Artigos

Natal a la Hermione

Essa coluna é um pouco diferente de tudo o que você já leu por aqui. Eu, Camila Galvez, e os colunistas Luis Nakajo, Pamela Lima, Isadora Cecatto e Victor Martz preparamos com muito carinho uma seleção de livros indicados por nós para todos os leitores do Potterish.

Sabemos que nenhum deles substituirá o lugar da saga de Harry Potter nos nossos corações, mas é a oportunidade que temos para divulgar outras leituras igualmente interessantes, na nossa singela opinião, claro!

É o presente de Natal da equipe de colunistas do Potterish para você!

Você pode conferir a coluna completa aqui.

Deixe seu comentário e feedback, é importante para nós e para o autor. Se quiser, sinta-se livre para comentar a coluna em nosso Fórum.

Natal a la Hermione

Por Camila Galvez, Luis Nakajo, Pamela Lima, Isadora Cecatto e Victor Martz

Aproxima-se o Natal e o maior presente que nós, colunistas do Potterish, podemos oferecer a vocês leitores, que nos acompanharam o ano todo, são indicações de quais livros ler agora que a série que discutimos, analisamos e até tentamos prever está disponível na íntegra, com a publicação de Relíquias da Morte em nosso país.

Não que isso seja um adeus –longe disso. Ainda nos veremos por aqui, neste espaço. Leremos muito Harry Potter, e o faremos de diversas maneiras. Não sabemos o que você deseja da vida, de onde vem ou para onde vai – mas sabemos que pelo menos uma queda pela leitura você tem ou descobriu ter ao se tornar protagonista das leituras de Harry Potter.

Como diria a própria Rowling, para sermos bons escritores, temos de ser, primeiramente, bons leitores. Arriscaríamos mais e diríamos que, para sermos seres humanos completos, precisamos não apenas satisfazer nossos corpos, mentes e impulsos sociais, mas também nosso entendimento de nós mesmos e daquilo que nos cerca. Na literatura, em seu amplo sentido, são abundantes as obras que tornam esse conhecimento possível.

Abaixo, com todo o respeito e gratidão, vão nossos votos de uma vida cheia de saúde, não apenas física; de abundância, não apenas financeira; e de amor, que torna todo o resto pequeno, mas que só é realmente aproveitada quando em relação inteligente e crítica com o que somos –ou entendemos ser.

É nosso presente de Natal e Ano Novo para todos que nos acompanharam durante essa longa caminhada. Esperamos que gostem!

Sugestões de livros:

Crônicas de Nárnia [O Sobrinho do Mago; O Leão, a Feiticeira e o Guarda-Roupa; O Cavalo e Seu Menino; Príncipe Caspian; A Viagem do Peregrino da Alvorada; A Cadeira de Prata; A Última Batalha]
C.S. Lewis

AUTOR: Clive Staples Lewis (1898/1963) foi um autor e escritor irlandês, que se salientou pelo seu trabalho acadêmico sobre literatura medieval e pela apologia cristã que desenvolveu através de várias obras e palestras.
TEMA: São sete livros ao total que contam o nascimento e o final do mundo mágico e mitológico de Nárnia, onde algumas crianças provenientes do nosso mundo influenciam direta e decisivamente na história do mundo de lá. Apesar de O Leão, A Feiticeira e o Guarda-Roupa ter sido o primeiro livro escrito, o primeiro em ordem cronológica seria O Sobrinho do Mago.
POR QUE LER: Crônicas de Nárnia é uma leitura ótima justamente por ser leve, fácil e bastante divertida. Apesar do seu tom um tanto infantil, os mais velhos encontrarão coisas que os encantarão. Mesmo que não sejam cristãos.
PRESTE ATENÇÃO: Nas falas do Leão Aslam e nos finais dos livros, particularmente no último “A Última Batalha”.
TRECHO: “Para nós, este é o fim de todas as histórias, e podemos dizer, com absoluta certeza, que todos viveram felizes para sempre. Para eles, porém, este foi apenas o começo da verdadeira história.”.
INDICADO ESPECIALMENTE: Aos fãs de mitologia grega e às crianças, para continuarem com o gosto pela leitura mesmo depois do final de Harry Potter.

