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Desconstruindo Draco

Sexto filme prestes a ser lançado e a referência inevitável a Draco Malfoy ressurge no mundo Potter. Como durante toda saga, mesmo antes do lançamento de todos os livros, a personagem é analisada através de ângulos diversos, sendo vista ora como um vilão incontestável, ora como um pobre garoto tomado pelo egoísmo de criação. Quem é, afinal, Draco Malfoy? Devemos atribuir pena ao sonserino ou não hesitar em tratá-lo com repugnância? É o que tenta responder nossa colunista Sheila Vieira, em sua análise conclusiva acerca do caráter de Malfoy e de nossas impressões pouco condenáveis. Leia a coluna completa aqui e não deixe de comentar!

Por Sheila Vieira

Não há dúvida de que todos odiamos Draco Malfoy. Mas, às vésperas do lançamento do filme “Harry Potter e o Enigma do Príncipe”, em que o insuportável bruxinho tem suas maiores fraquezas expostas (e Yates parece ter dado destaque a esta parte), vale questionarmos o porquê de nosso ódio! Talvez, a primeira resposta que venha a mente é: “ele é da Sonserina. Já é um motivo mais do que suficiente”.

Porém, devemos lembrar que a principal característica da casa de Salazar é a ambição. Também não é novidade que ser ambicioso não é necessariamente um defeito. O problema, como tudo nessa vida, é o excesso. Mas pense em Draco por um instante e me diga um momento em que ele mostra o desejo incontrolável de ser grande, como Voldemort, por exemplo. Difícil dizer, não? Talvez porque ele não seja desprezível por esse motivo.

Quando o conhecemos, ele está comprando o uniforme de Hogwarts, já demonstrando os seus verdadeiros defeitos: a inveja e o egoísmo. A ideia de que alguém possa superá-lo em algo é intolerável. Vem daí o seu antagonismo com Harry, que é superior sem fazer quase nenhum esforço. Draco não costuma enxergar suas limitações, e se as enxerga, reage a essa frustração com ofensas e violência. Usa as pessoas a seu redor como meios para os seus fins e vaidades (poderíamos chamá-lo de maquiavélico?), agredindo seu alvo – Harry – através dos outros – como Hermione e Ron.

Mas, provavelmente, a característica mais controversa de Draco seja a sua enorme covardia. A relação complicada que tem com Lúcio, que o destrata publicamente, foi o primeiro sinal de que ele não era um dos grandes vilões da série, bem como o fato de ele não ser o herdeiro de Sonserina, como o trio suspeitava. Aos poucos, em episódios como o do tapa de Hermione, Draco é ridicularizado, o que o torna ainda mais patético e, no entanto, mais humano.

Quando conhecemos Narcisa melhor nos últimos dois livros e vemos o quanto ela tentou preservar o filho de tanta maldade ao seu redor (na medida do possível e de seu caráter, o qual não era dos melhores), a humanização de Draco aumenta ainda mais. E a maior prova de que o destino dele não era ser grande está exatamente nas páginas e, em breve, nos cinemas em “Enigma do Príncipe”. Ele fracassou em sua missão, pois uma parte de sua personalidade, ligada à mãe (prima de Sirius – coincidência?) tirou sua ambição de ser o assassino de Dumbledore. Quem é mais desprezível? Alguém sem piedade ou um covarde?

Essa é uma questão pessoal, mas a baixeza de ambos é inquestionável. Portanto, se você sentir alguma pena de Draco ao conferir o filme em julho, permita-se senti-lo, mas tenha cuidado. Podemos discutir se ele é um vilão com V maiúsculo, mas pessoas as quais despertam piedade por covardia não merecem a nossa compaixão. Por mais dificuldades que ele passe, não se sinta mal ao desprezá-lo. No fundo, todos queríamos ser a Hermione quando ela deu aquele tapa, não é mesmo?

PS: Queria pedir desculpas a todos vocês, equipe e leitores, pela minha longa ausência. Prometo não sumir mais. Também prometo textos mais curtos, para não aborrecê-los. E espero não fazê-lo com os curtos também!

Sheila Vieira daria uma ótima educação a Draco se a deixassem tentar.