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Um certo lugar chamado Brasil

Depois de pensar se as obras populares de hoje serão clássicos no futuro, é hora de falar sobre uma obra que já está consolidada nas prateleiras do nosso próprio país. Mais especificamente, um de nossos maiores autores do século XX. [meio-2] Érico Veríssimo nos deixou a obra-prima “O tempo e o vento”, uma exposição narrativa sobre os costumes do Rio Grande do Sul no turbulento período após a independência. Confira a resenha de Sheila Vieira e deixe o seu comentário. Se tiver alguma sugestão para a seção, sinta-se à vontade para deixá-la.

“Um certo capitão Rodrigo”, de Érico Veríssimo

Um certo lugar chamado Brasil Tempo: para ler pouco a pouco em intervalos durante a semana
Um certo lugar chamado Brasil Finalidade: para rir
Um certo lugar chamado Brasil Restrição: para quem tem dificuldade com pontos de vista alternativos
Um certo lugar chamado Brasil Princípios ativos: história, regionalismo, tradição, guerra, Brasil.

“A guerra também é uma loucura. Tudo é uma loucura. Mas eu fico”.

A dona dessa frase é Bibiana, dona-de-casa e mãe, personagem do livro “Um certo capitão Rodrigo”, de Érico Veríssimo. Seu marido é exatamente o Rodrigo do título, que partira para lutar na Revolução Farroupilha, deixando para trás a família. O carismático e mulherengo capitão chegou à calma cidade de Santa Fé em 1828, após guerrear na “Banda Oriental” (Uruguai) e mudou a vida não só de Bibiana, mas de todos que construíram suas vidas no atribulado Rio Grande do Sul do século XIX.

Um certo lugar chamado Brasil

Um certo lugar chamado Brasil

“Um certo capitão Rodrigo” é, na verdade, um episódio de “O Continente”, por sua vez, um terço da trilogia “O tempo e o vento”. A obra de Érico Veríssimo, de tom tão regionalista quanto épico, é uma celebração da vida cotidiana dos cidadãos brasileiros do Sul no período pós-Independência até as Regências (1831-1840). Afastados do Centro (Rio de Janeiro), onde estava a Corte ligada a Portugal que ‘não estava nem aí para o Sul’, os habitantes de Santa Fé conviviam sempre com os temores das guerras ligadas à delimitação de fronteiras.

Mas, mesmo assim, mantinham suas vendas, suas terras e seus pequenos negócios. Até que chega o capitão Rodrigo com outros modos. Acostumado a jogos, muitas mulheres, bebida e diversão, ele encontrou em Santa Fé um povo desconfiado e conservador, além de traumatizado com outros forasteiros.

Porém, o carisma de Rodrigo conquistou quase todo mundo, principalmente o padre da região e Bibiana, uma moça tímida. Pedro Terra, seu pai, foi relutante desde o início em ceder a mão de sua filha a um ‘qualquer’. Mas, após um duelo entre o capitão e Bento Amaral, filho do coronel de Santa Fé, Rodrigo conseguiu se casar com ela.

No início, o casal viveu um conto de fadas, mas o tempo e a morosidade da vida na cidadezinha começaram a entediar Rodrigo, que buscou conforto em outras mulheres e nos prazeres do jogo e das batalhas. As questões políticas se refletem na vida das pessoas através da posição da Igreja, da escravidão, da chegada dos imigrantes alemães e da incerteza do futuro do Brasil, ou mesmo se o Rio Grande faria parte do país.

Érico Veríssimo (1905-1975) narra essa história misturando a cultura do cotidiano dos contos com a dramaticidade do épico, trazendo familiaridade ao mesmo tempo em que dá importância histórica ao que escreve. Trata-se de consistente trabalho de reconstrução do passado brasileiro, muito mais complexo do que aprendemos na sala de aula.

Resenhado por Sheila Vieira

184 páginas, Editora Companhia das Letras, publicado em 2005.
*Publicado originalmente em 1970, como parte da grande trilogia “O tempo e o vento”.

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