Trilogia Fronteiras do Universo [A Bússola de Ouro, A Faca Sutil, A Luneta Âmbar]
Philip Pullman

AUTOR: Formado em Literatura Inglesa por Oxford, é o único autor de “infanto-juvenis” a ganhar o prêmio Whitbread de melhor livro do ano, pela Luneta Âmbar.
TEMA: Num dos muitos mundos paralelos ao nosso, Lyra Belacqua busca resgatar seu amigo Roger, em poder dos Papões, organização ligada à Igreja. A jornada rumo ao Ártico que ela executa acaba se tornando apenas o ponto de partida para uma exploração muito mais ampla –e muito mais grandiosa- do que se espera.
PRESTE ATENÇÃO: Em como a Autoridade “é morta” no terceiro livro, em como os mundos paralelos se cruzam, e em como Pullman aborda questões filosóficas sem comprometer a fluência da narrativa.
TRECHO: “ ‘Está escondida no porão da casa do sacerdote’, ela lhe contou, ‘ele acha que nela há um espírito, e ele vem tentando exorcizá-la’. Ele se levantou sobre as pernas traseiras e encarou o oeste. ‘Eu devo trabalhar até o pôr-do-sol’, ele disse, ‘Dei minha palavra ao amo essa manhã. Ainda devo alguns minutos de trabalho’. ‘O sol já se pôs, aqui onde estou’, ela apontou. Ele se abaixou e viu que era verdade”.
INDICADO ESPECIALMENTE: Para quem gosta de terminar de ler um livro para correr à prateleira em busca do próximo; e para quem quer uma introdução à literatura de grandes clássicos, como Milton, Blake e Nietzsche, de maneira curiosa.
DICAS: Se tiver sorte, compre os livros da primeira edição. Em 2007, foi lançada uma segunda edição, que tem uma tradução levemente mais pasteurizada. Caso tenha bom domínio do inglês, leia os livros originais. As principais livrarias do país têm esses livros em versões pocket, de várias editoras.

A Hora da Estrela
Clarice Lispector

AUTOR: Clarice Lispector (1920/1977) nasceu em Tchetchelnik, na Ucrânia, e chegou ao Brasil aos dois meses de idade, naturalizando-se brasileira posteriormente. Aos 12 anos mudou-se para o Rio de Janeiro, onde se formou em Direito, trabalhou como jornalista e iniciou sua carreira literária.
TEMA: A nordestina Macabéa, a protagonista, é uma mulher miserável, que mal tem consciência de existir. Depois de perder seu único ele com o mundo, uma velha tia, ela viaja para o Rio, onde aluga um quarto, se emprega como datilógrafa e gasta horas ouvindo a Rádio Relógio. Apaixona-se, então, por Olímpico de Jesus, um metalúrgico nordestino, que logo a trai com uma colega de trabalho. Desesperada, Macabéa consulta uma cartomante, que lhe prevê um futuro luminoso, bem diferente do que a espera.
POR QUE LER: Porque a forma como Clarice lida com assunto, sem os devaneios românticos comuns, de forma crua e ás vezes bastante cruel, é bastante original em uma época onde todos estão vidrados com o mundo mágico das novelas.
PRESTE ATENÇÃO: Em como Clarice se comporta na pele de um narrador homem, e os motivos de “ele” ter começado a escrever este livro.
TRECHO: “Também esqueci de dizer que (…) o registro que em breve vai ter que começar é escrito sob o patrocínio do refrigerante mais popular do mundo e que nem por isso me paga nada, refrigerante esse espalhado por todos os países. Aliás foi ele quem patrocinou o último terremoto em Guatemala. Apesar de ter gosto do cheiro de esmalte de unhas, de sabão Aristolino e plástico mastigado. Tudo isso não impede que todos o amem com servilidade e subserviência. (…) Ela é um meio da pessoa atualizar-se e pisar na hora presente”.
INDICADO ESPECIALMENTE: Aos fãs de literatura moderna em geral e àqueles que às vezes se sentem sozinhos, isolados ou mesmo desgraçados.

