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O verdadeiro herói

Nossa nova colunista, Pâmela Lima, continua nossa área de Sátiras falando da tragetória de um dos personagens mais amados da série de Harry Potter: Ronald Weasley, o nosso querido Rony!

Essa coluna contém spoilers de Harry Potter and the Deathly Hallows, por isso, só leia se você não se importar em saber alguns detalhes da história ou se já leu o livro.

Você pode conferir a coluna completa aqui.

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SPOILER: O verdadeiro herói

Por Pâmela Lima

Há quem diga que Harry Potter é o grande herói da saga homônima. Ele é o mais corajoso, forte e poderoso. Eu, para variar, discordo. O herói, ao meu ver, é um certo ruivo sardento que sempre esteve ao lado de Harry, tanto nas batalhas quanto nos jogos de quadribol. Ao longo dessa coluna, pretendo explicar por que Rony Weasley é tão importante e tão heróico.

Mas quem é ele? Pode ser definido com poucas palavras que já explicitam parte da sua importânica; O melhor amigo de Harry Potter. Sexto filho em uma família de nove pessoas, pobre, desligado dos estudos, apaixonado por quadribol, torcedor do Chudley Cannons, imaturo até certa altura dos livros. Rony é apresentado em um dos primeiros capítulos de “Pedra Filosofal”, conhece Harry no trem que leva até Hogwarts, e aí já ensina a Harry a primeira lição que este recebe nos livros: Harry divide o que tem com alguém pela primeira vez quando reparte seus doces com Rony. Algo sem importância se olharmos com olhos adultos, mas pensemos em quanto isso foi importante para o próprio Harry, que nunca teve com quem compartilhar uma boa conversa ou uma boa caixa de Feijõezinhos de Todos os Sabores.

Ainda em “Pedra”, Harry encontra em Rony seu inseparável companheiro de aventuras e, de alguma forma, seu conselheiro. Draco Malfoy chama Harry para um duelo de bruxos e Rony, se mostrando destemido, se oferece para ser o “padrinho” de Harry, ficando no lugar dele caso ele morresse (o que não iria acontecer, de qualquer jeito). Depois Rony enfrenta um trasgo montanhês, executando com perfeição um Wingardium Leviosa, para salvar Hermione, que a partir desse ponto do livro se torna a melhor amiga dos dois garotos.

No decorrer do livro o trio descobre que Hogwarts guarda mais do que aparenta, e que Você-Sabe-Quem está atrás de Harry de novo. Rony ajuda nas pesquisas, mesmo que odeie bibliotecas. Pede para Harry não procurar o Espelho de Ojesed, pois fica preocupado. E, no fim, vai com Harry em busca da Pedra Filosofal e realiza o melhor jogo de xadrez bruxo dos últimos tempos, arriscando sua própria vida e ainda afirmando que aquilo era xadrez, então “precisamos fazer sacrifícios”.

Em “Câmara Secreta” Harry e Rony não conseguem passar a barreira que separa o mundo trouxa e a plataforma 9 ¾, que leva até o trem para Hogwarts. Então, novamente cheio de coragem, Rony dirige o carro voador de seu pai até Hogwarts. A varinha de Rony quebra e ele, como todo bom Weasley que sabe o que vai ouvir se pedir uma varinha nova, cola-a com fita adesiva. Essa varinha não teria mais chance nenhuma de funcionar, mas mesmo assim Rony tenta enfeitiçar Malfoy com ela pois Malfoy ofendeu Hermione. Rony se mostra leal aos amigos e mostra que sempre estará ao lado deles quando precisarem.

Alguns capítulos depois o maior medo de Rony é revelado: Aranhas. Hermione ri do amigo, incrédula que alguém tão corajoso como Ron tenha medo de animais tão pequenos. Mas Hermione é petrificada por um basilisco, e Rony, seguindo os conselhos de Hagrid, acompanha Harry até a Floresta Poribida e encontra aranhas gigantes. Ele não foge, pois Hermione depende da coragem dele para voltar ao normal. Aliás, é a ausência da amiga que faz com que ele crie coragem, como mostra o seguinte trecho:

“(…)contentou-se em rabiscar um bilhete para Rony: Vamos hoje à noite.
Rony leu o bilhete, engoliu com força e olhou de esguelha para a carteira vazia em que Mione normalmente se sentava. A visão pareceu fortalecer sua decisão, e ele concordou com um aceno de cabeça.”

