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Plataforma aberta para acesso [Corra!]

Plataforma aberta para acesso [Corra!]Plataforma aberta para acesso [Corra!]
Para acessar a plataforma, símbolo de nosso início, é necessária alta dose de coragem (se acha que não tem, é só fechar os olhos e sair correndo). Ao entrar neste ambiente enfumaçado, se prepare para aranhas gigantes, Hagrids, Mimbulus Mimbletonias, Pasquins, Dracos e comparsas espreitando, além de pessoas que se tornarão
amigos eternos.

A plataforma agora se abre para a visitação contemplativa daqueles que encontraram a si mesmos envoltos pela magia. Mas paremos de enrolar! Clique aqui (logo!) para entrar na bendita plataforma! O trem está quase partiiiiiiindo…

Plataforma aberta para acesso [Corra!]
ILUSTRAÇÃO: J. Lestrange
EDIÇÃO: Luis Nakajo

Pela plataforma nove e três quartos, realinhada como nove e meia no Brasil, passam, todo santo 1º de setembro, bruxos e bruxas em roupas folgadas, carregando gaiolas com corujas, malas abarrotadas de Feijõezinhos de todos os sabores e –inevitável- também de pergaminho e pena. Porque, afinal de contas, eles vão para a escola… um lugar chamado Hogwarts, dirigido por uma série de… bruxos!

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‘Claro que está tudo em sua cabeça, Harry, mas porque raios isso significaria que não é real?’ (Dumbledore , em King’s Cross…)

“Ele havia dito que era só um livro. Algum tempo depois, descobri que era bem mais que isso. Eu tinha em mãos uma ‘chave de portal’. E esta chave de portal me levou a um mundo mágico
“Até aquele dia, eu achava que magia se restringia a feitiços. Agora eu sei que magia é algo muito mais grandioso, é algo que vai além do que sai de uma varinha. Eu aprendi que a magia mais poderosa é aquela que está dentro de cada um de nós” (Larissa Almeida, colunista).

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‘Hm – Tio Válter?’
Tio Válter grunhiu de modo a indicar que ouvia.
‘Hm – eu preciso estar em King’s Cross amanhã pra – pra ir pra Hogwarts’
Tio Válter grunhiu de novo.
‘Não tem problema você me dar uma carona?’
Grunhido. Harry supôs que aquilo era um sim.
‘Obrigado’

“Era uma tarde ensolarada e eu estava em casa ouvindo rádio quando o locutor fez uma forte crítica o um novo livro que estava sendo lançado no país, acusando-o de incitar as crianças à bruxaria e de pregar a magia negra de forma mascarada. Sim: ele estava falando de ‘Harry Potter e a Pedra Filosofal’. A matéria chamou-me a atenção, mas não o suficiente para me tirar do aconchego do sofá onde eu estava espichado e me fazer buscar algo na internet. Tempos depois, passando por um cinema da minha cidade vi o cartaz de um novo filme: ‘Harry Potter e a Câmara Secreta’. Gostei tanto do filme que entrei em duas sessões em seguida” (Rodrigo Bruno, colunista).

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‘É só pegar o trem na plataforma nove e três quartos às onze horas’, ele leu.
Seus tios o encararam.
‘Plataforma-o-quê?’
‘Nove e três quartos’
‘Não fale merda,’ disse o Tio Valter, ‘não tem nenhuma plataforma nove e três quartos!’

“Para fazê-lo parar com a insistência, eu pedi o primeiro livro à minha tia. Ganhei na véspera de Natal com certa timidez misturada, admito, com uma pitada de curiosidade. Eu não saberia explicar naquela época, mas tinha algo especial naquele livro que me fazia, durante alguns momentos, voltar para dar uma olhada em sua capa. Mesmo parcialmente atraído, eu achava que aquela história devia ter uma trama superficial para entreter crianças”
“A ação e as reviravoltas do final me fizeram terminar de ler faltando menos de uma hora para a virada do ano” (Daniel Mahlmann, webmaster).

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‘Bem, aqui estamos. Plataforma nove – plataforma dez. Sua plataforma deveria estar em algum lugar aí no meio, mas parece que eles ainda não a construíram, não é mesmo?’
Ele estava completamente certo, claro. Havia um enorme número plástico nove sobre uma plataforma e um enorme dez sobre a contígua e, no meio, nada de nada.

“Meus olhos voltaram a encarar o livro aberto em minhas mãos, e eu notei que poucas coisas naqueles 13 anos de idade que eu tinha haviam me envolvido tanto quanto a história de um menino bruxo inglês, então apenas um ano mais novo que eu. Havia algo que unia Harry Potter, naquele momento lutando bravamente contra um basilisco, comigo, uma pacata garota na zona leste paulistana”
“Ao estar aqui na King’s Cross, lugar em que eu fingia estar quando passava pela estação de trem da Luz, imaginando que a baldeação para o metrô era a passagem secreta para a plataforma 9 ¾, sinto-me como Harry vendo seu filho partindo para a escola” (Sheila Vieira, colunista).