Quincas Borba
Machado de Assis

AUTOR: Joaquim Maria Machado de Assis (1839 – 1908) é considerado um dos melhores escritores clássicos do nosso país. Com obras muito a frente de seu tempo e uma visão inigualável, suas obras são lidas pelas novas gerações como um lazer.
TEMA: Quincas Borba, um excêntrico milionário, morre, deixando toda a sua fortuna para seu cunhado, Rubião. Mas, com uma condição: Que ele cuide, sempre, do seu cão (também chamado Quincas Borba). Rubião, agora muito rico, muda-se para o Rio de Janeiro, onde vira amigo de um casal de emergentes, Palha e Sofia. A paixão pela vistosa mulher é inevitável. Além desse amor proibido, Rubião envolve-se em questões políticas e sociais.
POR QUE LER: Porque fala do caráter das pessoas em geral, e não de uma pessoa só. O caso de Rubião pode acontecer com qualquer um, em qualquer época.
PRESTE ATENÇÃO: Em Sofia, e em como todas as características da mulher machadiana aparecem nela. Sofia não é bonita, mas muito elegante, gostava de se mostrar mas fazia-o com classe e, apesar de milhares de bons partidos para amantes, sempre foi fiel ao marido.
TRECHO: “Sobejam exemplos; mas basta um contozinho que ouvi em criança, e que aqui lhes dou em duas linhas. Era uma vez uma choupana que ardia na estrada; a dona – um triste molambo de mulher – chorava o seu desastre, a poucos passos, sentada no chão. Senão quando, indo a passar um homem ébrio, viu o incêndio, viu a mulher, perguntou-lhe se a casa era dela. / – É minha, sim, meu senhor; é tudo o que eu possuía, neste mundo./ – Dá-me então licença que acenda ali o meu charuto?”.
INDICADO ESPECIALMENTE: Aos que nunca leram nenhuma obra clássica brasileira, para começar com uma leitura leve, gostosa e de assuntos contemporâneos. Fato interessante: Nem o próprio Machado de Assis consegue definir se o Quincas Borba do título do livro é o homem ou o cachorro.

O Iluminado
Stephen King

AUTOR: Stephen King, nascido em 1947, no Maine, é conhecido como o Mestre do Terror, e teve muitas de suas obras adaptadas para o cinema, entre elas “À Espera de um Milagre”, “O Iluminado” e “O Apanhador de Sonhos”.
TEMA: Jack, sua esposa Wendy e seu filho Danny vão passar a temporada de inverno e um hotel, onde o homem arranjou emprego como zelador. Mas tudo pode acontecer no hotel Overlook. O hotel consegue tudo o que quer. E o hotel quer Danny. Danny, o menino iluminado.
POR QUE LER: Para constatar como às vezes fugimos dos nossos problemas, pensamos que entendemos tanto de nós mesmos que nos deixamos influenciar por qualquer negatividade. E também pelo ritmo do livro, que é narrado de um jeito que, mesmo quando você está morrendo de medo, não consegue parar de ler.
PRESTE ATENÇÃO: A transformação de Wendy: De uma mulher submissa e calada, se transforma em uma mãe guerreira que protege seu filho acima de tudo.
TRECHO: “Não creio que haja alguma coisa aqui que o possa ferir. Não creio. Mas, e se ele estivesse errado? Sabia que fora sua última temporada no Overlook, desde que vira aquela coisa na banheira do apartamento 217. Fora pior do que qualquer desenho em qualquer livro e, olhando daqui, o menino correndo parecia tão pequeno… Não creio…”.
INDICADO ESPECIALMENTE: Para os apaixonados no gênero suspense. Nada pode ser melhor do que uma boa descrição assustadora vinda do Mestre.