Assim ele enfrenta o maior de seus medos, novamente em nome da amizade que existe entre ele, Harry e Hermione (embora, convenhamos, Rony e Hermione não é só amizade).

Em “Prisioneiro de Azkaban” Rony passa parte da história sem falar com Hermione, pois o gato de estimação da menina supostamente comeu seu rato. A amizade dos dois só é recomposta quando ele se propõe a ajudar Hermione nas pesquisas que libertarão Bicuço, o hipogrifo de Hagrid, da morte. Ele esquece a briga e o ódio que sentia da garota para ajudar um injustiçado. De quebra, ganha um abraço dela, que o deixa totalmente envergonhado.

Nesse mesmo livro o suposto bruxo das trevas, Sirius Black, persegue os garotos pela Floresta Proibida, e leva Rony para dentro do Salgueiro Lutador, quebrando sua perna. Com a perna quebrada, Rony consegue forças para se levantar, se pôr na frente de Harry e gritar para o assassino que, se ele quisesse matar Harry, teria que matá-lo primeiro. No final das contas Sirius Black não era tão mal assim. Rony mostra aqui que não se importa com as possíveis verdades ou mentiras, ele segue o que acredita e põe sua vida em risco por isso.

Em “Cálice de Fogo” Rony briga com Harry, pois acredita que este o passou para trás, pondo o nome no Cálice de Fogo e podendo assim participar do Tribruxo. Rony tem inveja de Harry e deixa isso explícito durante toda a briga, pois Harry é famoso, é poderoso e rico. Harry fica muito triste nesse meio tempo e começa a andar apenas com Hermione, mas a autora ressalta os pensamentos dele várias vezes, e ele pensa em quanto era melhor quando Rony andava com os dois, pois Rony fazia-o rir. Depois da primeira prova Rony vê que a vida dos participantes não é garantida e volta a ser amigo de Harry, em uma bela passagem em que a autora diz que Harry não queria ouvir as desculpas de Rony, mas queria Rony ao seu lado novamente.

Na segunda tarefa do Tribruxo o maior tesouro de cada participante foi levado para o fundo do lago. O maior tesouro de Harry era Rony, pois Rony havia se tornado seu irmão nos últimos tempos. Harry freqüentava a casa dos Weasley, adorava a comida de Molly Weasley, ganhava suéteres Weasley de Natal Se não fosse sua amizade com Rony, nada disso seria possível.

Logo depois da segunda prova é anunciado o Baile de Inverno, que no livro é uma passagem para mostrar que os personagens não são mais crianças. Enquanto Harry tem seus problemas com a bela Cho Chang, Ron tem problemas com Hermione. Depois da estúpida afirmação “Hermione, você é uma garota!” e de ter duvidado que ela tenha sido convidada para o Baile, Hermione se recusa a contar para Rony com quem ela vai. Rony acaba indo ao Baile com a corvinal Padma Patil, mas desanima totalmente quando vê que Hermione havia ido com Vitor Krum, seu maior ídolo no quadribol e participante do Torneio Tribruxo. Rony fica com ciúmes e discute com a garota, que no meio da discussão revela que queria que ele tivesse mais coragem e convidasse ela antes. Então, Rony só tinha medo de duas coisas: Aranhas e meninas (especialmente Hermione).

No quinto livro da franquia, “Harry Potter e a Ordem da Fênix”, Rony entra para a Armada de Dumbledore junto com seus melhores amigos e seus irmãos. Ele se destaca como um bom aluno e se mostra apto a lutar contra Voldemort e os Comensais da Morte. Quando Simas Finnigam diz que Harry está mentindo sobre Voldemort, Rony o defende, mesmo sendo muito amigo de Simas. Ele prefere ficar ao lado de Harry. Rony acompanha Harry na batalha do ministério, onde enfrentam muitos perigos, e depois tenta fazer com que Harry desabafe sobre a morte de Sirius. Agora, além do ciúme que sente de Hermione, Rony tem ciúmes de sua irmã mais nova, Gina, que se tornou bonita e popular entre os meninos. Ao final do livro Rony pede que Gina escolha melhor seus namorados, e olha de esguelha para Harry, mostrando sua aprovação para um possível caso dos dois. É também neste livro que Rony se torna o rei do quadribol, sendo inicialmente insultado pelos sonserinos mas conseguindo a taça do quadribol, fazendo com que seja exaltado pela Grifinória com o hino “Weasley é nosso rei”.