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‘Lotado de trouxas, claro’
Harry se virou. A falante era uma mulher rechonchuda que falava a quatro garotos, todos com o cabelo gritantemente vermelho. Cada um deles empurrava um malote como o de Harry – e eles tinham uma coruja.

“Foi quando vi a capa do Cálice de Fogo e foi paixão à primeira vista (sim, sim, eu julgo sim um livro pela capa, obrigado). Comecei assim a minha jornada: embarquei nesse expresso no seu quarto ano, voltei no tempo para rever os acontecimentos dos anos anteriores e depois segui viagem para o futuro”
“E que futuro, hein?” (Victor Martz, colunista).

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‘É que –é que eu não sei–’
‘-como chegar na plataforma nove e três quartos?’, ela disse gentilmente e Harry assentiu.

“Quando avistei Harry pela primeira vez, achei-o muito engraçado. Uma gracinha, na verdade. Já o tinha visto no cinema, certa vez, quando ele tentava resgatar certa menina ruiva de certo dono de um diário. Não prestei muita atenção. Um vagão, dois, três vagões. Resolvi deixar um pouco o Expresso de lado e dormir. Quando acordei, Harry e Ron estavam lá. Logo, Hermione e Neville”
“Derrotei um trasgo com eles. Na segunda vez, vi mais de perto ele salvando a menina ruiva” (Pâmela Lima, colunista).

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‘Não se preocupe’, ela disse. ‘Tudo o que tem que fazer é caminhar direto e reto na direção da barreira entre as plataformas nove e dez. Não pare e não tema bater de frente com ela, isso é importante. É melhor correr um pouquinho se estiver nervoso. Vai, vai antes do Rony’.
‘Ah… OK’, disse Harry.

“Ela era minha colega de classe da sexta série. Naquele certo dia, ela veio até mim antes da aula com inconsoláveis olhos marejados: ‘Ela virou pedra, Bruninha! Ela morreu!’. ‘Calma, quem morreu?’ eu perguntei, no que ela respondeu ‘A Hermione, oras!’. Olhei para ela com uma expressão — adiantadamente inglesa — do tipo who-the-hell-is-she?, e foi aí que tudo começou”
“Minha amiga me levou até o Beco Diagonal — no mundo dos trouxas, a biblioteca da escola — para que eu conseguisse meu primeiro livro de magia, ‘A Pedra Filosofal’. Na época eu já gostava de ler, ah sim; terminei aquelas 263 páginas com Harry em cinco dias e, wow!, eu precisava de mais” (Bruna Moreno, colunista).

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Ele girou seu carrinho e encarou a barreira. Ela parecia bastante sólida.
Começou a andar em sua direção. As pessoas disparavam ao seu redor, indo para as plataformas nove e dez. Harry acelerou os passos. Ele ia trombar com a barreira, ele sabia, ia bater contra a bilheteria e estaria frito –inclinando-se, ele desembestou numa corrida doida –a barreira cada vez mais próxima- parar, ele não conseguiria mais- o carrinho estava fora de controle –um passo mais e… –ele fechou os olhos para sentir o trombão-
Que não veio… continuou correndo… abriu os olhos.

“O único exemplar que tinham na época era ‘Prisioneiro de Azkaban’. Eu vi aquela capa tão colorida, com traços tão garbosos, soltando aquele cheiro delicioso de tinta e de papel alcalino –e acabei levando assim mesmo. Que se dane, pensei eu, começo pelo terceiro. Eu tinha 14 anos”
“A plataforma 9 ½ se materializou num vórtice violento de espaço-tempo”
“Cinco anos depois, no Conjunto Nacional, na Avenida Paulista que eu amo, eu vi uma aglomeração tão inimaginável de seres agarrando os cabelos e dando surtos no balcão de reservas de livros, que, até hoje, não sei direito o que senti no momento em que eu tive ‘Hallows’ nas mãos” (Luis Nakajo, colunista).

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Uma locomotiva vermelha esperava na plataforma apinhada de gente. Uma placa acima indicava ‘Expresso de Hogwarts, onze horas’. Harry olhou atrás de si e viu um arco trabalhado em ferro onde a bilheteria estivera, com as palavras ‘Plataforma nove e três quartos’. Ele conseguira.

“Parei de sair, dormia pouco, não conversava com ninguém. Apenas lia. O fascínio me tomara por completo. Era o livro pelo qual eu ansiava a vida toda sem saber. Meus sonhos mais inverossímeis estavam reunidos naquelas 263 páginas. O fato de reunir escola com a palavra ‘prazer’ me maravilhava, e estas duas, junto às palavras ‘magia’ e ‘aventura’, me deslumbravam. Aquilo foi o primeiro passo de uma era: crescer com Harry, Hermione e Rony foi algo cativante. Eles, que construíram tijolo por tijolo minha índole e alma” (Breno Alvarenga, colunista).