A Menina que Roubava Livros
Markus Zusak

AUTOR: Markus Zusak nasceu na Austrália, e cresceu ouvindo histórias sobre Alemanha Nazista, bombardeios e judeus marchando na cidade de sua mãe.
TEMA: A história é narrada por aquela que pode mesmo conhecer a história de cada um: A Morte. Ela conta a história de uma menina pobre, chamada Liesel Meminger, e sua vida com a família adotiva, composta de uma mãe que lavava roupas para fora e um pai que era considerado “o pintor dos judeus” em plena a Alemanha Nazista. Em meio aos seus problemas – entre eles um amor não admitido ao seu vizinho e esconder um judeu no porão – Liesel usa como válvula de escape o roubo. De livros.
POR QUE LER: Para apreciar a poesia em que a vida se transforma quando a Morte está por perto. É um livro fácil de ler, mas poético e cheio de figuras de linguagem. Uma melhor que a outra.
PRESTE ATENÇÃO: Em como Hans é encantador, e em como consegue viver do seu jeito em meio a um mundo que vai contra o seu jeito.
TRECHO: “O ser humano não tem um coração como o meu. O coração humano é uma linha, ao passo que o meu é um círculo, e tenho a capacidade interminável de estar no lugar certo na hora certa. A conseqüência disso é que estou sempre achando seres humanos no que eles têm de melhor e de pior. Vejo sua feiúra e sua beleza, e me pergunto como uma mesma coisa pode ser as duas. Mas eles têm uma coisa que eu invejo. Que mais não seja, os humanos têm o bom senso de morrer”.
INDICADO ESPECIALMENTE: Aos realmente aficionados em livros. Porque as palavras sempre salvam a vida de Liesel, como salvam a vida de muitos.

A Sombra do Vento
Carlos Ruiz Zafón

AUTOR: Nascido em Barcelona, o autor de “A Sombra do Vento” passou a ser uma das maiores revelações literárias dos últimos tempos a partir da publicação desse livro.
TEMA: Depois de uma visita a um lugar misterioso chamado Cemitério dos Livros Esquecidos, aos dez anos, Daniel Sempere encontra um livro chamado A Sombra do Vento, cuja leitura o fará mergulhar em um mundo de mistérios ocultos que Barcelona carrega, mudando toda a sua vida.
POR QUE LER: O livro é uma mistura de gêneros: romance, aventura, novelas góticas no estilo Edgar Allan Poe e folhetins amorosos como os de Victor Hugo. Por conta da variedade e da narrativa eletrizante, a história prende do início ao fim em diversos pontos diferentes, o que torna a leitura prazerosa e empolgante.
PRESTE ATENÇÃO: Nas mudanças psicológicas pelas quais o narrador, que é o personagem principal da trama, passa ao longo de seu crescimento.
TRECHO: “Enquanto percorria túneis e túneis de livros na penumbra, não pude evitar que me invadisse uma sensação de tristeza e desânimo. Não podia evitar pensar que se eu, por puro acaso, tinha descoberto todo um universo num só livro desconhecido na infinidade daquela necrópole, dezenas de milhares de outros livros ficariam inexplorados, esquecidos para sempre. Senti-me rodeado por milhares de páginas abandonadas, de universos e almas sem dono, que se fundiam em um oceano de escuridão enquanto o mundo que palpitava do lado de fora daquelas paredes perdia a memória sem perceber, dia após dia, sentindo-se mais sábio quanto mais esquecia”.
INDICADO ESPECIALMENTE: À todos que gostam de suspense e ritmo acelerado na narrativa. É um livro para os amantes de quase todos os gêneros.

