tecnologia pós-industrial? A razão, para ele, é simples: há coisas que apenas a Literatura pode oferecer.

Em defesa da Leveza, Calvino explica que a busca de compreender o espetáculo do mundo, a aventura, os problemas, a História, acaba nos levando muitas vezes a não dar conta de tudo isso. O escritor também deve buscar o “pesadume, a inércia, a opacidade do mundo”. Colocar peso na linguagem e deixá-la cada vez mais espessa não garante intensidade naquilo que é dito.

A Rapidez é, na verdade, um “segredo de ritmo”. Calvino pode explicar melhor: “a narrativa é um cavalo: um meio de transporte cujo tipo de andadura, trote ou galope, depende do percurso a ser executado, embora a velocidade de que se fala aqui seja uma velocidade mental”.

A Exatidão é objetivamente (como não poderia deixar de ser) definida por Calvino. Um projeto de obra bem definido, invocar imagens visuais do que será contado e uma linguagem que seja capaz de traduzir abstrações. Claro que o pensador reconhece que a língua não é capaz de absorver toda a substância do mundo, mas é dever (e o prazer) do escritor buscar essa missão.

Em um universo dominado pela mídia, a Visibilidade torna-se ainda mais relevante. O escritor deve obrigatoriamente trabalhar com imagens. Relacioná-las com as palavras, reconhecer seu poder de significado. “Ela é que irá guiar a narrativa na direção em que a expressão verbal flui com mais facilidade, não restando à imaginação senão seguir atrás”.

Também fruto do mundo moderno, a Multiplicidade é a capacidade de estabelecer redes de conexão entre os fatos. Mesmo que a incapacidade de chegar a conclusões seja um impedimento, é possível tecer uma linguagem em conjunto, interagir, fazer referências.

“No momento em que a ciência desconfia das explicações gerais e das soluções que não sejam setoriais e especialísticas, o grande desafio para a literatura é o de saber tecer em conjunto os diversos saberes e os diversos códigos numa visão pluralista e multifacetada do mundo”, explica Calvino.

Por mais que o final não tenha sido concluído, a busca pela Consistência fica a cargo de todos que pretendem viver traduzindo o mundo em palavras. Uma busca que parece sempre ser incompleta, mas que move muitas pessoas. Gente que lê e escreve.

Resenhado por Sheila Vieira

141 páginas, Editora Companhia das Letras, primeira edição em 2008.
*Título original: Lezioni americane – Sei proposte per il prossimo millennio. Publicado originalmente em 1988.

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