Isso abre caminho para os acontecimentos do próximo livro, “Harry Potter e o Enigma do Príncipe”, onde Rony não só melhora no quadribol como melhora suas relações com Hermione. Ele ainda mostra seu ciúme em relação a qualquer garoto que chega perto dela, e é convidado por ela para ir a festa do Clube do Slug (do qual ele não participa e o professor mal sabe seu nome) . Os tratamentos entre os dois começam a ficar mais gentis e amáveis, o que é totalmente destruído quando Gina conta para Rony que Hermione e Krum “deram uns amassos”. Rony sente-se traído, sendo ele o único do trio que nunca beijou ninguém. Depois de mais algumas discussões com Hemrione, Rony começa um pegajoso namoro com Lilá Brown, que termina por que ela tem ciúmes de Hermione (ciúme recíproco, diga-se de passagem).

Rony fica sabendo da profecia e apóia Harry, diz que irá com Hary a qualquer lugar que ele for. É aqui que eu queria chegar. Depois de muitos perigos corridos, de demonstrar sua amizade sempre que podia, de se pôr em frente a assassinos, Rony não abandona Harry.

Ele deu a Harry uma família (que provavelmente será sempre a família de Harry, já que este se mostra apaixonado por Gina), um amigo para todas as horas, provas de lealdade. Agora, vai acompanhar Harry em sua missão final. Não porque sua vida depende disso, como é o caso de Harry, mas porque ele sente que é isso que precisa fazer. Rony é invejoso, ciumento e levemente irresponsável. Mas é corajoso, forte e tão poderoso quanto Harry. E, ainda mais que Harry poderia ser, Rony é um herói. Ele tomará frente na guerra, não porque Voldemort é uma ameaça direta a ele, mas porque ele quer salvar sua família e amigos, porque ele não quer e nunca quis o mal de quem na merece. Isso é ser herói.

E quando finalmente chegou a vez de provar o quanto era herói, Rony se bateu de frente com seus dois inimigos mortais: A fome e Voldemort. Quando era preciso que Rony usasse o medalhão de Slytherin ele ficava volúvel e com muita raiva. E o fato de estar preocupado com a família que estava longe, com a aproximação de Harry e Hermione e sua exclusão, junto com a falta de comida fez com que ele abandonasse os seus amigos. Claro, logo ele se arrependeu e quis voltar, o que conseguiu graças ao apagueiro de Dumbledore. Dumbledore sabia como Rony era, mesmo que eles quase nunca se falassem, e não só porque Dumbledore era um mago incrível, mas porque Rony era transparente, não conseguia esconder seu jeito de ser. Dumbledore sabia que Rony iria desejar voltar para sua família para ver se tudo estava bem, se todos estavam vivos e com saúde. Mas sabia que Rony tinha palavra fixa e que ele sempre estaria ao lado de Harry quando Harry precisasse dele.

Na sua volta à companhia de Harry e Hermione, Rony destrói o medalhão que tanto lhe causou mal e salva a vida de Harry. Mas antes de conseguir destruir a horcrux foi torturado por ela, com cenas que até então só ele (e nós, leitores atentos) sabia que era seu maior medo, maior que o medo de aranhas: Harry e Hermione juntos, humilhando-o. Rony sempre se sentiu menor do que “O menino que sobreviveu” e a “bruxa mais inteligente de seu tempo”, e temia que os dois ficassem juntos, pois isso provaria que Harry realmente era melhor que ele em tudo. Mas mesmo sentindo-se pequeno e as vezes humilhado pela fama dos amigos, Rony continuou ao lado deles.

No fim, Rony consegue tudo o que queria. Vence na batalha contra Voldemort, mesmo passando pela dor de perder seu irmão Fred. Casa com Hermione, que se declarou a ele (podemos considerar uma declaração um beijo que acontece do nada) quando ele mostra que tem tantos sentimentos bons quanto ela. E, para completar, vira auror, o emprego dos seus sonhos, onde seu chefe é Harry. E novamente tendo Harry como um “superior”, Rony não liga para comparações. Ele ajuda Harry e Hermione a criar um mundo melhor para bruxos e trouxas. Passando por cima de títulos ou condecorações, como ele sempre fez. Isso faz dele melhor do que qualquer um.

Pâmela Lima é estudante.