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Os primeiros vagões estavam todos lotados de estudantes, alguns pendurados nas janelas para falar com parentes, alguns brigando por lugares. Harry empurrou seu carrinho pela plataforma em busca de um assento vago.

“A sinopse sobre um garoto bruxo com um raio na testa servia bem demais no hall das fantasias ruins que eu era obrigada a ler na escola (…) o bichinho passou algum tempo pegando poeira na minha estante, enquanto minha amiga continuava insistindo para que o lesse” (Marisa Amante, colunista).

“Daí em diante, cada livro trazia uma textura, um palato diferente. A evolução de livro a livro acontecia naturalmente. Minha cabine no expresso não ia vazia, ano após ano; conheci pessoas que partilhavam do mesmo encantamento”
“Já me sentia envolvida, sugada, apaixonada” (Daiane Libero, colunista).

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Harry se espremeu pela multidão até encontrar um vagão vazio, quase no fim do trem. Subiu primeiro a Edwiges e depois começou a empurrar seu malote pela porta do trem. Tentou apoiá-lo nos degraus, mas não conseguia erguer nem um de seus lados direito e o derrubou sobre o pé.

“Ler ‘Câmara Secreta’, antes da descoberta do mundo mágico foi uma experiência burra e ao mesmo tempo muito divertida. Tirando o fato de não ser apresentado ao Beco Diagonal, à querida família Weasley, a ingenuidade do Harry primeiro-anista e tudo aquilo que foi deliciosamente servido em ‘Pedra Filosofal’, eu tive a certeza de que a magia dos livros estava presente em toda a sua evolução, mesmo que apenas no pedaço mal-explicado que me instigou a descobrir…” (Vítor Werle, webmaster)

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Um apito soou.
‘Andem!’, disse a mulher e os três garotos embarcaram no trem. Nas janelas, eles se inclinaram para que ela os beijasse –sua irmãzinha começou a chorar.
‘Pára, Gina, vamos te mandar um monte de corujas’.
‘Vamos te mandar uma privada de Hogwarts!’.
‘George!’.
‘Zoando, mãe! Calma!’.

“Em meio a toda essa confusão, começa a aventura. Pessoas correndo para entrar no trem, mães despedindo-se de seus filhos (dando conselhos e mais conselhos) e eu aqui, parado, lembrando de como tudo começou”
“Parece que foi há pouco tempo que descobri o mundo de Harry Potter, mas não foi tão pouco assim. Afinal, as fitas de vídeo saíram do comércio há bastante tempo, e foi quando tive o meu primeiro contato com a obra através de uma fita de ‘A pedra filosofal’”
“Agora, se me dão licença, o apito acabou de soar e todos já estão no trem” (Yuri Rigon, colunista).

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O trem começou a se mover. Harry viu a mãe dos gêmeos acenando e a irmã deles, meio rindo, meio chorando, a correr pela plataforma até que o trem ganhasse velocidade demais; então ela parou e acenou adeus.

“Uma vez em movimento, é impossível pará-lo. O Expresso de Hogwarts, um trem comum a quem o vê de fora, é o início da longa jornada de paixão e cumplicidade que Harry Potter materializou na minha vida. Pelas janelas abertas, braços estendidos em um último sinal de adeus. O meu, junto deles, acena com fervor: despedir-se do mundo real, cheio de mentiras, e embarcar na fantasia de verdades quase palpáveis que o mundo da magia me mostra a cada aumento de velocidade”
“O trem acelera e eu já não penso em olhar para trás. Nas cabines do Expresso encontro não só amigos inigualáveis e essa magia sem precedentes, como também aprendo a ter fé em mim mesma e no mundo em si. Em meio a guloseimas e vestes nunca antes vistas, o ambiente é familiar e carrego em mim a certeza: sinto-me em casa, enfim. Como Harry, pela primeira vez.” (Isadora Ceccatto, colunista e editora de colunas).

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Harry viu a garotinha e sua mãe desaparecerem quando o trem virou a curva. Casas pipocavam na janela. Ele sentiu um jorro de empolgação. Ele não sabia para onde ia –mas tinha que ser melhor que o que ele deixava para trás…

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O texto acima apresenta apenas excertos das reflexões dos colunistas. Todos os textos, na íntegra, você pode ler aqui. Os trechos em itálico são de Philosopher’s Stone e Deathly Hallows, em tradução livre do editor.

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O staff de colunistas do Potterish opera desde 11 de julho de 2006. Ao longo de mais de dois anos e oitenta colunas, passou pelas mãos de três editores e entra agora sob o reinado de Isadora Cecatto, longa contribuidora do projeto. Sua primeira coluna, sobre Harry e Gina, foi postada em 29 de novembro de 2006. Isadora, como sinal de boa sorte, publicou 7 belos textos -sem contar o incluso nesta coletânea (que, ominosamente, tem 13 contribuições…)