Admirável Mundo Novo
Aldous Huxley

AUTOR: Aldous Huxley é famoso por em sua obra “Admirável Mundo Novo” ter, de certa forma, profetizado muita coisa a respeito das mudanças na humanidade em si, embora em proporções maiores do que as atualmente vistas.
TEMA: O livro dá vida a um hipotético futuro, onde a sociedade é organizada por castas e o ser humano é originado através de cápsulas, além de condicionado psicologicamente a viver em harmonia com regras e leis que não carregam sequer vestígios de princípios religiosos e certos valores morais. Não há conceito de família e a sexualidade é presente na vida dos homens desde a infância. Nesse meio, há apenas um homem que não concorda com a vida que leva e não vive em harmonia: Bernard Marx, que ao longo da trama tentará livrar seu mundo da limitação que os “administradores” geram.
POR QUE LER: A obra transborda críticas inteligentíssimas a um sistema inexistente, mas que se encaixam perfeitamente ao nosso atual. Foi escrita em 1932 e tem mais verdades sobre a nossa década do que muitos livros escritos nesse ano. Lê-la é um grande passo para emergir do rio de futilidade e inconseqüência no qual vivem os jovens do nosso tempo, além de um bom susto para os que pensam que estamos no caminho certo só por conta do progresso científico e tecnológico.
PRESTE ATENÇÃO: No paralelo traçado entre o mundo fictício de Huxley e o nosso. Também observe o fato de as personagens considerarem normais coisas que achamos absurdas e inaceitáveis, sem deixar de notar que, há poucos anos, o que é normal na atualidade seria tão inimaginável quanto as atitudes dos habitantes do Admirável Mundo Novo (e não se impeça de achar isso assustador, pois realmente é).
TRECHO: Parte do prefácio de Huxley: “Vendo bem, parece que a Utopia está mais próxima de nós do que se poderia imaginar há apenas quinze anos. Nesta época coloquei-a à distância futura de seiscentos anos. Hoje parece praticamente possível que esse horror se abata sobre nós dentro de um século. Isto se nos abstivermos, até lá, de nos fazermos explodir em bocadinhos.”.
INDICADO ESPECIALMENTE: À quem não se sente à vontade com a forma como nosso mundo se apresenta hoje em dia e se dispõe a ler as idéias de um verdadeiro gênio a cerca da “evolução” da humanidade e do “progresso” científico (para entender o sentido das aspas, só lendo o livro.Vale a pena!).
DICA: Se curtir, leia outras obras de Aldous Huxley, como “Contraponto”, “Regresso ao Admirável Mundo Novo”, “A Ilha”, que inclusive ganhou adaptação para o cinema, e também o livro “1984”, de George Orwell.

As Brumas de Avalon [A Senhora da Magia, A Grande Rainha, O Gamo-Rei, O Prisioneira da Árvore]
Marion Zimmer Bradley

AUTOR: Acredito que o esforço de 20 anos de Marion Zimmer Bradley para concretizar a série das Brumas de Avalon tenha lhe impedido de escrever mais livros de sucesso e qualidade literária além dos quatro acima citados. Mesmo assim, a série estourou na Inglaterra de uma forma incrível, e mais tarde viria a ganhar o mundo. Bradley provou que a lenda do Rei Artur e a Távola Redonda ainda possuía um ponto de vista inédito a ser explorado: o feminino.
TEMA: Pela primeira vez o universo do grande rei Artur é revelado por meio de suas heroínas: a rainha Gwenhwyfar, sua mulher; Igraine, sua mãe; Viviane, a Senhora do Lago e sua tia; e a fada Morgana, feiticeira de Avalon que desempenha um papel crucial na vida de todos que a cercam, inclusive na vida de seu meio-irmão. Como diz a própria contra-capa da primeira edição do livro, lançada em 1985, trata-se de uma saga de amores ardentes, fantasia e violência que conta a história das mulheres que decidiram o destino do rei Artur e da Távola Redonda.
POR QUE LER: A guerra travada entre as antigas religiões pagãs e o cristianismo forma um excelente pano de fundo para a história do rei Artur. O poder das mulheres e a forma como elas influenciam nas decisões dos homens é evidente e algo que continua sendo absolutamente atual. Mesmo numa sociedade em que a Deusa é esquecida e substituída por uma entidade masculina, e as sacerdotisas que a representam escorraçadas em favor dos padres, é delicioso ver como, ainda assim, as mulheres são as responsáveis por definir o rumo da vida dos homens, e até mesmo de todo um reino. Narrativa impecável e absolutamente angustiante, é fácil se emicionar.
PRESTE ATENÇÃO: Os rituais praticados em Avalon foram reais e existiram durante muitos anos no planeta antes da ascensão do cristianismo, que os baniu e proibiu, chamando sacerdotisas da Deusa de bruxas e queimando-as em fogueiras. Ainda hoje praticantes de religiões chamadas de neo-pagãs costumam adaptar estes rituais para os nossos dias, numa forma de demonstrar respeito à natureza e aos elementos que a compõe como manifestação dos próprios deuses.
TRECHO: “E numa primavera, quando a terra estava linda diante de nós e as primeiras macieiras de Avalon estavam cobertas de botões brancos, Raven quebrou o silêncio com um grito, e, à força, minha mente voltou-se para as coisas daquele mundo que eu esperava ter deixado para trás para sempre”.
INDICADO ESPECIALMENTE: Para aqueles que acreditam que a magia é algo menos pragmático, mais natural e mais possível que as fórmulas prontas que estamos acostumados a ver em Harry Potter.

