Artigos

A influência da Cabala em Harry Potter

Nossa colunista Sonia Manzoni continua nossa área de Crônicas, com uma análise sobre a influência da Cabala nos livros de Harry Potter.

São vários aspectos místicos e até mesmo religiosos que influenciaram as idéias da autora tanto quanto a mitologia e a história inglesa, como a grande maioria dos fãs já está acostumado a desvendar.

Você pode conferir a coluna completa aqui.

Deixe seu comentário e feedback, é importante para nós e para o autor. Se quiser, sinta-se livre para comentar a coluna em nosso Fórum.

A influência da Cabala em Harry Potter

Por Sonia Manzoni

Já faz algum tempo que não contribuo com o Potterish, por isso quero começar o meu texto me desculpando com os leitores pela ausência. Para me desculpar devidamente, eu quis procurar um tema diferente, pouco discutido e a respeito do qual eu mesma não tenho grande conhecimento: a influência da cabala em Harry Potter.

A idéia partiu de um comentário feito na internet (não me lembro o site). Procurei conhecer um pouco os princípios que regem a cabala, mas quero frisar que ninguém se torna especialista em um assunto porque consultou três ou quatro sites. Assim, se houver algum erro ou deturpação em meus comentários, por favor, corrijam-me. Tentarei também tomar cuidado para não me aprofundar em um assunto tão complexo, apenas desejo partir dele para discutir nosso tema preferido.

A árvore da vida é um elemento central na cabala mística. Ela atua como um mapa para a iluminação espiritual e para o despertar da consciência em planos mais elevados. A árvore da vida é composta por dez sephiroth que representam a vontade de Deus, a sabedoria, a compreensão, a graça, o poder, a harmonia, o triunfo, a glória, a fundação e o reino (nessa ordem).

São traçados, através desses sephiroth, vários itinerários diferentes de elevação ou de queda: o caminho dos anjos de Elohin (lento e longo), o dos anjos da destruição, o do santo e o do bruxo. Basta falar sobre os dois primeiros para que se consiga enxergar a relação com HP. O caminho dos anjos de Elohin passa pela vontade de Deus, a sabedoria, a graça, o triunfo, a fundação e o reino. Já o caminho dos anjos da destruição passa pela vontade de Deus, a compreensão, o poder, a glória, a fundação e o reino. O ponto de partida e chegada é o mesmo, mas o primeiro caminho exclui os elementos negativos e o segundo exclui os elementos positivos. Os outros dois trajetos passam por todos os sephiroth, mas em ordem inversa. Encontraram alguma coincidência com a história de Harry Potter e seu opositor?

Acredito que o caminho de Harry é o caminho do santo, pois atravessa os aspectos positivos e negativos de sua personalidade em direção a seu amadurecimento que é, de certa forma, espiritual. Quanto a Voldemort, parece-me que ele segue o caminho dos anjos caídos, visto que descarta em sua trajetória (de queda) qualquer elemento positivo. (Ainda estou refletindo sobre esse último comentário)

Esses caminhos traçados pelos personagens certamente comprovam a influência da cabala, mas, a meu ver, a maior e mais explícita evidência é o próprio amadurecimento do adolescente, do personagem e da série como elaboração literária, todos em movimento de ascensão.

É indiscutível que há uma trajetória de elevação moral na história do protagonista, que se desenrola ao longo dos sete livros. O número sete tem, para os adeptos da cabala, o significado de consumação, conclusão de um ciclo, retorno a si mesmo, por isso a saga de HP só poderia ser contada em sete livros, os quais mostram o amadurecimento de um menino que cresce como ser humano, aprendendo com as perdas; e cresce como bruxo, descobrindo, no tempo certo, a usar o seu poder.

O próprio texto evolui. Não quero dizer com isso que os últimos livros têm mais qualidade que os primeiros, apenas defendo que a história se torna mais complexa, à medida que Harry cresce.

Vou usar um único exemplo para confirmar minha posição: a dúvida que paira sobre o personagem Snape. O tema da inocência de Snape é bastante polêmico, exatamente porque J.K colocou, ao longo dos livros, vários sinais que sustentam a inserção de Snape entre o grupo dos mocinhos e o grupo dos vilões. Ela construiu o personagem com tamanha ambigüidade que é impossível saber hoje a quem ele é fiel. Essa ambigüidade é prova contundente da riqueza e complexidade que o texto de J.K alcançou. Na verdade, chego a desejar que ela não seja desfeita no último livro.

Sei que não esgotei o assunto que me propus a discutir, mas como o texto já está bem grande, termino aqui. Quem quiser criticar, concordar, discordar ou corrigir, por favor, comente. Até a próxima.

Sonia Manzoni é professora de português.