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Quando o real se mistura à ficção

É preciso coragem de um autor para elaborar uma ficção a respeito de uma das figuras mais polêmicas e contestadoras da Filosofia. Coragem que Irvin D. Yalom teve, e que lhe rendeu muitas vendas, mas também muitas críticas para a obra “Quando Nietzsche Chorou”.[meio-2] Confira aqui a resenha de Thiago Terenzi sobre o livro que trouxe alguns dos grandes sábios do mundo a um plano mais humano. Se você nunca foi muito fã de Filosofia, talvez seja um bom caminho para começar a se envolver com o mundo das ideias.

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“Quando Nietzsche Chorou”, de Irvin D. Yalom

Quando o real se mistura à ficção Tempo: para ler pouco a pouco em intervalos durante a semana
Quando o real se mistura à ficção Finalidade: para pensar
Quando o real se mistura à ficção Restrição: para quem tem dificuldade com pontos de vista alternativos
Quando o real se mistura à ficção Princípios ativos: psicanálise, filosofia, Freud, Nietzsche, psicologia

Imagine: o polêmico filósofo Friedrich Nietzsche se apaixona pela belíssima intelectual alemã Lou Salomé. A paixão não recíproca, aliada a terríveis dores de cabeça, leva o filósofo a um estado depressivo preocupante. A sorte de Nietzsche é que dois médicos, Josef Breuer e Sigmound Freud, estão desenvolvendo um inédito tratamento de doenças psicológicas a partir da conversa. Este é o nascimento da Psicanálise, tema de “Quando Nietzsche Chorou”.

Quando o real se mistura à ficção

Quando o real se mistura à ficção

Os personagens do romance são reais – você já deve ter ouvido falar de Freud ou Nietzsche –, mas a história é fictícia. Na realidade, o filósofo Nietzsche jamais se submeteu a um tratamento psicanalítico. Porém, mais apaixonante que grandes estórias de ficção, são estórias de ficção que utilizam personagens reais. Imagine um romance envolvendo J.K Rowling no universo mágico de Harry Potter – renderia, mais que uma fanfic, um grande best seller.

E é nessa mistura de personagens reais em universos ficcionais que “Quando Nietzsche Chorou” se apóia. Nietzsche, extremamente cético, foi um filósofo alemão autor de duras críticas tanto à igreja quanto à ciência. Marcou história com frases como “Deus está morto” e foi acusado (injustamente, diga-se de passagem) de inspirar a ideologia nazista. O filósofo, que dizia ter nascido póstumo, jamais foi compreendido durante a sua vida. Morreu louco. Hoje, enfim reconhecido, é considerado um dos maiores filósofos modernos da história.

É realmente empolgante – e, talvez, surreal – imaginar Nietzsche deitado num divã.

A narrativa é simples e a leitura flui facilmente. Irvin Yalom conduz o livro com maestria e consegue, na medida certa, criar tensões, clímax e mistérios – o que é responsável por fazer o leitor jamais desejar interromper a leitura. Esta, talvez, seja a principal virtude da obra.

Embora não seja um romance recheado de ação, aventura e movimentação, “Quando Nietzsche Chorou” jamais se torna chato. Ele investe nos diálogos para prender a atenção do leitor – e, acredite, consegue! O leitor, absorto na obra, se pergunta, a todo o momento, como será o desfecho. A narrativa nunca se torna óbvia.

“Quando Nietzsche Chorou” é, também, uma maneira fácil de conhecer a obra de Nietzsche e as idéias de Freud e Breuer. De forma extremamente didática, o leitor é apresentado às principais idéias do filósofo russo e pode assistir, a partir de uma visão privilegiada, ao nascimento da Psicanálise. Misturando incessantemente real e ficção, é impossível, ao leitor leigo, distinguir o que da obra é invenção. Somos, por exemplo, apresentados a cartas que Nietzsche trocou com diversos intelectuais da época – e, sim, essas cartas são verdadeiras. Mas a amizade entre Nietzsche e Breuer, por outro lado, nunca existiu. Essa mistura confere à obra um tom mais verossímil.

O livro de Irvin D. Yalom, best seller que foi, já ganhou adaptações para o teatro e até um filme dirigido por Pinchas Perry lançado em 2007. A película, porém, não repetiu o sucesso do filme e nem entrou em cartaz nos cinemas brasileiros. É possível encontrar a versão cinematográfica de “Quando Nietzsche Chorou” em locadoras especializadas ou na programação das televisões a cabo.

Resenhado por Thiago Terenzi

407 páginas, Editora Ediouro, publicado em 2000.
*Título original: “When Nietzsche Wept”. Publicado originalmente em 1992.

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