Ensaio sobre a cegueira
José Saramago

AUTOR: romancista português, Saramago tem um jeito único de narrar seus livros, escrevendo de uma maneira crua e intensa, que chega a assustar como uma pessoa sincera demais. Os temas de seus livros são polêmicos e procuram mostrar uma sociedade imaginária e as conseqüências de algum acontecimento imprevisto sobre os habitantes desse lugar. Normalmente as personagens não têm nome, são a mulher do médico, o médico, a mulher de óculos-escuros, o louco, a morte, e por aí vai, como num reflexo de que cada uma delas poderia ser nós mesmos, e a sociedade em que vivem ser também a nossa.
TEMA: Em Ensaio sobre a cegueira, um motorista parado no sinal subitamente se descobre cego. E não é uma cegueira comum, negra como a noite, mas sim branca, como se uma luz estivesse constantemente acesa e o impedisse de enxergar. Rapidamente a “treva branca” se espalha pela cidade incontrolavelmente. Aqueles que são acometidos pela doença são obrigados a viver em quarentena, e vão se descobrir reduzidos à essência humana, numa verdadeira viagem às trevas da humanidade, onde o que importa realmente é sobreviver a qualquer custo.
POR QUE LER: O mundo deveria ser obrigado a ler esse livro e entender que a sociedade pode caminhar para algo semelhante a essa pandemia, seja por conta de uma cegueira branca ou qualquer outra doença que assole o mundo moderno. O que importa em Ensaio sobre a cegueira é garantir a própria vida, e uma nova sociedade é obrigada a se organizar por detrás das paredes que os prendem em quarentena. É emocionante e revoltante a forma como os cegos passam a viver de maneira semelhante a animais, exatamente por não conseguir se organizar nesses novos tempos sombrios.
PRESTE ATENÇÃO: Na maneira como aqueles que não são atingidos pela doença tratam os cegos. É de dar pena e, ao mesmo tempo, causa angústia e revolta contra a sociedade hipócrita narrada no livro, muito parecida com a que vivemos. TRECHO: “Foi trabalhoso abrir a cova. A terra estava dura, calcada, havia raízes a um palmo do chão. Cavaram à vez o motorista, os dois policiais e o primeiro cego. Perante a morte, o que se espera da natureza é que percam os rancores a força e o veneno, é certo que se diz que o ódio velho não cansa, e disso não faltam provas na literatura e na vida, mas isto aqui, no fundo, a bem dizer, não era ódio, e de velho nada, pois que vale o roubo de um automóvel ao lado do morto que o tinha roubado, e menos ainda no mísero estado em que se encontra, que não são precisos olhos pra saber que esta cara não tem nariz nem boca.”
INDICADO ESPECIALMENTE: para aqueles que querem fazer a diferença no mundo, de alguma forma, e que se revoltam pelas questões sociais.
DICA: para quem gostar do estilo de Saramago, há outros livros fantásticos do autor, tais como Ensaio sobre a lucidez, Intermitências da Morte e O Evangelho segundo Jesus Cristo.

Auto-Engano
Eduardo Giannetti

AUTOR: Historiador das idéias, é formado em economia.
TEMA: A habilidade humana de enganar a si mesmo e sua incapacidade de conhecer a si próprio.
POR QUE LER: Pela maneira como Giannetti consegue, de maneira clara e inteligente, abordar um assunto que tende à auto-ajuda barata.
PRESTE ATENÇÃO: Em como o autor utiliza exemplos fortes; em como fala do método científico; e em como, além disso, suas notas ao fim do livro são tão interessantes quanto o texto propriamente dito.
TRECHO: “Ninguém suporta conviver com uma imagem eticamente repulsiva de si mesmo por muito tempo. O que ofende e agride os outros, visto de fora, torna-se inodoro e razoável quando é visto e vivido de dentro”.
INDICADO ESPECIALMENTE: Para quem gosta de filosofia bem exposta e instigante – e não se contenta com o discursinho lambe-bosta de livros de auto-ajuda.
DICA: Compre a versão em pocket book. O preço é mais barato.

