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Criador e criatura

Está sem nada pra fazer no feriado? Que tal ler aquele clássico que você conhece, sabe até como termina, mas nunca chegou a folhear? As Resenhas do Ish sugerem o maior personagem de terror da Literatura, escrito por uma das maiores autoras do século XIX. [meio-2] “Frankenstein”, de Mary Shelley, é uma história sobre um mundo que descobria os limites da ciência e como ela afetaria a condição humana e o auto-controle das pessoas. Confira a resenha de Gabriela Alkmin sobre um monstro, eternizado nas páginas e nas telas. Claro, também deixe seu comentário.

“Frankenstein”, de Mary Shelley

Criador e criatura Tempo: para ler de um tiro só no fim de semana
Criador e criatura Finalidade: para ficar na ponta da cadeira
Criador e criatura Restrição: tem dificuldade com pontos de vista alternativos
Criador e criatura Princípios ativos: terror, ciência, ambição, preconceito, vingança.

Criador e criatura

Quando Walton, um ambicioso capitão inglês, resolveu se aventurar numa arriscada viagem em busca de uma passagem para o Pólo Norte, ele não imaginava a curiosa história de que tomaria conhecimento. Numa região hostil, em que não esperava encontrar nenhum sinal de vida além da tripulação do navio, Walton avista Victor Frankenstein, entre a vida e a morte, acolhendo-o na embarcação.

Criador e criatura

Muito impressionado com a inteligência do novo passageiro, Walton fica muito interessado em sua história – tanto que decide fazer anotações dos relatos de Frankenstein. Ele fica sabendo que o novo amigo, outrora tão dedicado aos estudos das ciências naturais, havia desafiado a vida e a ciência, criando um ser vivo. Entretanto, o projeto não saíra como o esperado, gerando uma criatura que lhe causava repugnância e a quem jurara perseguir até os últimos dias – razão pela qual se encontrava naquela região.

“Frankenstein, ou: o Moderno Prometeu” foi escrito pela britânica Mary Shelley quando ela era ainda muito jovem, após passar um verão em companhia dos escritores John Polidori, Lord Byron, nome importante do ultra-romantismo, e Percy Shelley, seu futuro marido, compartilhando histórias sobrenaturais. Lord Byron, então, propôs que todos eles escrevessem histórias sobre fantasmas. Dessa sugestão, Mary Shelley criou o “Frankenstein”, sua obra mais marcante, muito adaptada para o teatro e para o cinema. Apesar de ser muito comum a associação entre o nome Frankenstein e a criatura por ela descrita, Shelley não havia atribuído nenhum nome ao monstro, sendo Frankenstein o sobrenome do personagem que o criou, Victor.

O romance é construído através das cartas que o capitão do navio, Walton, escrevia para sua irmã, formando uma espécie de diário da sua viagem. Ao conhecer Victor, o inglês decide contar a história dele à irmã. Trata-se, portanto, de uma história dentro da história – grande parte do livro é narrada por Victor Frankenstein, embora seu porta-voz seja Walton.

Victor narra sua história desde a infância, época muito feliz em que ele estava cercado do amor do pai, dos irmãos mais novos, da prima Elizabeth, a quem estava prometido, e do melhor amigo Clerval. Nada poderia indicar-lhe o futuro que o esperava, mas ele já tinha, nesse período, um grande interesse por ciências naturais. Ao entrar na faculdade, Frankenstein passou a dedicar-se cada vez mais aos seus estudos, decidido a destacar-se na ciência – o jovem procurava uma maneira de driblar a morte, descobrindo como dotar de vida algo inanimado.

Suas motivações eram positivas, mas o resultado foi desastroso: a criatura a quem ele dera vida era tão assustadora que ele sentiu a necessidade de abandoná-la, tentando esquecer o que acabara de realizar. Não foi possível – anos depois, seus caminhos se cruzaram perto de sua cidade natal. É narrado, nesse momento, o ponto de vista do monstro, quando ele conta sua história a Victor: como ele aprendera a falar e a comer, suas tentativas frustradas de contato com os humanos, que o rejeitavam por causa da sua aparência, e, por fim, como isso havia o transformado em uma criatura cruel. As conseqüências dessa conversa marcam o resto do livro, culminando numa perseguição entre criador e criatura.

O romance prende a atenção do leitor, que fica ansioso para descobrir o que acontecerá com a criatura de Frankenstein. Durante os relatos, diversas emoções são produzidas, do horror à compaixão. Shelley aborda vários temas, como a amizade, o preconceito, a ingratidão, a ambição desenfreada e suas possíveis conseqüências. Esse último tema, inclusive, está presente no título da obra – há um paralelo existente entre Victor Frankenstein e Prometeu, figura da mitologia grega que, ao contrariar os deuses, roubando um segredo divino – o fogo – para dar aos homens, é severamente castigado.

Resenhado por Gabriela Alkmin

208 páginas, Editora Martin Claret, publicado em 2001.
*Título Original: Frankenstein: or, The Modern Prometheus. Publicado originalmente em 1818.

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