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O verdadeiro Dumbledore

Em sua sétima coluna João Victor escreve sobre o enigmático Professor Dumbledore, mas não aqueles do livro, mas sim os atores que representaram ele nos filmes.

Você pode conferir a coluna completa aqui.

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O verdadeiro Dumbledore
Por João Victor

Ainda que tardiamente, gostaria de analisar Dumbledore. Não, não vou analisar o personagem de nariz torto, dedos longos e óculos meia-lua retratado nos livros, mas sim a mudança de atores ocorrida após o segundo filme.

Como todos sabem o grande ator Richard Harris faleceu em outubro de 2002, algum tempo depois de sua participação em “Harry Potter e a Câmara Secreta”. Isso obviamente deu aos produtores e a equipe de elenco um trabalho a mais (e bem complexo): buscar um ator para substituir Harris no papel do diretor de Hogwarts.

Como a cada filme envolvendo novos personagens, muitos nomes foram cogitados. Todos os nomes cogitados eram sempre britânicos, pois todos sabemos da preferência tanto da autora como dos produtores, por atores e atrizes britânicos.

O nome mais latente era de Ian McKellen, o Gandalf de “O Senhor dos Anéis”. Além de toda a semelhança física de Gandalf e Dumbledore, assim como Harris, McKellen ficou conhecido pelas suas diversas interpretações de personagens clássicos como os de Shakespeare. Mas, se houve realmente o convite, ele não fora aceito. Talvez justamente pela semelhança da aura feiticeira dos personagens ou mesmo pela agenda de atividades do ator, que coincidia com toda a produção de “O Senhor dos Anéis e o Retorno do Rei”.

Eis então que surge Sir Michael Gambon. Um ator Irlandês, que também fez diversas aparições em peças clássicas shakespeareanas (no início de carreira uma delas com a própria Dame Maggie Smith, ou Minerva McGonagall, em Othelo de 1965). Mas, no geral, ele pôde ser visto em papéis mais significativos em séries feitas para TV.

As primeiras fotos surgidas com o passar dos meses de gravações foram revelando as nítidas mudanças. Um Dumbledore de cabelos mais curtos e ondulados, barba mais curta e presa por uma correntinha, seu chapéu não era mais pontiagudo, e muitas e muitas vezes era visto sem seus típicos óculos meia-lua. Somando a direção de Cuarón, que fez ‘revoluções’ em todo filme, houve uma mudança enorme em suas vestimentas, antes roxas ou vinho e de mangas longas, eram agora cinzas e de mangas justíssimas. Sua voz anasalada e disposta também me soou distante daquela rouca e serena voz de Harris.

Serenidade. Talvez seja essa a grande característica que falta na essência de Gambon como Dumbledore. Principalmente em “O Cálice de Fogo” vemos um Dumbledore agitado, nervoso, muitas vezes quase à beira de um ataque de nervos. Em uma cena do quarto filme, vemos Dumbledore entrar na Sala de Troféus, após o nome de Harry ser cuspido do Cálice de Fogo. Dumbledore avança – literalmente – para cima de Harry, o agarra pelos braços e o sacode afim de arrancar uma resposta do garoto. Não. Realmente não vejo Harris fazendo assim. Assim como não vejo Dumbledore agindo assim.

Não quero dizer contudo que Gambon não tenha talento. Pelo contrário, não tenho técnica nenhuma de direção ou atuação que me leve questionar seu talento. Mas tenho hoje 6 livros completos na cabeça e posso afirmar, Dumbledore de verdade, é Richard Harris. Ele é o Dumbledore de Rowling. Um tom de voz sereno, ao mesmo tempo firme. Impõe respeito apenas com gestos ou apenas com um olhar.

Acredito que a mudança de direção tenha sido, em grande parte, a responsável por isso. Cuarón fez mudanças estruturais irrecuperáveis em todo o filme. Acredito que se Newell tivesse entrado no terceiro não teria feito mudanças tão chocantes. Dentro de uma análise acho fundamental a visão de Cuarón na mudança psicológica dos adolescentes, assim como o tom sombrio em grande parte do filme. Mudar estruturalmente a cabana de Hagrid, o Salguerio lutador, ou até mesmo o uniforme das crianças é até um certo ponto aceitável, mas alterar as características básicas de um personagem fundamental na trama é quase que imperdoável.