O amante do vulcão
Susan Sontag

AUTORA: Célebre filósofa americana, é famosa por seus ensaios sobre arte.
TEMA: O triângulo amoroso constituído pelo Almirante Nelson, Emma e seu marido, sir William Hamilton, embaixador britânico no Reino das Duas Sicílias e vulcanólogo.
POR QUE LER: Pelo rigor de Sontag na caracterização das personagens e pela força com que o fim do século 18 surge.
PRESTE ATENÇÃO: Em como a narradora alterna pontos de vista com maciez; e em como ela filosofa em meio à narrativa.
TRECHO: “Na manhã seguinte a tempestade irrompeu com força total, e cada balanço do navio parecia mais extremo. As ondas chicoteavam o casco. O céu esbofeteava as velas. Os passageiros adultos faziam todas as coisas, em geral barulhentas, que as pessoas fazem quando acham que vão morrer –rezavam, choravam, caçoavam, sentavam-se de lábios cerrados”.
INDICADO ESPECIALMENTE: Para quem gosta de aventuras marítimas, exploração de cidades longínquas e histórias amorosas que não envolvem melodrama barato.
DICA: Procure pelo livro também em sebos.

Cem anos de Solidão
Gabriel García Marquez

AUTOR: Principal nome do “realismo fantástico”, foi laureado com o Nobel em 1982.
TEMA: A saga da família Buendía, o clã dos solitários e dos impetuosos senhores de Macondo.
POR QUE LER: Porque Márquez consegue pintar uma história familiar com a paleta carregada de tons melancólicos sem, com isso, despertar tornar a narrativa desinteressante.
PRESTE ATENÇÃO: Em como os nomes das personagens começam a se embaralhar ligeiramente. Os Buendía não são muito criativos na hora do batismo –e lá pelas tantas, é engraçado e desafiador descobrir de quem se fala.
TRECHO: “Haviam contraído, na verdade, a doença da insônia. Úrsula, que tinha aprendido da mãe o valor medicinal das plantas, preparou, e fez todos tomarem, uma beberagem de acônito, mas não conseguiram dormir, e passaram o dia inteiro sonhando acordados”.
INDICADO ESPECIALMENTE: Para quem deseja mergulhar numa leitura profunda, rica, hilariante, em que os mais fantásticos feitos são narrados como se fossem ordinários.
DICA: O livro completou 40 anos em 2007. Ganhou, nesta ocasião, uma edição comemorativa, em capa dura, com introdução de Mario Vargas Llosa. A tradução de Eliane Zagury, para quem quer ler em português, é maravilhosa.

Gostaríamos de informá-los que amanhã seremos mortos com nossas famílias
Philip Gourevitch

AUTOR: Correspondente da revista The New Yorker em vários países do “Terceiro Mundo”, é editor da revista Paris Review.
TEMA: O genocídio de Ruanda, em que um décimo da população do país foi exterminada.
POR QUE LER: Pela análise incisiva da mentalidade por trás do genocídio, pela amplitude de abordagem e pelas entrevistas, que ecoam narrativa afora, como num belo romance de exploração humana.
PRESTE ATENÇÃO: Em como Gourevitch remonta as cenas com esmero cinematográfico, sem perder o fundo testemunhal.
TRECHO: “Embora os assassinatos tenham sido executados com baixa tecnologia –geralmente com facão-, eles se consumaram com vertiginosa rapidez. Os mortos em Ruanda se acumularam numa velocidade quase três vezes maior que a dos judeus mortos durante o Holocausto. Foi o mais eficiente assassinato em massa desde os bombardeios atômicos de Hiroshima e Nagasaki”.
INDICADO ESPECIALMENTE: Para quem não se contenta com a cobertura esparsa, superficial e sensacionalista da imprensa ocidental; para quem deseja entender um pouco da África além-Egito-das-pirâmides.
DICA: O livro foi lançado em versão pocket.

Olga
Fernando Morais

AUTOR: Jornalista e escritor, Fernando Morais se destaca na área de biografias, com excelentes trabalhos de pesquisa e captação de informações por meio de arquivos, entrevistas e tudo o que ele consegue encontrar e absorver de suas personagens históricas. É um verdadeiro detetive do jornalismo atual.
TEMA: O livro narra a trágica história de Olga Benário, revolucionária alemã, judia e comunista, recrutada pelo governo soviético para proteger o revolucionário Carlos Prestes no Brasil. A narrativa começa na adolescência de Olga na Juventude Comunista de Berlim, passando pela vinda ao Brasil, o relacionamento com Carlos Prestes, e sua posterior deportação pelo governo de Getúlio Vargas quando estava grávida, até a morte em uma câmara de gás de um campo de concentração. História dramática e, pior, real.
POR QUE LER: Em meio aos acontecimentos da vida da própria Olga e de Carlos Prestes, o autor narra um período histórico importante para o Brasil: a fracassada insurreição comunista de 1935. É incrível como a história de Olga se mescla com a própria história do Comunismo no mundo, e como é possível conhecer mais sobre o assunto ao acompanhar a biografia de alguém que era tudo o que a Alemanha nazista abominava: judia, comunista e mulher.
PRESTE ATENÇÃO: Na carta enviada por Olga para Carlos Prestes antes de ser assassinada na câmara de gás do campo de extermínio de Bernburg. É de cortar o coração dos mais durões!
TRECHO: “Antes de tudo, meus agradecimentos pelas informações que me dás da Anita. Além de me tranqüilizarem a respeito da maneira porque vai passando a nossa pequena, elas são uma prova de que sentes tanto quanto eu, fortemente, o que significam para mim todos estes anos perdidos de ventura maternal. Gostaria de ver o retrato de que me falas. E nesse meio tempo já não terão sido sua tranças sacrificadas à tesoura? Neste mês, seu aniversário. Mas, pensando nos grandes sofrimentos de nossa época, mal ouso queixar-me da sorte que nos separa há tanto tempo já da nossa filha. Precisamos ter agora mais paciência ainda. Imagina tu que por aqui já temos neve, e eu penso com saudades no vosso sol brasileiro. Agora a gente trata de concentrar de novo, mais uma vez, todas as energias, pois estamos somente no primeiro de quatro meses mais a vir. Ao nadar, quando se tem de mergulhar para fazer um lanço, toma-se uma inspiração profunda e reflete-se sobre a possibilidade que se tem de vencê-lo. É semelhante o que se passa comigo por aqui.”
INDICADO ESPECIALMENTE: Para os que gostam de livros-reportagem e para aqueles que querem aprender mais sobre a história do próprio país de um jeito fácil e muito mais interessante do que os livros escolares.

1984
George Orwell

AUTOR: Pseudônimo de Eric Arthur Blair (1903/1950), foi um escritor britânico, mais conhecido pelas suas duas obras maiores, A Revolução dos Bichos e 1984.
TEMA: Trata-se de uma distopia, ou seja, uma utopia contrária que retrata uma sociedade totalitária e fortemente controlada pelos governantes através do Grande Irmão (Big Brother), onde até mesmo a mente é fortemente oprimida.
POR QUE LER: Para abrir a mente ao absurdo que a sociedade humana pode chegar, já que alguns fatos do livro são bem possíveis de se tornarem reais (e de fato alguns se tornaram).
PRESTE ATENÇÃO: À evolução rebelde que se projeta dentro do personagem principal desde que ele toma consciência de um único fato: que ele está morto.
TRECHO: “(…) Saber e não saber, ter consciência da completa veracidade ao exprimir mentiras cuidadosamente arquitetadas; defender simultaneamente duas opiniões opostas, sabendo-as contraditórias e ainda assim acreditando em ambas; usar a lógica contra a lógica, repudiar a moralidade em nome da moralidade; esquecer tudo quanto fosse necessário esquecer, trazê-lo à memória prontamente no momento preciso, e depois torná-lo a esquecer; e acima de tudo, aplicar o próprio processo ao processo. Essa era a sutileza derradeira: induzir conscientemente a inconsciência, e então, tornar-se inconsciente do ato de hipnose que se acabava de realizar”.
INDICADO ESPECIALMENTE: Para quem tem uma visão crítica da sociedade e se assusta com alguns atos dos governos tiran… opa, democráticos em geral.
DICA: Se estiver interessado, leia também A Revolução dos Bichos, um clássico também, que faz uma dura crítica ao socialismo e a revolução Russa.

Esperamos que tenham gostado das dicas. Conforme forem lendo, deixem aqui a impressão de vocês sobre os livros!

Boas leituras!
Equipe de colunistas